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Após esse acontecimento, Rhaenyra precisou se manter forte para assumir o controle das coisas. A herdeira convocou as irmãs silenciosas, que imediatamente organizaram os rituais funerários para Rhaenys, já que Visenya estava extremamente cansada, fraca, triste e furiosa. Muitas velas foram acesas no espaço religioso, e a princesa que nunca tinha sido foi envolta em seda branca e fina para ser velada.

Visenya e Rhaenyra permaneceram lá dentro o tempo todo, mesmo depois que todos entraram e saíram. Com dificuldade, Rhaenyra conseguiu fazer sua filha tomar banho e descansar. Não havia mais nada a ser feito naquele dia, exceto sentir a tristeza pela morte de sua amada neta, que nem teve a chance de viver por culpa do próprio pai.

E aquela foi a noite mais triste da vida de Visenya, que não conseguiu dormir de jeito nenhum. Sentia-se traída, usada, usurpada. Ela estava afundando em um profundo e obscuro abismo, do qual tinha medo de não conseguir escapar. O fogo ardia em seus olhos inchados de tanto chorar, sua voz estava rouca de tanto gritar por três longos dias. Visenya sentiu a ira queimar em seu sangue. Uma guerra estava por vir.

Ela desejou poder voltar no tempo e, em vez de se apaixonar por Aemond, ter arrancado seu único olho restante. Lágrimas surgiam em seus olhos toda vez que ela recordava seu rosto, sua voz, seus beijos. Tudo era mentira, tudo era falsidade. O sabor da traição era amargo mas era o gosto da vingança que ela queria sentir. E no dia seguinte, quando tudo já estava pronto para o velório da bebê e toda a família já aguardava do lado de fora, Visenya decretou:

— Não haverá velório.

— O que? - Rhaenyra franziu a testa, aproximando-se. — Minha filha, ela precisa ser cremada. Eu sei o quanto você a amava mas...

— Não irão queimá-la.

  Disse Visenya, caminhando em passos lentos mas firmes em direção ao pequeno cadáver de sua filha enrolado em panos. Sua mãe, seu padrasto e irmãos olhavam com pena para ela, acreditando que toda aquela relutância era por Visenya não aceitar a morte da filha.

— Eu a mandarei para Aemond - Disse ela, friamente. Automaticamente, a expressão de sua família se tornou assustada. — Eu sei que minha filha merecia um velório decente mas eu quero que o Aemond saiba...quero que tenha consciência do que fez, porque ele matou a nossa filha. Ele.

— Nya...

— Deixe que ela mande - disse Daeron, se intrometendo. — Aemond precisa ter noção do estrago que causou. 

  O ódio era evidente nos olhos de Visenya de tal forma que chegou a assustar seus irmãos. Rhaenyra não contestou mais, entendia a raiva de sua filha e sentia o mesmo por seu irmão mais novo, o qual havia acolhido com tanto carinho em seu lar quando ele e Visenya se casaram. Malditos traidores. Logo em seguida, a princesa Visenya entregou sua filha morta nas mãos de um de seus homens de segurança.

— Leve isto para Porto Real e faça com que seja entregue nas mãos do príncipe Aemond.

  Quando o homem saiu, Visenya olhou em volta, se surpreendendo ao se deparar com uma pessoa que não pertencia à sua família. Cregan Stark. Ele havia mudado mas Visenya ainda podia reconhecer os doces olhos do Lorde, que naquele instante, a encarava com tristeza e pena. Eles não disseram nada um para o outro, apenas se olhavam como se pudessem conversar por meio de seus olhos.

Mesmo sem o corpo da princesinha, velas foram acesas com dificuldade no local já que ventava muito. Meistres, irmãs silenciosas e criadas se aproximaram proferindo ritos fúnebres e pedidos para que os deuses recebessem a bebê Rhaenys nos Sete Céus e para que concedessem à princesa a bênção de ter mais filhos. Mas Visenya não queria outros filhos, ela queria Rhaenys. Desde que se descobriu grávida, Visenya passou por muita coisa. Negação, medo, tristeza... até perceber o quanto amava a criança que carregava. Rhaenys Targaryen, a princesa que nunca foi, havia sido uma menina muito desejada por sua mãe a qual ela sequer teve a chance de conhecer. E enquanto os ritos eram ditos em alto e melancólico som, Visenya acariciava a própria barriga, como se a bebê ainda estivesse lá.

𝐆𝐀𝐌𝐄 𝐎𝐅 𝐒𝐔𝐑𝐕𝐈𝐕𝐀𝐋 • 𝐡𝐨𝐮𝐬𝐞 𝐨𝐟 𝐭𝐡𝐞 𝐝𝐫𝐚𝐠𝐨𝐧Onde histórias criam vida. Descubra agora