capítulo setenta e sete: será?

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Carol

Acordei escutando alguém me chamando altão na porta, levantei respirando fundo, tentando entender o que tá acontecendo, mas olhei pro lado oposto da cama, vendo se o babycria tá vivo ou morreu esmagado por mim. Pedrinho ainda tá dormindo, mas coloquei uns travesseiros pra ele não cair da cama. Falo sobre esmagar, mas meu maior medo é esse, então tenho muito cuidado em dormir com ele, sem dizer que tem chances dele cair da cama.

Desci da cama, pegando meu celular e levando ele junto, indo até a porta da sala pra ver quem tava me chamando igual um doido. Completamente sonolenta, escutei meu celular tocando na minha mão, o que me deu um susto do caralho pelo barulho e pela vibração do nada, fazendo eu derrubar meu celular no chão. No mesmo momento, bati em alguma coisa, levando meu corpo pra frente, sentindo uma porrada forte na minha testa e um barulho vindo meu celular que ainda tava caído no chão, com a tela ligada com uma ligação.

Carol: Merda do caralhinho.- Resmunguei baixo, colocando a mão na testa, pegando o celular do chão que ainda tava tocando alto e a foto do Ruan sobressaiu na tela com a luz máxima na minha cara. Revirei os olhos, semicerrando-os, atendendo a ligação do Ruan e colocando em voz alta, logo ouvindo alguns sons com várias vozes, uma música alta e uma risada feminina que parecia ser por perto.

Não sei se é ele batendo na porta igual um louco, óbvio que não é, mas se for, eu vou matar ele. Coloquei o celular no ouvido, esperando escutar um fio de voz dele na porta ou na ligação, mas não escutei nada, só sons aleatórios saindo. Mas essa voz que tá me chamando na porta não é do Ruan nem fodendo, tá estranho, não vou atender enquanto ele disser que é seguro, vai que dá merda e me sequestram? Tô conspirando já pra não me pegarem de surpresa.

Carol: O que foi? - Falei alto, perdendo o resto de paciência que tinha.
Perigo: Põe uma camisa pra atender o moleque que eu mandei levar teu lanche aí, namoral. É o Orelha.
Carol: Por que você não tá em casa?
Perigo: Tô resolvendo um bagulho aqui na boca, daqui a pouco eu subo.
Carol: Ata, na boca com esse tanto de som aí? Não mente. Você vai na resenha com o Yuri? Se você for, leva o Pedrinho pra Luana em casa, ele tá muito mal por causa dos dentes que tão crescendo e, quando ele acordar, vai acordar chato e chorando.
Perigo: Eu vou voltar, amor.
Carol: Ruan, tô falando sério... Eu não sei nem o que fazer com ele com dor perto de mim.
Perigo: Eu vou voltar, papo reto.
Carol: Se você quiser ir na resenha com eles, suave. Só tô falando pra você levar ele caso fique por aí, ele não tá bem e eu não sei medicar bebês e muito menos o que é pra fazer sobre isso. Você sabe que ele é sua responsabilidade, então eu vou ficar até você voltar, mas é pra você voltar mesmo. Se não voltar, eu vou ficar puta.
Perigo: Eu vou voltar, amor... Tô mandando o papo reto mermo, tá suave, ela até pediu pra eu levar ele de volta.
Carol: Tá, vou atender o garoto aqui.
Perigo: Bota a camisa, ein, porra. Te amo, gostosa.

Acabei sorrindo quando o Ruan desligou a ligação. Por um lado eu sei e acredito que ele vai ficar lá e que ele vai beber com os garotos, Ruan acha que todos esses anos que a gente cresceu juntos não serviu de nada. Mas por outro lado, eu espero que ele seja responsável e não faça isso. Ruan virou pai e, enquanto continuar vivendo a vida assim achando que criança só serve pros momentos bons, ele não vai aprender e não sou eu quem vou ensinar isso até porque nem filho temos juntos.

Peguei a camisa dele que tava em cima do sofá, colocando a camisa e abrindo a porta, vendo o Orelha com uma cara não tão boa, pior que conheço ele faz tempos. Pretinho, olhos baixinhos e uma expressão de puto, chega a ser engraçado porque ele é um bobo posturado. Tem uns vinte anos nas costas, mas a cara é de novinho, vive por aí vivendo a vida dele na suavidade, mas não usa drogas e muito menos bebida. Ele é da maconha e de uns pensamentos loucos aí, todo piroca da cabeça sem nem usar nada.

Orelha: Porra, filhona, quase mandei uma carta pra você, só assim pra se comunicar - Soltei uma risada alta, puxando a sacola da mão dele.- Nunca mais faço corre nenhum aqui pela tua casa ou por perto, papo reto, mulher demora horrores.

Carol: Tá tão rebelde ultimamente, Orelha.- Dei um tapão na cabeça dele, escutando o garoto resmungar e xingar até a minha próxima geração, enquanto eu só sabia rir dele.- Tá sumido por qual motivo? Você vivia parado aqui por perto de casa e agora meteu o pé.

Orelha: Seu maridinho me mandou pra outro morro, até hoje tô magoadão com ele por isso, no papo.- Falou baixo, passando a mão onde eu bati nele, mas só por graça mesmo, nem foi forte. E eu duvido que ele não tenha feito nada.- Só porque eu falei que queria fazer a contenção da tua casa pra ficar vendo a beldade que tu é. Aí o mano se revoltou do nada e fez essa covardia comigo.

Carol: Ai, Orelha, quero saber quando você vai sossegar nessa vida - Cruzei os braços achando a maior graça desse assunto.- E até agora não arrumou uma namorada?

Orelha: Não tô afim de me envolver com ninguém, minhas metas são outras e eu tô novo. Meu bagulho é aproveitar a vida que tô tendo na maior loucura, vai que amanhã eu morro e nem saudades deixo - Prendi uma risada e ele sorriu de lado, coçando a cabeça.- Estando solteiro não posso fazer um ménage, tem mulher que surta.

Carol: Por que vocês que são bandidos sempre querem várias mulheres? É uma questão muito grande pra mim, é raro ver um bandido com uma mulher só, sem dizer que a maioria apanha só de olhar pro lado - Neguei com a cabeça, vendo ele arquear a sobrancelha, se encostando na porta ao lado.

Orelha: Infiel eu não sou, só quero ficar com todas que eu me interessar, é por isso que não quero me envolver em namoro. E nem bato em mulher, minha mãe morreu mas deixou a educação que é um bagulho primordial pra mim.- Deu de ombros.- Se um dia eu encontrar uma Orelhinha que me deixe apaixonadão igual tu fez com o mano Perigo, eu até caso. Fora isso, tô suave!

Carol: Vai que esse dia esteja mais próximo que você imagina?! - Ele fez careta e eu ri, ajeitando a sacola na minha mão direita.- Tu sabe onde o Perigo tá?

Orelha: Marcou pela boca, daqui a pouco tá metendo o pé já, resenha hoje.- Balancei a cabeça, pensando em algumas coisas que eu espero que não aconteça.- Vou meter o pé já, minha Carolzinha, outro dia marco daqui contigo pra conversar sobre a vida. E, papo reto, Perigo chegou primeiro mas era pra tu estar apaixonada era em mim, ô desgraçada.

Carol: Deixa ele escutar isso que tu acabou de falar, Orelha... Deixa, ele tira a sua língua, Perigoso é muito ciumento com a sua linda mulher - Falei na mesma graça que ele, vendo ele mandar beijo, se afastando da porta, mas pertinho de mim ainda.- Você é muito idiota, vê se não some.

Orelha: Se ele tirar minha língua é muito marola, vou te beijar como? - Dei dedo pra ele, escutando a risada alta do Orelhas, só fechei a porta e deixei ele falando sozinho, maior drogado sem droga.

Respirei fundo, trancando a porta, levando a sacola até o escuro do meu quarto. Vi o babycria dormindo na mesma posição e fiquei até mais aliviada por ele ainda estar dormindo. Abri a minha sacolinha, sentindo o cheiro do meu hambúrguer e da minha batata maluca favorita da vida, mas real embrulhou muito o estômago, me dando uma sensação horrível de enjôo e uma puta vontade de vomitar. Pior que eu tava com tanta vontade de comer desde anteontem e hoje o Ruan diz que iria comprar pra mim.

Deixei a sacola de lado e peguei minha garrafa de água, bebi um pouquinho e, quando senti o cheiro de novo, corri até o banheiro ao sentir o vômito na garganta, levantando a tampa do vaso na mesma hora, sentindo meu estômago ir junto com o tanto de tanto vômito e enjôo tão do nada agora. Não tô entendendo mais merda nenhuma, mas uma sensação de medo percorreu meu corpo por escutar uma voz fininha e uma coisinha sequer no fundo do meu consciente. Será?!

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agora todo mundo surta 🙈

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