capítulo oito: maternidade e luto

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MARIA FERNANDA.

Minha vida nunca foi fácil, antes eu vendia meu corpo pra ter o que comer e sempre fui julgada por isso, eu tinha dezesseis anos na época. Eu ainda era uma criança aos meus olhos, mas pro mundo eu era uma mulher. A vida não foi gentil comigo, ninguém foi, na verdade.

Na minha mente eu sabia o que estava fazendo, porque não tive mãe ou pai pra me apoiar antes. Eu fiz tudo que eles queriam a minha vida toda, mas por um dia ter ido contra a vontade deles, matado um dia de aula e ter ido dormir na casa da minha amiga, eles surtaram.

Eu nunca tive amizades, era uma coisa nova, ela me convidou pra ir pra baile e nós só passamos na frente, depois fomos pra casa dela e dormimos lá. No dia seguinte acordamos com barraco, meus pais me levaram pra casa arrastada, nisso eu ainda tinha quinze anos.

Minha família, ou o que era pra ser uma, me expulsou de casa na primeira oportunidade e eu não tive o que fazer além disso. Eu tive que me sentir suja, mesmo não sabendo fazer metade daquelas coisas, eu fiz. Tive que aprender, conheci todo tipo de homem naquele lugar.

Eu implorava pra voltar, mas eles nunca o fizeram. Sofri pra caralho por isso, essa amiga não podia me deixar morar lá porque ela também tinha pais como os meus. E meus pais sempre foram conservadores, mas eu nunca fui contra as coisas que eles escolhiam pra mim. Só porque vacilei uma vez eles me chamaram de vagabunda e me expulsaram de casa.

Fiz dezesseis e de quebra comecei com a vida na rua. Quando perguntavam a eles quem eu era, meus pais simplesmente diziam que não me conhecia, que eu não era filha deles e várias outras coisas. Eu não sabia que isso ia doer tanto em mim, mas quando descobri isso, chorei como uma criança.

Antes vivia na rua por não ter o que comer, onde morar. Era foda, mas eu nunca desisti de ter uma vida melhor. Até que o Vinícius apareceu pra mim, ele fez toda diferença que um homem não fez na minha vida, nem meu próprio pai.

Eu já era uma das prostitutas de uma casa que tinha pelo outro morro, isso era quando eu tinha dezoito já. Ganhava meu dinheiro, era humilhada todos os dias, mas ainda sim era melhor do que morrer na rua de fome, frio, sede ou qualquer outra coisa.

Eu me sentia mal por aquilo, odiava meu corpo, minha mente me maltratava todos os dias e eu fiz questão de nunca mais chegar perto de um baile novamente, juro mesmo. Nunca fui e nem vou, tudo aquilo aconteceu por uma fofoca e acabou com toda minha vida.

De cara eu e Vinícius não nos gostamos mesmo, ele vivia mexendo comigo quando eu passava, esse cara era ridículo. Eu nem dava confiança, bandido daqueles e eu com meus dezoito nas costas, não ia mesmo me envolver e estragar o resto de vida que eu tinha.

Até que um dia fomos na mesma festa, ele veio cheio de graça implicando comigo e entrei na dele. Ficamos por um bom tempo, Vinícius queria me assumir pra todo mundo e eu tinha medo, porque o corre que eu fazia era errado pra caralho.

E ele sabia disso tudo! Desde o começo fui sincera e contei minha história pra ele que me acolheu e nunca jogou isso na minha cara. Eu amava aquele homem de uma maneira que ninguém iria entender, só nós dois.

Ele me assumiu e obviamente teve várias fofocas, ele nunca acreditou em nenhuma, sempre conversamos sobre isso. Ele me acolheu como nenhum outro homem fez e aquilo era uma coisa nova, porque eu não tinha ficado com um homem por pura vontade, era tudo escolhido pelos outros.

Eu parei com tudo no mesmo momento que ele disse que não precisava mais disso, foi a melhor coisa da vida, eu nunca gostei daquilo. Arrumei um trabalho melhor que ele achou pra mim pelo morro e ficamos naquilo, até eu engravidar.

De primeira eu surtei, surtei pra caralho! De fato eu nunca quis engravidar, nunca me imaginei criando uma criança. Eu usava camisinha e tomava anticoncepcional, mas como todo cuidado é pouco, eu tive que engravidar, né?!

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