Vida Bandida.

capítulo oitenta e quatro: filho

Maria Fernanda
QUATRO DA MANHÃ

Escutei um barulho alto fora do quarto e levantei a cabeça no susto, sonolenta até demais, sentindo a maior preguiça de todas me dominar por inteira aos poucos. Mas no mesmo momento fiquei super preocupada, lembrando do Theo doente ou é provável que ele tenha caído da cama. Levantei em um pulo, indo no quarto dele que é perto do meu, mas só vi meu filho dormindo calmo como sempre. Pelo menos dormindo ele é calmo...

Estranhei que não era ele, então fui até a sala que é perto do quarto, escutando uma voz masculina gritando pelo meu nome na porta. Me aproximei mais e, aos poucos, fui reconhecendo essa voz. 2R. Fechei forte os olhos, tentando entender o que tá rolando de madrugada e o motivo dele estar aqui uma hora dessas, nem sei que horas são, só sei que tá muito de madrugada. Abri a porta da sala sem entender nada, mas preocupada, vendo o rosto dele diferente de hoje cedo, mas não tem cheiro de bebida.

2R: Não adianta me seduzir com essa cara de sono aí não, mas tá gatinha pra caralho.- Revirei os olhos, aliviada por ele estar bem ou aparentar isso, encostando no batente da porta, vendo ele sorrir de lado ao falar com a voz bem arrastada. 2R tá bêbado.- Quero fazer uma coisa, eu posso?

Maria: Não, você tá bêbado e tá tarde.- Falei baixo, cruzando os braços na mesma hora quando ele negou com a cabeça. 2R virou o rosto, passando a mão na nuca, depois me olhou rindo do nada, o que deixou os olhos dele baixinhos. Ele sorrindo consegue ser outra pessoa que quando tá sério e eu não sei qual mexe mais comigo.

2R: Tô bebado mermo, mas não esqueci de hoje, não esqueci o aniversário dele - Eu fiz uma careta, pronta pra falar pra ele voltar um pouco mais tarde, que é quando o Theo vai estar acordado.- Eu prometi que ia falar meia noite, mas não consegui porque a mãe dele é chata e me expulsou, disso aí eu lembro também.

Maria: Claro que lembra.- Falei irônica, rindo da cara dele de idiota. 2R negou com a cabeça, coçando os olhos, depois tentou se escorar ali, mas quase caiu e meteu com a cara no chão, então segurei a camisa dele na mesma hora.- Você vai acordar o meu filho e ele não tá muito bem, volta mais tarde, ele vai ficar feliz de te ver.

2R: Quero mais tarde não, quero agora mermo, encosta.- Arqueei a sobrancelha pela teimosia dele. 2R bateu as mãos no bolso, vendo se o celular tava ali e deu na minha mão, respirando fundo e jogando a cabeça pra trás.- Posso me envolver não, tenho medo, Maria Fernanda. Mas você sabe que mexe comigo, talvez até mais do que deveria.

Sorri fraco, espremendo os olhos. Não pode ser agora o momento de falar essas coisas, eu gosto dele um pouquinho, mas isso não deveria acontecer entre nós dois, eu já deixei claro que é só sexo é nada mais que isso.

Maria: Aham, também tenho.- Murmurei e ele balançou a cabeça, me olhando torto, mas não se moveu e o motivo é simples: ele cairia de cara no chão.- Se não morrer de tiro, morre de cirrose. Complicado sua vida, todo dia um atentado diferente contra ela.

2R: Filha da puta, desgraçada, gostosa, linda...- Prendi o riso quando ele contou nas mãos e riu junto comigo, abrindo os olhos pra me encarar. Neguei com a cabeça e o 2R ficou me encarando em silêncio, igual eu, só quietinho na dele.- Isso que é foda, me amarro no teu cabelo, pretinha.

2R passou a mão no meu cabelo que soltou quando levantei, prendi mal. Tá todo feio e embolado, faz dois dias que eu não lavo e tá todo oleoso. Respirei fundo, sentindo a mão quente dele passar pelo meu pescoço e eu me forcei a ficar calada, dando um tapa na mão dele pra não começar com essa putaria de me agarrar de novo e eu não conseguir dizer não de novo.

Eu sei que ele vai insistir até conseguir que eu deixe. Fofoqueiro do jeito que é, vai falar pro Theo que não deixei ele ver o meu filho, aí ele vai ficar jogando piada e eu vou dar nessa cara linda dele. Theo vai ficar me olhando com os braços cruzados e vai perguntar “é, mamãe?" e não preciso de muito pra saber disso, conheço minha cria e, mesmo que não queira, conheço o mínimo desse aí.

2R: Aniversário do meu filho, eu quero falar com ele.- Soltei uma risada quando vi ele bater o pé igual o Theo faz quando quer muito alguma coisa e eu não dou. E quando fui raciocinar a frase, quando entendi que ele chamou o Theo de filho, fiquei olhando pra ele que sorriu de lado, balançando a cabeça ao som de uma música alta que vem do baile.- Você... Porra! Você é muito linda, sai da minha frente pra eu não meter um beijão na tua boca bem agora. Deixa eu ver meu filho, papo de cinco minutos, só um abraço no menor mermo ele dormindo.

Dei espaço pra ele passar, ainda pensando nele chamando o Theo de filho duas vezes e o quão fofo isso foi, tão espontâneo que eu fiquei real surpresa. Acabei sorrindo, seguindo ele que parecia que ia cair, mas parou de andar, me olhou, riu e voltou a se equilibrar, andando até o quarto do meu filho que tá com a porta aberta.

Fafá entrou no quarto dele com cuidado, fiquei parada na porta olhando tudo, até o momento que ele agachou, parando do lado da cama do Theo. Ele parecia estar falando baixo várias coisas, respirei fundo, me sentindo minimamente bem por isso, por saber que amanhã meu filho vai acordar melhor do que em todos os anos que tentei fazer ele melhorar e sozinha não consegui.

2R: Aí, Theo, tu me tornou uma pessoa melhor mermo, papo reto. Queria ter te conhecido antes, queria ter sido teu pai ou algum bagulho assim.- Acabei rindo, talvez eu entendi, mas não sei ainda se realmente entendi.- Vou te proteger de tudo até eu não estar mais vivo, o papo mais louco é que eu sempre fui egoísta com tudo, não ligava pra ninguém além dos meus aliados, mas eu daria minha vida pela tua e a do meu outro filho. Queria te deixar, levar, porra... Afastar, é, esse caralho aí mermo, te afastar de tudo de ruim no mundo, essas maldades aí, até porque tua inocência é ouro. Toda vez que eu chego perto de tu é uma felicidade do caralho, nós brinca e parece até que ficou mó tempão longe, primeira vez que me senti importante pra outra pessoa, tu é foda mermo, feliz aniversário, meu cria. Tu é meu filho de coração, sabia disso?

Eu, como uma mãe e uma pessoa com um coração mole pra caralho, tô chorando por isso. Não canso de dizer que amo o jeito como ele trata meu filho e demonstra tudo que sente por ele todas as vezes que vê ele. E isso é tudo pra mim, é esse tipo de pessoa que eu quero que esteja perto do meu filho pra tudo, que ajude ele toda vez que precisar, é só isso que eu quero. Ele ficou falando com o meu filho como se o Theo estivesse acordado, acabei sorrindo quando ele fez carinho no cabelo dele, se ajeitando no chão.

Respirei fundo, sentindo minha garganta seca e meu rosto ardendo. Fui no banheiro e lavei o rosto, peguei um pouco de água e bebi, voltando pro quarto do Theo. 2R tava deitado junto com o Theo que parece que já sabia que ele tava ali, porque tá abraçado e tudo. Eu neguei com a cabeça, indo trancar a porta de casa e voltando no meu quarto, pegando meu cobertor ali. Voltei pra lá e puxei a cabeça que tem embaixo da do Theo, vendo que o Fafá tá no décimo sono já, o que me provocou uma risada.

Deitei na cama dali, respirando fundo, olhando as figurinhas neon que o Theo colocou no quarto dele. Olhando a relação do Theo e do 2R, parece que eles são se conhecem faz anos, exala muito amor e felicidade, eu amo ver isso e, mais ainda, amo ver meu filho feliz. Ver e saber que ele considera o Theo como filho e que faria tudo que estivesse ao alcance dele tanto pra proteger quanto pra ajudar me faz uma mãe muito feliz e eu não troco isso por nada.

A cada dia vejo o 2R diferente, se ele trata meu filho bem, automaticamente me trata bem também. E eu me amarro nele, o beijo é bom pra caralho, pegada, tem um pau enorme, lindo e gostoso igual o dono, mas nada se compara o jeito que ele é comigo e com o meu Theo, acho que isso faz com que eu me sinta mais ainda atraída por ele.

E o jeito que ele me olha não colabora com o fato de eu querer ficar longe disso tudo que envolva desejo, mas por um momento, só por um momento, eu vi nos olhos dele e senti por um segundo que isso daqui não foi só desejo, que foi algo a mais que eu não entendo o que é, mas pretendo...

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FILHO, ELE CHAMOU O THEO DE FILHOOO