capítulo dois - ainda não acabou

3.4K 122 41
                                    

RAFAEL/2R.

Quando eu era menor queria a vida bandida mermo, papo reto que eu gostava de tudo que esse mundo me oferecia, desde as melhores mulheres, drogas, até a putaria mais pesada. Pra quem não tinha nada era um bagulho até que grande, dava pra levar pra frente sem me fuder e ainda tirava marra de chefe.

Mas isso não era motivo de orgulho pô, ou era?! Tive dinheiro pra comer, comprar uma roupa e um chinelo que eu nunca tive se não fosse roubado. Não podia reclamar de muita coisa, tendo comida do lixo ou resto que geral jogava com pena de mim era o suficiente na minha mente, até eu ver que tinha meios melhores pra conseguir.

Eu me dei tudo que não me deram, tive que me ajudar e numa fase doida da minha vida ser eu por mim e é isso! Não tinha pra onde fugir, certamente o mundo do crime ia me perseguir de qualquer forma, só não achei que seria tão novo pô, tive que botar a cara e me fuder pra caralho por isso.

Aos quatorze quase morri sem comer, tive que aprender que nem todo mundo pensa em mim. Meus únicos amigos até que pensavam, mas papo reto, me afastei porque nem eles tinha bagulho pra comer e eu nunca quis ser um peso pra ninguém.

Aos quinze, já era mais sagaz, tive dinheiro pra comer e se pá ser alguém. Aos dezesseis tava bom em tudo que eu fazia, aos dezessete? Esquece, tava melhor que muitos que tava anos no corre. Não tinha felicidade nisso, pra mandar o papo certo, mas era o que eu tinha.

Tudo isso foi fruto das minhas escolhas erradas, mas dos meus esforços certos. A vida é errada mermo, mas papo reto? O que eu podia fazer, filho? O mundo não é um mar de rosas, tem alguns que saem ganhando tendo pais presentes, e alguns nascem ricos. Nem conhece a metade das sequelas da vida, papo reto!

Eu já fui espancado pela minha mãe, pelo meu pai. Estuprado pelo meu tio e visto como mentiroso pra muitos. Já sofri tanto na mão de muitos que só queriam me fuder. A vida não tinha nada mais pra me oferecer aos dezenove, era só tomada de cu sem intervalo, mas eu não sabia quais eram as coisas boas que a vida tinha pra mim.

Como eu dizia, só via ódio, papo reto. Nada dava certo! Ou eu era da boca, ou eu era feliz. Mas eu sabia que ser traficante não era motivo do meu sofrimento, era o que eu tinha deixado pra trás depois de ter me tornado o pior de mim, depois de ter me tornado o que meus pais queriam.

Eu tava sozinho no mundo, sem expectativa nenhuma de felicidade. Mas conheci meus parceiro quando ainda era menor, só que me afastei pra caralho depois de altos acontecimentos. Breno era o mais suave, sempre conversava comigo sobre tudo, o mais carinhoso. Igor me colocava no meu lugar, me mostrava a realidade sem ser grosso, o mais cético.

Ruan era o mais fechado, tu não conhecia quase nada sobre ele, mas podia contar com ele sobre qualquer bagulho que ele estaria te escutando. O cara era o mais sincero dali! Ele não gostava de ver ninguém quieto demais, já ia atrás pra perturbar. E o Yuri era a felicidade do grupo, ele era o mais zoeiro, nem parecia que vivia uma vida de merda igual nós.

Éramos adultos no corpo de criança, eu não tive infância antes deles, nem pensei nisso. Nos conhecemos com uns sete anos, fui embora e pá, mas depois de uns anos eu voltei pro lado deles. A vida ensinou da pior maneira, com quatorze já tava geral no crime. Ruan tinha um irmão pra alimentar e ele nem sabia o que fazer.

Igor tava na mesma, geral era irmão e sem pais. Fomos jogados pra trás, tá ligado? Como se tivéssemos escolhido nascer ou viver essa merda de vida. Mas suave, eu segui como dava e como irmão geral tomou uma decisão. Fomos juntos, Yuri foi o único que não entrou. O Ruan não quis deixar, ninguém entendia os motivos deles, mas eu entendia.

A vida era boa pra quem queria, só que aos meus dezenove eu fiquei mais suave. Usava droga, ia pra putaria todo dia e nem queria saber de nada. Mas um dia eu conheci uma gatinha, ela me mostrou o lado bom da vida. Eu era felizão com ela, papo de que ninguém me fazia sentir como ela.

Vida Bandida.Onde histórias criam vida. Descubra agora