Carol
Terminei de fazer a mamadeira do meu babycria favorito faz uns dez minutos e, na mesma hora que coloquei pra esfriar numa panela com água gelada, escutei o choro alto dele vindo do meu quarto, correndo pra lá com medo dele cair da cama. Quando cheguei no meu quarto, vi ele puxando meu cobertor e balançando enquanto chorava, neguei com a cabeça, me equilibrando na cama pra pegar ele no colo.
A mamadeira tá morninha do jeito que ele gosta faz tempo. Desde quando tinha uns cinco meses, eu tive que aprender na marra o exato ponto que ele se amarra, acho que é o único momento que o meu babycria é exigente, apenas em se alimentar. Fiz cara feia pra ele que balançou a mão na minha cara, fazendo eu rir baixinho e revirar os olhos pela bobeira desse cabeçudo, muito igual o pai e os titios dele, todos muitos bobos.
Carol: Te amo muitão, meu bebê.- Falei baixinho pra ele, vendo o meu bebê sorrir e resquícios de dentes crescendo na gengiva dele. Respirei fundo, sentindo uma dor no coração de ver ele assim sentindo dor ou chorando, Pedro não sabe nem o que é chorar de tão calminho que é, ele só sabe rir no mundinho dele, certeza que o nome do canal do youtube dele seria mundinho babycria br.
Eu tava tentando disfarçar a minha mente caótica. Meu consciente gritando o tempo todo que tô grávida não me ajuda em nada, eu não sei e nem quero saber, mas é muito inevitável ignorar e fazer a doida quando você já sabe tudo o que se passa no seu corpo. E, por incrível que pareça, eu sei. Foi a mesma sensação de quando engravidei pela primeira vez, não o mesmo desespero, mas o enjôo, o vômito, o consciente em alerta e os meus divertidamente um caos.
Várias sensações passam pelo meu corpo e pela minha mente. Eu só sei sentir medo, ansiedade, mas não uma vontade de ter um filho, sim um medo de perder de novo e me sentir incapaz mais uma vez. De mais uma vez fazer alguém que eu amo muito sofrer esperando por um bebê que de certa forma depende muito de mim, medo de tudo, dos meus pensamentos ruins ou de algo ruim acontecer novamente. Uma vontade de chorar me atingiu com tudo, senti meus olhos lacrimejando e olhei pro Pedrinho que balbuciou "papa" e mais alguma coisa.
Carol: O que você acha de talvez ter mais um bebê na família, meu babycria? - Falei baixinho, segurando ele no meu colo. Eu sorri pra ele que sorriu pra mim, levantei com o Pedrinho no meu colo mesmo e senti a mamadeira gelada por fora, então fiz o teste que a Luana me ensinou e vi que tava bom. Sentei no sofá, deitando ele no meu colo que colocou a mão por cima do meu peito, olhando nos meus olhos como se soubesse que eu amo muito ele. Sorri pra ele sentindo uma enorme vontade de chorar me atingir por inteira, colocando a mamadeira na boca dele, vendo o babycria me olhando ainda.- Você continua sendo o bebê mais legal de todos depois de oito meses.
Ele sorriu parecendo até que entendeu e eu ri, sentindo as lágrimas descendo pelo meu rosto e cair na testa dele. Limpei olhando pro babycria e escutei meu celular apitando no mesmo momento, era mensagem no whatsapp. Entrei e vi que era de número desconhecido, de novo essas merdas de número fake e eu bloqueei o de mais cedo, quando eu ia bloquear de novo, vi uma foto no chat. Era o Ruan sentado numa mesa cheia de bebidas, o Yuri tava do lado e nem me importei de ver os outros. Revirei os olhos já esperando por isso e, pela segunda vez no dia, bloqueei essa porra.
Eu já sabia que ele não iria cumprir com o que ele disse. Eu não acho ruim ele curtir como sempre fez e na moderação, eu acho ridículo mentir a troco de nada e por nada, não tem motivos. Eu não iria prender ele em casa e forçar a passar o dia comigo sabendo que ele já passa todos os dias na minha presença e que as vezes quer sair com os amigos, não vejo problemas. Só que, querendo ou não, o Pedro é totalmente responsabilidade dele, ele que ligou pra Luana pedindo pra pegar o garoto e não foi eu.
Mas ele já tá aqui e não tá chorando, não vejo problemas em continuar cuidando dele com o carinho de sempre, mesmo assim não deixa de ser ridículo da parte dele. Não adianta querer mudar certas atitudes ruins e na primeira oportunidade de mostrar isso na prática, faz o contrário do que prometeu várias vezes. Mas eu não vou discutir agora e muito menos cobrar algo do Ruan, isso vem única e exclusivamente da pessoa, não posso me meter. Mas se vier falar vai escutar sim, o básico, mas vai porque não sou dessas de ficar calada, porque se a situação fosse pra cima de mim, ele iria agir de maneira diferente comigo. Tirei a mamadeira da mão do babycria quando ele terminou, deixei ele sentado no chão, indo fechar a panela do mingau.
Senti meu estômago doendo, vomitei tanto que puta que pariu... Tava tentando não sentir o cheiro da mamadeira dele, mas senti e meu estômago embrulhou de novo, intensificando o enjôo. Saí correndo pro banheiro daqui de baixo, levantando a tampa e vomitando tudo de novo, sentindo meus olhos lacrimejando. Quando terminei, escovei os dentes, sentindo um nojo do caralho. Eu preciso comprar um teste de gravidez, mas sair vomitando assim não dá, ainda mais com o Pedrinho.
Voltei pra sala, vendo o Pedrinho batendo no chão, especificamente no meu tapete de felpudo. Fiquei rindo dele, sentei ao lado do meu babycria e peguei meu celular, indo ligar pra única pessoa que me entenderia nesse meio todo. Luana. Ela pode estar dando horrores e eu interromper esse momento que acontece de ano em ano porque ela é mãe de um bebê, mas eu preciso da ajuda dela. O celular dela tocou umas duas vezes e, quando eu ia desistir, escutei a voz dela rouca no fundo.
Luana: Carol, eu realmente espero que seja algo muito importante no momento pra me acordar assim.
Carol: Tá com a voz rouca de tanto gemer, safada? Mais cedo a voz não tava assim não.
Luana: Sim, dei muito e por horas, você não sabe o quanto foi bom, depois de conto os detalhes. Amiga, você matou meu filho, tomou um tiro ou o pai ou os tios do meu filho morreram?
Carol: Não, amiga, deus me livre.
Luana: Então por qual motivo você tá me ligando, querida?
Carol: Eu tô com muito medo, eu acho que tô grávida e toda hora tô vomitando, preciso de um teste de gravidez.- Falei com a voz tremendo real de medo mesmo, respirei fundo tentando não chorar e a Luana ficou calada.
Luana: Eu tô indo aí e vou comprar o teste no caminho.- Ela ficou em silêncio por uns segundos.- Caralho, amiga... Não se mata antes de eu chegar.
Carol: Vou tentar.
Luana: Vai ficar tudo bem.Desliguei o celular, olhando pra tela na minha mão por alguns minutos. Eu tava nervosa, com medo e vários sentimentos, um mix. Mas ver o Pedrinho gargalhando enquanto me olhava era a coisa que mais me distraía de tudo isso, principalmente quando eu fazia careta pra ele, mexendo na barriguinha do bebê mais legal do mundo.
Eu não quero dar esperanças pro Ruan, eu nem ao menos quero falar disso. Sei que ele sempre quis ser pai e o Pedrinho já é uma responsabilidade gigantesca pra mãe e pro pai, ele ainda quer ter mais filhos. Eu queria muito não me sentir insegura com esse fato em questão, queria me sentir realizada ou até mesmo querer ter um bebê sem ter medo de tudo, mas não consigo.
Ser mãe sempre foi meu desejo antes de engravidar e perder, mas quando eu vi o Pedrinho recém nascido, eu tive a certeza que amei demais meu filho, mesmo que ele não tivesse nascido naquela época. E o meu Pedrinho é a certeza de que eu não parei de ter esse desejo, mesmo que ele não seja meu filho, mas tenho um medo que me impede de querer ou tentar isso. Eu realmente não me vejo como mãe hoje em dia.
Mas a gente sabe que não saber lidar com um bebê não é a desculpa, querendo ou não é algo que se aprende com o tempo, né? Não é a minha meta tirar, não mesmo, eu só não quero que a mesma história se repita, que a mesma dor venha novamente, que eu foda com a mente de mais uma pessoa quando o assunto é ser pai. E eu me sinto pequena, incompetente, me sinto uma merda mesmo. E, mesmo que a culpa não fosse minha e nem do Yuri, mesmo que já tenha acontecido, ainda tem um impacto muito grande na minha vida.
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55 estrelinhas e
55 comentáriosainda vou mostrar a vocês a lealdade e a cumplicidade da amizade dessas duas 🤏💕
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Vida Bandida.
Teen FictionSEGUNDA TEMPORADA DE "CORAÇÃO BANDIDO". O amor é o que torna a Vida Bandida suportável, é a base de tudo. Quando acha que a mente e o coração tá totalmente tomado pelo ódio, a família tá ali pra lembrar que tudo passa e ainda há esperança em dias me...