Currículo.

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Conor

Hoje foi um dia tenso, assim como toda a semana. Os carregamentos não param de chegar, e as escoltas se acumulam, exigindo nossa atenção constante. Além disso, meu tio ainda está furioso por termos perdido um carregamento na semana passada devido a um acidente. Isso nos forçou a redobrar a atenção em cada operação.

Quando finalmente me dei conta, já eram nove horas da noite. Peguei as chaves do carro e desci pelo elevador, ansioso para relaxar em casa. Ao passar pela recepção, avistei Paula concentrada, verificando os e-mails com seriedade, demonstrando o comprometimento que sempre admirei nela.

Conor: Até agora, Paula? — escorei no balcão.

Paula: Seu tio demitiu uma dúzia de funcionários hoje; sobrou pra mim. — sua voz soava exausta.

Conor: Ele não vai perceber se você deixar alguns e-mails pra ler amanhã.

Paula: Sem querer desfazer do seu aval, mas não quero tentar a sorte.

Soltei um riso leve e olhei para a tela, percebendo que ainda faltavam cerca de dez e-mails para abrir e responder. Foi então que o nome da Sarah chamou minha atenção, despertando minha curiosidade.

Conor: Esse da Sarah Fonseca, deixa eu ver o que é. — aponto o dedo.

Ela faz o que peço.

Paula: Currículo.

Conor: Em que área?

Paula: Aqui diz... — lê o currículo — Ela é contadora. — soa surpresa.

Conor: A gente precisa de uma?

Paula: Seu tio não contrata há anos!

Conor: Hum. — semicerrei os olhos.

Paula: Quer que eu mande pra ele?

Conor: Na verdade, manda pra mim.

Paula: Agora mesmo. — assentiu.

Conor: Agiliza isso logo e vai pra casa descansar. Amanhã, se quiser, pode chegar às dez pra compensar.

Paula: Valeu. — estende um sorriso.

Após acenar um tchau, segui para casa. Tomei um banho demorado, sentindo a água quente relaxar cada músculo do meu corpo. Ao sair do banho, vesti uma bermuda confortável e me deitei na cama.

Ela não saiu da minha cabeça desde o momento em que bati os olhos nela. Foi há uma semana, quando Fernando colidiu em seu carro. A lembrança dos seus olhos grandes, esverdeados com alguns fios de mel, ainda permanece viva em minha mente. Seu nariz, tão pequeno e empinadinho, parecia ser de mentira, e seus lábios perfeitamente desenhados, carnudos e avermelhados, eram verdadeiramente tentadores.

Abri meu notebook e fui direto para o meu e-mail, buscando pelo currículo dela, embora já soubesse que a queria comigo. Li atentamente cada detalhe do seu currículo, admirando suas habilidades e experiências. Decidi então responder ao e-mail, convidando-a para uma entrevista, ansioso para vê-la de novo.

É claro que não dou a mínima pro serviço, só quero uma desculpa pra mantê-la por perto.

[...]

Sarah

Acordei sonolenta, com pouca coragem de levantar, e peguei meu celular. Assim que bati os olhos nele, vi uma notificação no e-mail da Herreras Company. Levantei num pulo e abri o e-mail.

Sarah: Caralho! Mariana! — gritei em êxtase.

Saí do quarto correndo, procurando-a para compartilhar a notícia. Olhei ao redor e percebi que a casa estava em completo silêncio. Então lembrei que ela já devia estar no trabalho àquela hora. Dando alguns pulinhos animados, fui direto para o banheiro para tomar banho e me arrumar.

[...]

Sarah: Oi. — sorrio, apoiando os braços no balcão da recepção. — Eu vim fazer a entrevista de emprego.

Paula: Oi! — retribui o sorriso. — Ele já está te aguardando no escritório, décimo andar.

Sarah: Obrigada.

Andei até o elevador, apertei o botão e subi. Assim que as portas se abriram, lá estava ele, parado com as mãos nos bolsos, me olhando. Um arrepio percorreu minha espinha, aquela sensação voltando como um raio para dentro de mim.

Sarah: Oi. — minha voz chega a falhar, então pigarreio. — Conor.

Conor: Sarah. — seus lábios se erguem, formando um sorriso de canto.

Ele vira de lado, dando-me espaço suficiente para passar. Aproveito a abertura e sigo por ele, tão rente ao seu corpo que sinto meu ombro roçar no tecido da camisa dele. Avanço em direção ao seu escritório e me sento na mesma poltrona, sentindo a eletricidade percorrer minha pele.

Conor: Não precisamos ser tão formais. — ouvi-o dizer atrás de mim.

Virando o rosto e olhando por cima do ombro, vi que ele estava sentado no sofá, com as pernas abertas, proporcionando-me a perfeita visão de suas coxas roçando no tecido, como se o próprio material quisesse rasgá-lo. Respirei fundo, tentando conter esses pensamentos, e me levantei, indo sentar um pouco mais para o lado no sofá.

Conor: E então? — disse, pegando um copo de uísque na mesa de centro.

Abri e fechei a boca várias vezes, procurando as palavras certas, mas seu olhar era tão profundo que não consegui me concentrar. Soltei um riso envergonhado e fiquei sem palavras; seu olhar me intimidava, me calava e parecia sufocar minhas frases no ar.

Conor: Você pesquisou sobre nós?

Sarah: Nós? — franzi o cenho.

Conor: A empresa. — soltou um riso.

Sarah: Ah! — arfo, sem acreditar na minha burrice. — Não, foi tudo muito rápido.

Conor: Eu te explico.

Sarah: Por favor.

Conor: Somos uma companhia de exportação, importação e vendas de produtos luxuosos.

Sarah: Percebi. — resmungo.

Conor: Como você pode ver, neste andar temos os destilados; nos demais, temos veículos, joias, relógios... — dá um gole em seu uísque. — Aceita um drink?

Sarah: Não, valeu. — balanço a cabeça em negativa.

Conor: Como eu faço parte da segurança também, seria ótimo ter alguém aqui pra cuidar dessa parte pra mim.

Sarah: Eu adoraria. Quer dizer... eu estou disponível.

Conor: Pode começar na segunda-feira.

O que? Mas já? Ele não vai me perguntar nada?

Franzi o cenho como se ele tivesse falado a maior atrocidade do mundo, mas logo me dei conta e desfiz o semblante. Então, abri um sorriso de orelha a orelha.

Sarah: Sério? Agora eu aceito aquele drink.

Ele se levanta e busca uma taça de espumante.

Conor: Pra comemorar. — me entrega a taça e se senta novamente.

Estendi o sorriso e dei um gole, sentindo-o ao meu lado, bem próximo, encarando-me nos olhos. Meu estômago se embrulhou, mas não era de repulsa. Era algo... Eu sabia, era alguma coisa.

Conor: Agora me conta mais sobre você.

Engoli a seco a saliva, olhando fixamente em seus olhos, perdida em um mar de incertezas.

Ele quer saber sobre mim? O que eu deveria falar agora?

Mordo o lábio inferior, tentando reprimir a tensão que me dilacerava por dentro, como se cada palavra fosse uma batalha a ser vencida. Alternando meu olhar como um triângulo entre seus olhos e sua boca, senti a intensidade do momento me envolver completamente. Minhas mãos suavam frio, e um calafrio percorria toda a extensão do meu corpo.

Por que diabos não consigo falar?

Conor: Foda-se. — murmurou, quase como um sussurro, se aproximando mais.

Sarah: Hum? — eu disse, aérea, ainda hipnotizada.

Minha respiração se tornou ofegante e eu lutei para não demonstrar.

Doce Veneno - amor, ódio e obsessão.Onde histórias criam vida. Descubra agora