Estamos quites.

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Fecho os olhos e deixo as lágrimas escorrerem. A repulsa em meu estômago crescia, e o medo fazia cada pedacinho da minha pele doer.

— Levem o carro! — ordena o homem de preto, aquele que havia dado a coronhada em meu irmão.

O aperto em minha cintura se afrouxou, a mão que tampava minha boca foi retirada, e logo sinto suas mãos se espalharem em meus ombros, me empurrando. Sem forças para me manter em pé, com as pernas bambas e trêmulas, caí, batendo os quadris no chão.

Minha visão ficou turva; a tontura me enjoou e a ânsia subiu, queimando minha garganta. Levei a mão à boca, segurando o vômito no último segundo. Ouço os pneus cantarem e vejo o vulto do carro e das motos desaparecendo na fumaça que invadiu meus pulmões. Após alguns segundos atordoada, levanto-me o mais rápido que consigo e corro até meu irmão, que sangrava com um corte na cabeça.

Sarah: Rafa, acorda! — sento-me no chão e dou alguns tapinhas em seu rosto.

O choro desengasga na minha garganta, e eu me desabo ao vê-lo desacordado no chão. Com mãos trêmulas, pego meu celular no bolso e, com dificuldade, disco o número da ambulância.

[...]

Estou exausta de ver enfermeiras indo e vindo, sem que ninguém me diga nada. Completamente ansiosa, minha perna se debatia contra o chão, meus dentes roíam as unhas, e meu coração acelerado batia forte há tanto tempo que me acostumei com esse ritmo frenético.

Sinto-me culpada. Se eu não tivesse feito birra, ele não teria pegado o carro; não teria que me convencer a sair para tomar café da manhã. Nada disso teria acontecido. Meu irmão estaria bem, sem um corte na cabeça.

— Sarah? — ouço uma voz feminina chamar minha atenção.

Levanto-me rapidamente, direcionando meu olhar para ela.

Graças a Deus, uma enfermeira.

Sarah: Ele está bem? — pergunto, indo ao seu encontro. — É grave? Foi muito fundo? — disparo as palavras com pressa.

— Respira, está tudo bem. — Ela sorri gentilmente.

Assenti várias vezes, ansiosa.

— Ele apagou muito rápido pelo local que foi atingido. Foi apenas um corte raso; já demos os pontos e fizemos o curativo. Não há nada com que se preocupar.

Antônio: Sarah! — ouço seus passos pesados se aproximando.

Olho para trás e ele me envolve em um abraço apertado, completamente inesperado.

Antônio: Minha filha! — acaricia meu cabelo.

Sarah: Eu tô bem, pai.

Antônio: Onde está seu irmão? — desfaz o abraço, sua expressão se tornando séria.

— Podem me acompanhar, por favor.

Fomos sem questionar. Entramos no quarto e ele parecia nos esperar. Sorrio levemente, aliviada por vê-lo bem.

— Bom... Vou deixá-los a sós.

Assenti.

Sarah: Obrigada.

Ela sorri e se retira, fechando a porta atrás de si. Meu pai está de braços cruzados, com um olhar indiferente, como se nada importasse. Às vezes, sinto que ele realmente não sente nada.

Sarah: Como você tá? — digo, indo em direção à cama.

Rafael: Um pouco tonto por causa da anestesia. — Ele ergue os lábios em um sorriso leve, cansado.

Doce Veneno - amor, ódio e obsessão.Onde histórias criam vida. Descubra agora