Já que somos tão diferentes...

775 38 10
                                    

Sarah

Segurando a colher, mexi o conteúdo da tigela pela quarta vez, observando a mistura de iogurte cremoso com pedaços suculentos de morango e a crocância da granola. Cada tentativa de levar uma colherada à boca era acompanhada por um embrulho no estômago, fazendo-me desistir no meio do caminho. Respirei fundo, afastando a tigela com um movimento brusco, a sensação iminente de náusea pairando sobre mim. Fechei os olhos por um instante, recolocando os cabelos atrás da orelha, enquanto coçava distraídamente a coxa. Ao abrir os olhos, meu olhar foi atraído para o curativo envolvendo minha mão.

A manhã estava gelada, mas dentro de casa era aquecido, aconchegante. Eu estava vestida com uma camiseta dele, que virava quase um vestido em mim. Me sentia melhor com suas roupas, como se o cheiro que elas tinham me deixasse mais tranquila. Acordei por volta das sete e meia da manhã, eu havia me acostumado a dormir pouco e simplesmente não tentar dormir mais. Apesar de ter conseguido dormir bastante essa noite. Me levantei deixando-o na cama e desci, na intenção de comer alguma coisa, mas já fazia trinta minutos que eu falhava miseravelmente.

Zeke estava ali, ao meu lado, com a cabeça apoiada em minha coxa, como se sentisse a minha inquietação. Desviei o olhar para ele e comecei a acariciar seu pelo, buscando distração para não me deixar levar por pensamentos que poderiam desencadear outra crise.

Conor: Bom dia. – sua voz rouca veio acompanhada de um beijo no topo da minha cabeça.

Meus ombros deram um salto, acompanhando as batidas aceleradas do meu coração. Olhei para cima, jogando a cabeça para trás, e lá estava ele atrás de mim, inclinando-se para me envolver com os braços, apoiando as mãos na mesa. Deu-me um selinho enquanto um sorriso travesso dançava em seus lábios. Era assim que ele se divertia, me pegando de surpresa.

Sarah: Você ainda vai me matar. – soltei um riso.

Conor: Não está conseguindo comer? – me deu outro selinho.

Balancei a cabeça em negação, abaixando-a suavemente e direcionando meu olhar de volta para a tigela à minha frente. Ele então deitou o rosto na curva do meu pescoço e inalou profundamente, fazendo um sorriso discreto surgir nos meus lábios. Eu amava quando ele fazia isso.

Conor: É melhor manter o estômago vazio agora. – disse, dirigindo-se à geladeira.

Sarah: Por quê? – franzi o cenho.

Conor: Vamos ver seu irmão. – pegou uma garrafa d'água e uma barrinha de cereal, deixando a cozinha logo em seguida.

Levantei-me rapidamente e apressei os passos para alcançá-lo, Zeke vinha ao meu lado, me acompanhando. Caminhamos até o final do corredor, onde Conor destravou a porta com sua digital. Ao entrarmos na sala de armas, e não haver ninguém, eu franzi a testa sem entender, até que ele começou a empurrar a mesa central. Conforme um buraco com uma escada surgia, um "O" de surpresa se formava em meus lábios.

Uma passagem secreta. Claro.

Conor desceu as escadas na penumbra, enquanto eu permanecia paralisada. Zeke encostou seu focinho úmido na minha perna e latiu, como se me encorajasse a segui-los. Um nervosismo intenso percorreu minha pele, arrepiando meus ossos. Lentamente, comecei a descer o primeiro degrau, mantendo a cabeça baixa e os olhos fixos no chão, tentando controlar o nó que se formava em minha garganta.

A luz fraca e branca iluminava o amplo espaço subterrâneo, revelando paredes e chão de concreto nu. O ar gelado e o cheiro metálico fizeram meus pelos se eriçarem. Ao alcançar o último degrau, ergui o olhar e deparei-me com meu irmão no centro do cômodo, acorrentado aos ganchos suspensos do teto. Vestia o mesmo terno da noite anterior, seu rosto marcado e coberto de sangue seco. Fiquei paralisada enquanto Zeke passava por mim e se sentava ao lado de seu dono, que encarava o prisioneiro.

Doce Veneno - amor, ódio e obsessão.Onde histórias criam vida. Descubra agora