Eu não sou seu inimigo.

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Sarah

Pude finalmente respirar quando ouvi a porta bater. meu coração estava acelerado e batendo tão forte que me estremecia por dentro. Abri os olhos e me levantei rapidamente checando se ele realmente havia ido. Minhas mãos estavam suando frio, meu corpo todo queimava e formigava, uma sensação estranha que me arranhava de dentro pra fora. Mas não era ruim, tinha um gosto de quero mais, uma provocação, curiosidade... atração...

Por um momento, eu me senti atraída pela adrenalina, os raios percorrendo em minhas veias querendo mais e mais.

Isso é errado!
Ele é errado.
Deus! O que eu estou fazendo?

Sacudi a cabeça afastando essas maluquices da minha mente. Respiro fundo deslizando os dedos pelo emaranhado do meu cabelo indo em direção ao banheiro.

Retiro as peças de roupa que me restavam jogando-as no chão, entro no box e ligo o chuveiro. A água morna caiu em mim levando com ela toda essa tensão. Eu ainda não consegui digerir o que aconteceu nos últimos dois dias. Porra, foram dois dias.

A onde eu fui me meter? Jesus...

Tudo me agoniza. O fato de que tudo estava bem na minha frente e eu ignorava, simplesmente não queria ver o que estava diante dos meus olhos: os documentos sem selos, os cálculos nao batiam, era óbvio que tinha algo a mais.

Mas, e meu pai? Ele é perigoso? Prejuízo, prejuízo com algum carregamento, eu entendi. Mas carregamento de que? Drogas? Armas? O quão fodido meu pai é? Eu vivo no meio disso há quantos anos sem saber? À concessionária é fachada? Os carros são roubados? São tantas perguntas e eu nem sei se realmente quero saber a verdade.

[...]

Saio do quarto vestida com uma calça de moletom e uma regata branca leve e confortável. A chuva forte caia lá fora, os trovões sempre me assustam. Passo pelo corredor em direção a cozinha, passando pela sala me deparei com o Daniel, meus olhos arregalaram e minha respiração acelerou novamente.

Mari: Ei! – aparece levantando do seu colo – Oi! Você acordou. –  abre um sorriso gigante.

Daniel: E aí Sarah. – deu um sorriso meia boca.

Engoli seco a saliva ignorando completamente a minha amiga sem conseguir tirar os olhos dele.

Mari: Sasa?

Sinto-a tocar meus ombros o que me assustou, os mesmos pularam me acordando do transe.

Mari: Tá tudo bem? O que foi? – me abraça.

Retribui o abraço finalmente me aconchegando nos braços de alguém que confio. Senti meu peito arder, juntamente com meus olhos querendo derramar lágrimas outra vez.

Eu só sei chorar. Frágil, fraca, manipulável, medrosa...

Deito o queixo em seu ombro e respiro fundo enquanto sentia a ponta dos seus dedos acariciar minhas costas.

Sarah: O que ele tá fazendo aqui? – murmuro.

Mari: Estamos vendo série, eu o obriguei a assistir Friends comigo. – sua voz sua animada.

Porque ela está agindo assim? Ela não sabe de nada? Como ela não sentiu minha falta?

Mari: Que carinha é essa? Vocês brigaram? Eu percebi que ele saiu meio puto. Achei que essa viagem seria... sei lá... – balança a cabeça tentando encontrar palavras certas – Achei que vocês iam voltar mais envolvidos alguma coisa assim.

Sarah: Hum? – franzi o cenho.

Viagem? Que porra de viagem? Ela realmente acreditou que eu estava viajando? De uma hora pra outra, sem levar nada nem mesmo meu celular?

Desvio o olhar levando-o até o Daniel, que retribuía com um olhar ameaçador, implorando pra que eu aceitasse essa mentira.

Sarah: Ah! Aham... É... Depois eu te conto. – forço um sorriso – Eu tô com fome. – minto e saio indo para a cozinha.

Porque eu o encobri? Por que eu não falei tudo que me aconteceu? Eu devia ligar agora mesmo pra polícia.

Ando até a geladeira em procura de algo pra comer, não faço uma refeição a dias, e o mais estranho é que não sinto fome. Vejo uma caixa de pizza esquecida, algumas bebidas, pão, pasta de amendoim, frutas, geleia de morango, queijo... Nada realmente abriu meus olhos ou meu apetite.

Daniel: Pedimos comida, já deve estar chegando, se quiser esperar pra comer com a gente.

Senti um arrepio na nuca quando sua voz grave ecoou pela cozinha.

Fecho a porta da geladeira e me viro de frente pra ele, que me olhava com os braços cruzados em frente o peito, apoiado com o ombro na batente da porta.

Daniel: Você está bem?

Como se ele se importasse, esse merdinha...

Sarah: Urgh! – reviro os olhos.

Daniel: Eu não sou seu inimigo Sarah.

Sarah: Não. Não é. – assenti com sarcasmo – Você é meu sequestrador.

Daniel: Eu não fiz isso.

Sarah: Mas não me ajudou também, da no mesmo. – digo áspera.

Daniel: Você queria o que? Queria que eu o enfrentasse? – rir num tom zombeteiro.

Sarah: O que vocês são em? A porra de uma gangue? Uma máfia? – cruzo os braços confrontando-o.

Daniel: Ela vai ouvir. – se refere a Mariana.

Sarah: Foda-se! Sua sorte é que eu ainda não liguei pra polícia.

Daniel: E vai dizer o que?

Sarah: Eu sei onde é a mansão, posso entregar todos vocês.

Ele solta outro risinho zombando de mim. Que ódio!

Daniel: Faça isso, é um favor.

Sarah: Porque está aqui? Pra me vigiar?

Daniel: Talvez.

Sarah: Eu não preciso de um cão de guarda.

Daniel: Não estou aqui por você.

Rio com sarcasmo, não pode ser real.

Sarah: Vai se foder! – digo entre os dentes.

Daniel: Olha Sarah, eu vou ser sincero com você. – da passos lentos se aproximando e para a centímetros de mim, tão perto que senti o seu calor – Eu não sou seu inimigo, já disse. Não estou aqui pra te vigiar, nem sou um cão de guarda. Eu gosto dela, estou aqui por ela. Não estrague o que nós temos.

Sarah: Quanto tempo você acha que vai guardar seus segredinhos? – provoco – Fica tranquilo, eu não vou destruir o que vocês tem, você mesmo o vai fazer, porque eu conheço minha amiga, e ela odeia mentiras, odeia ser a última a saber. Eu não faço questão, te dou toda honra... Mas fique sabendo que se você machucar ela uma vez sequer, eu vou até o inferno pra destruir você.

Daniel: Anotado.

Sarah: Ótimo.

Mari: A comida chegou! Vou buscar! – ouço-a gritar distante.

Doce Veneno - amor, ódio e obsessão.Onde histórias criam vida. Descubra agora