Esperar por alguém que poderia nunca mais voltar

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Algumas pessoas desviaram o olhar, outras pareciam perplexas, enquanto eu chorava, sentindo a falta de ar esmagar meu peito. A sensação de estar exposta ao julgamento era sufocante, vulnerável. Daniel tentava se aproximar, mas eu não queria que ele se aproximasse. Queria que ele sentisse meu desespero, mas não queria seu consolo vazio.

Rosnei, perdendo o controle, eu não preciso de controle nenhum mais, porra! Mandei os braços pela mesa, derrubando pastas, mapas, notebooks, canetas— tudo que estava ali em cima. A desordem se espalhou pelo chão como uma representação do meu estado emocional. Corri para o outro lado e chutei as cadeiras, ouvindo o barulho estrondoso do impacto. Em seguida, ataquei a mesa de centro do sofá, fazendo os uísques e copos se espatifarem no chão.

Sarah: Porque vocês precisariam dessas merdas? — gritei, a voz ecoando na sala. — O chefe de vocês está morto, porra! Vocês estão desempregados! Podem ir embora! Acabou!

As palavras saíram como um grito de guerra, uma declaração de que eu não queria mais nada daquelas aparências vazias. Tudo aqui exala ele. Ele está em todo o lugar. Em tudo. O caos se refletia na minha mente; tudo que eu queria era que a dor se dissipasse. As pessoas ao redor começaram a sussurrar entre si, algumas com olhares de choque, outras parecendo entender um pouco da tempestade que estava dentro de mim. Mas ninguém poderia me compreender totalmente.

Sarah: Voces acham que eu sou louca? — eu ri com escárnio. — Pois eu sou mesmo! Completamente desequilibrada! E vocês não viram nada ainda! Eu vou destruir toda essa merda!

Mariana: Sarinha, se acalma... — murmurou, se aproximando com um olhar preocupado.

Sarah: Calma? Como eu vou ter calma nessa merda? Pra vocês é fácil, vocês nunca o tiveram como eu. Comigo ele era de verdade! Não com vocês! Eu sinto que vou morrer. Eu não consigo! Eu não aguento mais. — Chorei, puxando meus cabelos como se a dor física pudesse aliviar a pressão, o sofrimento que parecia me consumir por dentro.

Mariana: Ei... — ela disse, me enlaçando com seus braços, sua mão suave em minha nuca arrastando minha cabeça para seu ombro. O calor do seu corpo era um alívio em meio ao meu turbilhão.

Os soluços solavancaram meu peito, a dor era insuportável. Fechei os olhos, deitando o rosto na curva do seu pescoço, enquanto minhas lágrimas caíam e escorriam diretamente para sua pele. Me sinto instável e vulnerável, onde a raiva havia dado lugar à tristeza profunda.

Sarah: Eu não sei como lidar com isso... — murmurei entre os soluços, a voz embargada. — Ele é tudo pra mim. — Mariana apertou-me um pouco mais contra si, como se tentasse me transferir um pouco da força dela.

Mariana: Apenas pense no melhor e respire. — disse ela suavemente, acariciando meus cabelos como uma mãe faria.

[...]

Eu estava exausta, tanto mental quanto fisicamente. Mariana conseguiu me acalmar, mas talvez eu tenha cedido mesmo era ao cansaço que pesava nos meus ombros. Deitei-me no sofá, escorando a cabeça em sua coxa, sentindo o calor e a suavidade da sua pele. E mesmo assim, seu toque parecia frio e me arranhava. Há duas horas estávamos nessa mesma posição; ela acariciava meus cabelos de forma delicada, como se tentasse dissipar as nuvens escuras que pairavam sobre mim.

Isso é inútil.

Meus olhos estavam fixos na tela do computador do Pedro, encarando a câmera do portão com pouca expectativa. Esperando ele chegar. Era a última esperança que me restava, mas, no fundo, uma voz sussurrava que tudo aquilo era em vão. A sala ao nosso redor estava uma verdadeira bagunça, fruto do meu próprio descontrole.

Os funcionários dele corriam de um lado para o outro, seguindo ordens como se fosse um dia comum. A rotina deles contrastava de maneira cruel com a minha realidade, uma loucura que parecia surreal. A normalidade deles era como um soco no estômago da minha dor, lembrando-me de que, para eles, tudo o que realmente importava era seguir as regras.

Doce Veneno - amor, ódio e obsessão.Onde histórias criam vida. Descubra agora