Recomeço.

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Uma semana depois.

Conor

Ela não sorri mais. O brilho que antes iluminava seu rosto foi substituído por uma sombra profunda, e eu sinto que meu toque a assusta. Cada vez que me aproximo, ela estremece, como se meu simples contato fosse um lembrete de algo insuportável. É doloroso ver isso nos olhos dela — um misto de medo e desconfiança que corta como uma faca.

Sete dias se passaram desde que voltamos para casa, mas a sensação de impotência ainda me consome. Desde aquele momento no chuveiro, quando a água quente parecia derreter um pouco da dor, algo mudou. Ela não me deixa tocá-la mais. É como se uma barreira invisível tivesse sido erguida entre nós, e tudo o que eu desejo é atravessá-la. As noites são as piores. Ela tem pesadelos incessantes, acorda aos gritos, e mesmo assim se recusa a deixar que eu a ajude. Eu me vejo parado à porta do quarto, ouvindo os ecos de seus gritos rasgarem o silêncio da noite, angustiado.

O que fizeram com você?

Sinto-me como um estranho, um espectador de sua dor sem poder intervir. Cada dia que passa parece levar consigo a esperança de que ela recupere um pouco do que era antes — a alegria, o sorriso, a confiança. Mas tudo isso parece tão distante agora. Eu quero gritar para o mundo que ela merece mais do que isso, mas o medo nos olhos dela é um lembrete constante de que algumas feridas são profundas demais para serem curadas rapidamente.

O que eu posso fazer?

Desci as escadas por volta das onze horas da manhã, ainda sentindo a adrenalina pulsando nas veias. A academia se tornou meu refúgio, o único lugar onde consigo descarregar minha raiva e frustração. É uma forma de lutar contra a tempestade que se instalou dentro de casa, sem precisar abandoná-la. Ao chegar ao último degrau, sentei-me na escada, apoiei os cotovelos nos joelhos e respirei fundo, tentando recuperar o fôlego após quase uma hora e meia correndo. Sem parar. Como se estivesse em uma maratona sem fim, talvez correndo para alcançá-la, mas a cada dia que passa, sinto-a mais distante.

Meus olhos se voltaram para ela. Estava sentada de pernas cruzadas no sofá, imersa em seu próprio mundo com um par de fones de ouvido e o notebook no colo. Provavelmente conversando com sua psicóloga — a única pessoa com quem ainda se abre. O silêncio entre nós é ensurdecedor, e eu me pergunto se ela percebe o quanto isso me machuca.

Zeke estava ali ao lado, deitado com o focinho apoiado na coxa dela, como um guardião silencioso. Ele sempre está ao lado dela, ela não dá um passo sem ter ele logo atrás. E eu? Eu sou um intruso na vida dela. O amor que sinto por Sarah agora é um peso que carrego sozinho. A cena é cruel: ela envolvida em sua conversa terapêutica enquanto eu me esforço para encontrar palavras que nunca saem. O olhar dela não brilha mais quando me vê, é como se eu fosse apenas uma sombra do passado que ela não consegue deixar ir. Zeke é o único que parece trazê-la algum conforto agora — que não evoca medo ou dor.

Sinto uma pontada de ciúmes misturada à inveja e dor enquanto observo. Ele é tudo o que eu gostaria de ser nesse momento: um amigo ao seu lado, alguém que pode oferecer consolo sem causar sofrimento. Tento lembrar dos dias em que éramos felizes juntos, quando a risada dela preenchia a casa e meu coração. Mas isso só faz doer mais.

Desde que entrei no hospital, há quatro semanas, deixei Megan no comando da operação. Ela é extremamente obstinada e, para ser sincero, bem mais competente do que eu agora. Cada dia que passa, sinto a culpa me corroer por ver a Sarah assim. Minha cabeça gira apenas em torno dela, não consigo pensar em mais nada. A ideia de sair desta casa me apavora. O receio de que, ao voltar, ela não esteja mais aqui. O medo de perdê-la é uma constante dor aguda no fundo do meu peito.

Doce Veneno - amor, ódio e obsessão.Onde histórias criam vida. Descubra agora