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Ao chegar em casa, depositei as chaves no aparador e segui diretamente para o meu quarto. Após tomar um banho e lavar os cabelos, vesti um short de malha e uma camiseta confortável. Ao sair do quarto, dirigi-me à cozinha com a intenção de tentar comer algo novamente. Preparei um sanduíche com pasta de atum, alface, tomate e queijo, acompanhado de um copo de suco de uva integral. Levei tudo para o sofá, liguei a Tv, cobri-me com um cobertor e dei a primeira mordida. A sensação era como se estivesse mastigando algo maior que a minha boca, mas consegui engolir no final, empurrando com o suco.

Mariana: Achei que tivesse ido dormir com o Conor. – disse passando pela sala.

Sarah: Eu fui. – dei outra mordida.

Um silêncio breve pairou por alguns segundos, eu não precisei olhar pra saber que ela provavelmente está paralisada me encarando com as sobrancelhas unidas.

Mariana: E já voltou? – disse voltando na minha direção.

Sarah: Uhum. – dei de ombros.

Mariana: O que aconteceu? – sentou-se ao meu lado, cruzando os braços. Ainda mastigando, balancei a cabeça em negativa e meus olhos marejaram. – Ah não vocês brigaram? – uniu ainda mais as sobrancelhas, a expressão preocupada.

Sarah: O que tem de errado comigo amiga? – murmurei, a voz embargada pelo nó em minha garganta.

Que saco tudo que consigo fazer é chorar.

Mariana: Nada, não tem nada de errado com você. Ele te disse isso?

Sarah: Tem sim. – funguei, tentando segurar as lágrimas que ameaçavam a cair. – Eu estou quebrada Mari, algo em mim quebrou e eu não consigo concertar. Não sei nem por onde começar... Eu... Eu me sinto miserável o tempo todo... E... E-e quando consigo me sentir bem, pelo menos um pouquinho, acabo estragando tudo. Eu falo a coisa errada, eu faço tudo errado. E no fim sempre... Sempre machuco alguém, mais do que machuco a mim mesma! – expressando-me com pressa, minhas palavras saíram disparadas, e a cada uma delas, minha respiração se tornava mais difícil, entrecortada e falha.

Mariana: Quer conversar sobre isso? Você tem estado distante, e mal me conta as coisas. Talvez esteja guardando muito pra si. – esticou a mão, acariciando meu ombro.

Sarah: Eu não saberia por onde começar. – suspirei, tentando recuperar o fôlego.

Mariana: Bom, eu tenho tempo. – disse escorando a cabeça sobre a mão, e o cotovelo no sofá.

Sarah: As vezes acho que mereço todo mal que me acontece. – Ela me encarou com a cara de "ok vadia você está ficando louca, mas vamos lá, continue". – Isso está me sufocando Mari. Não te contei mas estou tendo algumas crises de pânico, é horrível e isso está me deixando louca. Parece que qualquer coisa pode desencadear outra crise e eu fico apreensiva a todo momento. A culpa e o medo, sempre falam mais alto. Eu sempre estou com raiva, e eu acabo descontando nele, porque estamos sempre juntos. Não sei explicar... É como se as palavras saíssem antes que eu pudesse pensar primeiro. – eu disse, algumas lágrimas caiam lentamente no processo.

Mariana: Culpa pelo que? Você não teve culpa de nada.

Sarah: Preciso ser culpada, não posso ser tão azarada assim, não é possível! Sequestros, estupro, me venderam e trocaram como se eu fosse a porra de um objeto, o que mais? Perdi minha mãe, perdi um bebê, matei uma pessoa... Jesus Cristo, eu sinto que vou morrer! – suspirei, perdendo o fôlego.

Mariana: Sasa... – sussurrou, lamentando.

Sarah: Talvez se eu tivesse me casado com Gabriel, minha mãe estaria viva. Ou talvez-

Doce Veneno - amor, ódio e obsessão.Onde histórias criam vida. Descubra agora