As contas não batem.

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Conor

Confesso que, ao tentar provocá-la, acabei me provocando também. Saí da sala em direção ao banheiro, precisando urgentemente de um momento para respirar e me afastar dela.

Seu perfume ainda me tonteia, seus olhos me prendem como se fossem correntes. Sinto-me enjaulado, e só de pensar em seus lábios... Meu Deus! Quando ela morde aquele lábio, uma necessidade incontrolável de participar surge em mim. Eu quero...

Eu quero beijar sua boca.
Eu quero explorar cada centímetro do seu corpo.
Quero tocar cada pedacinho da sua pele.

Ela me faz perder a cabeça. Estou ficando louco!

Apoio os braços na pia e respiro fundo, tentando clarear a mente. Abro a torneira e encho as mãos de água, levando-as ao rosto para lavá-lo.

Conor: Caralho... — sussurro, ainda atordoado pela tensão que paira no ar.

Respiro fundo mais uma vez e fecho a torneira. Sequei o rosto com papel toalha e saí do banheiro.

Daniel: 'Tá pronto? — ouço sua voz vinda do elevador.

Assenti e caminhei até ele, que segurava a porta aberta para mim. Demos um toque de mão assim que entrei no elevador; ele aperta o botão para o subsolo do prédio, e começamos a descer, mas minha mente ainda estava longe, presa nela.

Subsolo. O lugar onde mantemos nosso escritório ilegal, longe dos olhares curiosos. A verdade é que não temos muito medo de sermos descobertos; movimentamos tanto dinheiro legal que isso acaba disfarçando nossas atividades ilícitas.

Eu fico com a parte divertida: o transporte. Meu tio, por outro lado, cuida da parte chata das negociações. Transportamos drogas e armas de todos os lugares, mantendo contato com as principais máfias. Vendemos para eles, que, por sua vez, distribuem para as ruas e gangues menores.

A proteção é extrema. Nem mesmo os chefões conhecem nossas identidades verdadeiras. Meu tio é extremamente cauteloso e acredita que prevenir é sempre melhor do que remediar. Por isso, nunca falamos nossos nomes durante as missões, não tiramos as máscaras e não revelamos nenhuma parte do corpo, nem mesmo as mãos. Estamos completamente vedados.

Assim que o elevador chega ao subsolo, ele pede uma senha e faz a leitura da biometria de quem está cadastrado. Faço a minha e sigo com Daniel para fora.

Conor: Conseguiram rastrear a carga? — perguntei, me aproximando da mesa central onde as rotas e mapas estavam espalhados.

Pedro: Consegui informações de que a carga está num barracão ao Norte da cidade, chefe.

Conor: De quem é o barracão? — cruzei os braços, sentindo a pressão aumentar.

Pedro: Não tem registro.

Franzi o cenho, trocando um olhar com Daniel. Ele deu de ombros, claramente tão perdido quanto eu.

Conor: Não sabemos com quem vamos mexer. — murmurei para mim mesmo, pensando alto enquanto analisava os mapas. — Bora lá, rapaziada! Temos que recuperar 700 mil. Peguem os fuzis e usem carros comuns de diferentes cores; não quero chamar atenção.

A equipe saiu rapidamente, peguei minhas luvas e coloquei uma balaclava, em seguida saímos do prédio pelos túneis.

Um mês depois.

Sarah

Ele me colocou para trabalhar em sua sala, numa mesa no canto próximo à porta. A primeira semana foi tensa; ele estava presente na maior parte do tempo, mas se mantinha em silêncio, digitando em seu computador ou fazendo ligações. Conversávamos apenas o necessário, apesar de ele me observar com olhares provocantes.

Após essa semana, mal o via. Ele passava bastante tempo com um grupo de cerca de sete caras que o cercava constantemente, incluindo o Daniel, que era o único que eu conhecia. Eu ainda não entendia o que eles tanto faziam; sempre pareciam ofegantes e suados, como se tivessem corrido uma maratona. Lembro-me de Conor dizer que faziam parte da segurança. Segurança de quê? Sendo que no prédio havia segurança por toda parte, e nunca os vi juntos.

Na verdade, há muitas coisas que não compreendo; as contas simplesmente não batem. Já vi os registros da concessionária do meu pai. Fiz estágio com ele e acompanhei as transações por meses. Comparando a concessionária dele com a dos Herrera, percebo que a quantidade de carros vendidos por ano é mais ou menos a mesma, mas o lucro dos Herrera é absurdo — quase o triplo. E isso sem contar as joias e os destilados.

Sei lá, também não quero me meter onde não fui chamada; posso acabar pagando um preço alto por isso. Meu pai sempre dizia o velho ditado de que a curiosidade matou o gato. É tosco e infantil, mas não deixa de ser verdade.

[...]

Cheguei em casa por volta das cinco da tarde, tirei o salto logo na entrada do apartamento e fui direto tomar um banho bem quente e relaxante — eu realmente precisava disso. Passei bons 20 minutos no chuveiro, vesti uma roupa confortável e fui para a cozinha procurar algo para comer.

Rafael: Cheguei! — ouvi a porta bater.

Sarah: Oi. — sorri.

Rafael: Tudo bem? — ele me deu um beijo na testa.

Sarah: Um pouco cansada.

Rafael: Sério? Eu estava pensando em te levar para uma social comigo.

Sarah: Uh! — me animei. — Eu topo!

Rafael: Então vai se vestir.

Corri para o quarto e me arrumei rapidinho; em no máximo quinze minutos já estava pronta. Peguei uma bolsa e nós saímos.

 Peguei uma bolsa e nós saímos

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[...]

Rafael: Sem fazer graça, Sarah. Não quero arrumar problemas hoje. — diz enquanto saímos do carro.

Sarah: Ham? — pergunto, confusa.

Rafael: Veio com esse vestido curto pra quê? — ele responde de forma ríspida.

Sarah: Me erra, Rafael! Deixa eu ser gostosa.

Rafael: Você sabe que não suporto ver eles dando em cima de você. Não estou a fim de quebrar a cara de ninguém hoje, especialmente dos meus amigos.

Sarah: Deixa de ser infantil! Uma hora ou outra vou aparecer namorando e você vai fazer o quê?

Rafael: Matar o desgraçado. — ele estende a mão, balançando os dedos na minha direção.

Sarah: Ata! — gargalho enquanto dou uma corridinha para alcançá-lo e seguro sua mão.

Adentramos o local; era uma mansão de um dos amigos do Rafa. Conheço a maioria, já que esses idiotas que meu irmão chama de amigos cresceram me infernizando lá em casa quando ainda morávamos com nosso pai.

Doce Veneno - amor, ódio e obsessão.Onde histórias criam vida. Descubra agora