É só uma carona.

2K 135 30
                                    

Fiquei olhando a xícara de café, passando meu dedo pela borda, com os pensamentos longe outra vez.
Fácil assim? Eu me lembrava muito bem da Mari dizendo que era impossível conseguir um emprego ali, que eles eram super reservados. Talvez fosse por isso que ele me aceitou tão facilmente; eu estava totalmente acessível para ele também.

Arg! Por que eu fiz isso? Agora sou o que? Uma vagabunda?

Gabriel: Ou! — me cutuca.

Meus ombros pularam pelo susto. Jesus Cristo, se eu me assustar mais uma vez hoje, pode ser que eu infarte. Olhei pra ele sem responder e desviei o olhar em seguida.

Gabriel: Seu café esfriou. — diz arrastando a cadeira e sentando em minha frente.

Revirei os olhos suavemente e virei o rosto, olhando para a rua. Qualquer lugar, menos para essa cara lavada dele.

Gabriel: Qual foi, Sasa? Que carinha é essa?

Sarah: É Sarah, meu nome. — respondi ríspida.

Gabriel: Ainda está brava comigo?

Sarah: Some daqui, Gabriel! Quero ficar sozinha.

Gabriel: Me deixa consertar as coisas. Eu fui um idiota com você.

Sarah: Sai daqui! Não quero que ninguém me veja com você!

A sua risada ecoou nos meus ouvidos, e eu só consegui sentir nojo. O toque da sua mão na minha foi repulsivo. Franzi o cenho, encarando-o com raiva.

Que cara insuportável, pelo amor de Deus!

Sarah: Não toca em mim. — digo entre dentes, retirando minha mão de baixo da sua — Da licença!

Gabriel: Olha aqui, minha gata, não faz... — ele foi interrompido por duas mãos que bateram forte em seus ombros. Ele perdeu o equilíbrio e caiu de bunda no chão, levando a cadeira junto.

Conor: Ela mandou você sair.

Arregalei os olhos e engoli em seco.

O que? Como ele me encontrou aqui?

Gabriel: Qual foi, maluco? — levantou-se rapidamente e o confrontou.

Conor permaneceu em silêncio, encarando-o firme nos olhos. Gabriel foi se encolhendo, e eu juro que queria rir, mas me contive. Logo, o segurança apareceu.

— O que está acontecendo?

Conor: O rapaz aqui está de saída. — disse com uma autoridade inabalável, sem desviar o olhar de Gabriel.

Revirei os olhos e balancei a cabeça em negativa, incrédula com aquele espetáculo. Não consegui evitar um riso involuntário.

Homens.

Gabriel saiu marchando atrás do segurança que o conduzia pelo braço.

Sarah: Não precisava disso. — volto a olhar meu café, tentando ignorar a situação.

Conor: Uhum. — ele diz, pegando a cadeira caída e se sentando de forma despreocupada.

Levanto um pouco o olhar e o vejo se acomodar, com as pernas abertas. O tecido da calça roça em suas coxas musculosas, e o volume...

Deus, o que esse homem tem que me deixa assim?

Desvio o olhar, tentando afastar esses pensamentos indesejados.

Conor: Quem era? — pergunta, cruzando os braços sobre o peito.

Os ombros largos e os bíceps prestes a rasgar a camisa preta que ele usa. O tecido se dobra até a metade do antebraço, revelando as tatuagens no punho e as veias saltadas em sua mão.

Sarah? Alô?! Para com isso! Está no cio, mulher?

Sarah: Ex. — digo, erguendo as sobrancelhas em desdém.

Conor: Hum. — ele observa ao redor, franzindo o cenho.

Sarah: Por que se importa?

Conor: Não me importo.

Sarah: Ah, sim. — zombo com um riso leve — Olha, valeu, mas eu realmente quero ficar sozinha. — me levanto.

Conor: Eu te levo pra casa. — ele também se levanta.

Sarah: Quem disse que vou pra casa? — digo em um tom provocativo.

Que abusado achando que manda em mim!

Dando-lhe as costas, vou até o caixa para pagar. Assim que termino, me dirijo à rua e aceno para um táxi.

Conor: É só uma carona. — sinto a parede de músculos atrás de mim.

Me viro e percebo o quão perto ele estava. Seu perfume se espalha ao meu redor, quase intoxicante. Levanto o olhar, inclinando a cabeça para alcançá-lo.

Sarah: Só carona? — cruzo os braços, desafiadora.

Conor: Eu juro. — ele levanta as mãos, se rendendo com um sorriso despretensioso.

Sarah: Tá. — assenti, dando de ombros.

Passo por ele e logo sinto sua mão em minhas costas, me guiando em direção ao carro. Respiro fundo, tentando não pensar besteira por causa de um simples toque. Ele abre a porta para mim e eu entro. O trajeto até minha casa é silencioso; realmente não quero conversar, muito menos sobre o que aconteceu ou qualquer outra coisa.

[...]

Conor: Disse que não viria pra casa. — ele fala ao estacionar na porta do prédio.

Solto um riso e dirijo meu olhar a ele.

Conor: Você vai começar na segunda, mas se quiser, amanhã tem uma festa para os funcionários na cobertura do prédio.

Sarah: Não sei não... Não conheço ninguém e... — ele me interrompe.

Conor: Vai ser bom pra conhecer. — diz de forma ríspida.

Não entendi a mudança de humor repentina. Parece que ficou irritado quando rejeitei o convite.

Conor: Às nove em ponto, eu passo aqui.

Sarah: Não, eu sei chegar lá sozinha. — sorrio provocando — Obrigada pela carona. — desço do carro.

Conor

Ela bate a porta do carro e eu a observo entrar no prédio. Fecho a mão em punho, lutando contra a vontade de socar meu próprio carro. A cada "não" que ela me diz, uma onda de raiva e pensamentos intrusivos invade minha mente. O que essa garota tem que me atrai tanto? Vou fazê-la se lembrar disso. Vou fazer com que ela se lembre o suficiente para parar de me dizer "não".

Doce Veneno - amor, ódio e obsessão.Onde histórias criam vida. Descubra agora