Era tudo que ele queria...

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Quando acordei, a porta do quarto estava entreaberta, e uma luz fraca filtrava-se pelo corredor. Não me lembro de como cheguei à cama, mas que bom que consegui. De madrugada, estava me sentindo tonta, como se o mundo girasse ao completamente ao contrário, e minha pressão estava tão baixa que mal conseguia manter os pés no chão. A memória era um borrão nebuloso, apagada após o instante em que vomitei. Minha boca estava amarga, e meu coração parecia pesar uma tonelada.

Levantei-me da cama sentindo meus músculos doendo pelos tombos que cai, e me aproximei da porta, espreitando com cautela para ver se ele estava por perto. O silêncio era ensurdecedor, e cada batida do meu coração ecoava em meus ouvidos. Saí do quarto em passos rápidos e silenciosos, pressionando-me contra as paredes. O medo de encontrá-lo me aterrorizava, eu não sabia se conseguiria encará-lo de novo. Não agora.

Passando pelo hall, atravessei a sala em um impulso, subindo as escadas em uma corrida apressada. Meu coração disparava a cada passo, e quando olhei pela janela, avistei ele do lado de fora, com Zeke, próximo à casinha do cachorro. Assim que cheguei ao quarto, entrei apressadamente e tranquei a porta atrás de mim, o som do fecho ecoando como um alívio temporário.

Sem perder tempo, corri para o banheiro. Olhei rapidamente para o espelho e quase não reconheci meu reflexo: estava imunda e acabada, com os olhos inchados e o cabelo desgrenhado. Retirei meu pijama e entrei debaixo do chuveiro, deixando a água quente escorrer sobre mim como uma forma de purificação. O vapor envolvia meu corpo, e por alguns instantes, consegui me esquecer do que estava lá fora.

Depois do banho, me arrumei rapidamente. Peguei minha bolsa e meu celular, entrei no elevador e pressionei o botão para descer à garagem. Cada segundo parecia uma eternidade enquanto eu descia, ansiosa para respirar um pouco de ar e tentar colocar minha cabeça no lugar.

Peguei uma chave qualquer e acionei o alarme; a Lamborghini Aventador respondeu ao comando. Entrei no carro e acelerei, sentindo o motor vibrar sob meus pés e uma revolta intensa tomar conta de mim: eu não ia ficar ali com ele, não depois de tudo que ele disse. Não tinha culpa de nada, e muito menos de ele ser um completo psicopata, capaz de abrir o túmulo da própria mãe. Eu me recuso a me afogar nisso. Entendo a frustração que causei, mas mesmo assim não sinto que estou errada. Sei o que vi e não sou maluca.

Na rodovia em direção à cidade, liguei para Mari, ansiosa para saber onde ela estava. Depois do que aconteceu no nosso apartamento, ela também havia decidido sair de lá, não era seguro, mas só agora percebi que não tinha perguntado onde estava morando.

São tantas coisas acontecendo e tão pouco tempo pra digerir...

[...]

Estacionei apressadamente em frente à mansão, a chuva começando a cair, e eu não queria me molhar. Desci do carro e corri pela escadaria até a porta, respirando aliviada ao tocar a campainha. Elas já sabiam que eu havia chegado; afinal, o porteiro liberou minha passagem, o terreno era enorme e do portão até a casa era uma boa distância.

Sarah: Oi. — forcei um sorriso enquanto abraçava dona Ivone assim que ela abriu a porta. Era reconfortante ver um rosto amigável após aquela madrugada turbulenta.

Ivone: Como está minha linda? — Ivone beijou meu rosto e logo me guiou para dentro, fechando a porta atrás de nós.

Sarah: Estou... indo. — assenti, tentando convencer a mim mesma.

Ivone: Mari está tomando café, vem. — Ela apoiou as mãos em minhas costas e me levou até a sala. Lá estava Mariana, sentada de pernas de índio, com um prato no colo e um misto quente na mão.

Mariana: Ei... — disse suavemente, suas sobrancelhas se unindo no momento em que cruzou os olhos comigo, como se pudesse enxergar minha alma.

Deus, ela me conhece tão bem...

Doce Veneno - amor, ódio e obsessão.Onde histórias criam vida. Descubra agora