Não vou ceder.

947 46 9
                                    

Quatro dias depois.

Sarah

O sol já se punha, marcando o término do quarto dia. Eu poderia ligar para a polícia, mentir que fui sequestrada e eles virem me "salvar". No entanto, quem poderia garantir que o policial que atendesse a emergência não seria o mesmo daquela noite na boate? E se todos fossem corruptos e estivessem do lado do meu pai? Talvez eu estivesse mais segura aqui do que em qualquer outro lugar no mundo.

Quatro longos dias se passaram sem que trocássemos uma única palavra. Ele saía de manhã, antes mesmo de eu acordar, e retornava pontualmente às sete. Nós jantávamos juntos, subíamos para o quarto, ele tomava banho e depois simplesmente desaparecia. Dormia na sala, em outro quarto, em qualquer lugar, menos comigo.

Cada instante ao lado dele era como um vazio profundo que me consumia por dentro, deixando-me ansiosa por um toque, uma palavra, qualquer sinal de sua presença que pudesse preencher o silêncio gélido que pairava entre nós.

Na noite retrasada, ele chegou com duas sacolas cheias de roupas novas: calcinhas, sutiãs, calças largas e camisetas sem decote. Seu ciúmes era evidente, especialmente desde que passei a ficar o dia todo, sozinha, com três homens em casa. E como forma de provocá-lo, continuei usando suas cuecas e camisetas, desfilando pela casa imaginando que ele estivesse me observando pelas câmeras.

Às vezes, me sentava no jardim com o Zeke, deitava sobre a grama e brincava com o cachorro, deixando a roupa embaraçar pelo meu corpo, torcendo pra que ele estivesse olhando e que dessa vez voltaria cedento pra casa. Eu não podia negar a faísca de prazer que sentia ao provocá-lo. A situação era complicada, mas eu precisava encontrar uma maneira de romper esse silêncio entre nós dois, mas eu não queria ser a primeira a ceder. Ele errou comigo, não eu.

Suas palavras se repetiam na minha mente:

"Não é óbvio que eu sou louco por você?"

Então porque não faz nada? Porque não conversa comigo? Por que não me agarra? Não me beija? Porque não quebra esse silêncio? Porra! Porque não dorme comigo, na mesma cama, juntos? Porque prefere estender essa merda?

É doentio, eu sei, mas não escolhemos por quem nos apaixonamos, não é mesmo? E eu não posso mais me enganar, é como se fosse inevitável. E eu e me agarrei a esse sentimento, excluindo tudo ao meu redor, como se só existisse eu e ele nesse mundo, nada mais. Cada pensamento, cada respiração, cada batida do meu coração é dedicada a ele. Estou completamente mergulhada nisso, como se fosse a única coisa que realmente importa.

Meus olhos estavam sempre à procura dele, observando. Seu corpo sarado e musculoso sempre capturando minha atenção, provocando um calor intenso em meu peito e entre as minhas pernas. Seu perfume quando sai do banho envolto naquela toalha traiçoeira que nunca cai, o cabelo úmido caindo sobre o rosto, as gotas de água sobre o corpo fazendo-o brilhar, é hipnotizante, sinto meu coração acelerar toda vez.

A forma como meu coração batia mais forte, quase saltando do peito, quando eu o olhava de soslaio e me deparava com ele me observando intensamente, seus olhos devorando a minha alma, como se pudesse enxergar cada pensamento, cada desejo mais profundo que eu tentava esconder. E ele, de forma tão intensa e sem disfarces, deixava claro o poder que exercia sobre mim com apenas um olhar. Era como se todo o universo se resumisse àquele momento, àqueles olhos penetrantes que me deixavam sem fôlego.

Jesus... E estou perdidamente apaixonada.

Senti um misto de nervosismo e esperança quando ouvi a porta abrir, indicando que ele havia chegado. Zeke começou a abanar o rabinho, sentindo o cheiro do seu dono de longe, como fazia todos os dias. Respirei fundo e peguei o controle, pausando a série que assistia na TV. Estava pronta para encará-lo mais uma vez, ansiando que ele cedesse e finalmente falasse comigo.

Doce Veneno - amor, ódio e obsessão.Onde histórias criam vida. Descubra agora