Run, baby. Run.

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Dois meses depois.

Sarah

Com o cabo da Karambit firmemente preso em meu polegar, giro a lâmina com destreza, alterando sua posição com a rapidez e precisão ensinada por Megan. A técnica é tão eficiente que evita qualquer corte acidental, ao mesmo tempo que transforma a faca em uma extensão letal do meu próprio corpo. Com a lâmina voltada para baixo, meus movimentos se tornam mais precisos, permitindo golpes como um rasgo do peito até a barriga, ou o fatal corte pela garganta, da direita para a esquerda. Essas imagens brutais afloram em minha mente, embrulhando meu estômago, mas reconheço a necessidade de entender esses detalhes, por mais repugnantes que possam parecer.

Ao girar novamente a faca, soltando o polegar do anel, seguro-a apenas pelo cabo, com a lâmina curvada para cima, lembrando-me das palavras de Megan sobre como usar essa posição para atacar com mais força. Dependendo do impulso que empregar, poderia abrir o abdômen de um adversário, arrancando seus órgãos internos e expondo-os às minhas mãos. O horror dessas visões quase faz meu corpo reagir com repulsa, mas a necessidade de dominar a Karambit prevalece sobre meu próprio desconforto.

Megan: Embaixo! – Ela grita com firmeza. Reajo imediatamente, curvando-me e contra-atacando por baixo, exatamente como havíamos treinado.

Sinto o sibilar da minha lâmina passando apenas milímetros dela, raspando no tecido da sua legging, um pouco abaixo do umbigo. Seu olhar fica inquietante e misterioso, acompanhado de um sorriso ofegante ao desviar do golpe.

Megan: Está ficando rápida, Sarah. – Seus olhos reluzem com um toque de orgulho. Acho que mais orgulho do trabalho dela do que realmente de mim.

Suspirei, acenando com a mão pedindo uma pausa. Meu coração dispara em meu peito, que arde como se uma chama selvagem tivesse sido acendida lá dentro. A falta de ar aperta meus pulmões, ameaçando esmagá-los.

Sarah: Preciso de água. – Digo entre dentes cerrados, enquanto luto para recuperar meu fôlego.

Megan encolheu os ombros, um toque de impaciência em seu gesto enquanto se apressava em colocar as mãos na cintura.

Megan: Vamos logo. Temos apenas uma hora antes que ele chegue. – Disse ela, ofegante.

Estávamos explicitamente exaustas, mas Conor me disse que combater a fadiga também fazia parte do treinamento, e eu, incansável, estava determinada a agradá-lo com meu progresso. Eu deixei a faca cair sobre o tatame e, com passos frouxos pela exaustão, saí da academia, caminhando pelo vasto corredor até a escada.

Meus passos soaram pelo hall, finalmente levando-me à cozinha. Abri a geladeira e peguei uma garrafa d'água, abrindo-a com urgência e levando o líquido refrescante à minha boca seca e ardente. Enquanto me hidratava, olhei pela janela, notando que o dia quase havia se esvaído – as últimas luzes do sol desapareciam lentamente sob o manto de um azul escuro.

"Está ficando rápida."

Uma sensação de realização me invadiu ao ouvir sua voz em minha mente. Os treinos com ela têm sido árduos e persistentes; passamos quase todo o dia, todos os dias, treinando incansavelmente. Defesa e ataque, uma hora para cada, um após o outro, até que o dia se esgota por completo.

Quando Conor me contou sobre a Triad, decidi enfrentar o fato e me dedicar plenamente aos treinos, afinal, não há mais nada que eu possa fazer. Eu me recuso a viver dias inteiros na depressão, aguardando o momento em que cometo algum erro e seja capturada. Eles podem estar em qualquer lugar, até mesmo aparecer enquanto saio do mercado ou do meu próprio apartamento, apesar dos nove armários/seguranças que me protegem vigilantemente. Mas a verdade é que, apesar de todas as precauções, não me sinto totalmente segura.

Doce Veneno - amor, ódio e obsessão.Onde histórias criam vida. Descubra agora