Quem você esta vendo agora, Sarah?

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Sarah

Passei os dedos entre os cabelos, penteando-os para trás, enquanto a água quente escorria pelo meu corpo, levando consigo o shampoo. Senti uma leve dor constante quando arqueei as costas para o movimento, um lembrete agudo da lesão que ainda me acompanhava. O médico havia avisado que levaria pelo menos seis semanas para as costelas se curarem, e agora estávamos iniciando a quinta. E eu estava me sentindo bem melhor, agora é mais um incômodo irritante e agudo do que de fato uma dor estridente.

Hoje, minha psicóloga voltou a me perguntar como estou me sentindo em relação ao Conor. No instante em que ela pronunciou seu nome, uma onda de calor subiu pelo meu corpo, como se um fogo estivesse queimando em meu interior. Eu senti os olhos dele me penetrando, fixos em mim, enquanto ele estava sentado na ponta da escada. O corpo todo suado brilhava sob a luz suave do ambiente, realçando cada contorno dos seus músculos definidos. Os cabelos estavam emaranhados, colados à testa por causa do suor, dando-lhe uma aparência selvagem e irresistível.

Jesus Cristo. Ele me faz perder o fôlego.

A mistura de desejo e dor era quase insuportável. O calor que emanava dele parecia me envolver como uma bruma densa e sufocante. As batidas do meu coração aceleraram enquanto eu lembrava de como eu me sentia sobre jeito que ele me olhava — com uma intensidade que poderia derreter qualquer barreira que eu tentasse erguer. Era um olhar que falava mais do que palavras poderiam expressar: um convite e uma advertência ao mesmo tempo. Mas no final, eu não soube responder sua pergunta, e isso me frusta todos os dias.

Eu o amo. Mas a verdade é que não consigo ficar perto dele. A cada vez que ele tenta me tocar — e não falo de um toque sexual, mas de algo tão simples como um leve toque no braço ou uma mão na cintura para me firmar no banho — sinto meu mundo desmoronar. Seu rosto, tão próximo, se distorce em uma imagem que eu não consigo apagar: a de Hassan. E isso me consome de raiva e desespero. Eu odeio isso. Ele ocupa cada canto da minha mente, como uma sombra que não me deixa em paz.

Eu não quero que ele esteja aqui, mas a tortura que Hassan me impôs vai além do físico; ele feriu meu psicológico de uma forma que nenhum médico pode curar. Fui tola e ingênua ao cogitar em acreditar que sua falta de desejo por mim significava bondade. Ele era o único que não babava em mim constantemente. A verdade é que ele estava me destruindo silenciosamente com seus olhares vazios e palavras secas e duras, como lâminas afiadas que cortavam minha alma.

Quando finalmente revidei, ele transformou seu toque em armas — carícias e elogios jogados sobre mim como veneno. Repetidamente, incansavelmente, até que eu chegasse ao ponto de ter nojo de mim mesma e do meu corpo. A cada palavra doce que ele sussurrava, eu sentia a repulsa crescer dentro de mim, como se cada elogio fosse um golpe.

Eu não quero ser bonita para ele. Não quero ser bonita aos olhos dele. E agora, quando olho para o espelho, não consigo ver beleza alguma em mim. E não suporto que o amor da minha vida me veja assim. Tudo o que vejo é uma mulher quebrada, marcada por traumas profundos e um corpo danificado. O que ele vê? Uma mulher despedaçada? Porque é isso que sou agora. Hassan me deixou feia. Feia de alma. Feia de corpo. Ele apodreceu tudo o que eu era.

Esfreguei os olhos, retirando o excesso de água dos cílios, e quando os abri me deparei com Conor, completamente nu, parado há alguns centímetros de mim. A menos de um metro de distância, que era onde ficava o outro chuveiro. Suspirei fortemente me engasgando com ar quase sendo sugado para o buraco errado. Meu coração disparou dentro do peito desenfreadamente, eu mal conseguia piscar. Ele inclinou o rosto para a esquerda analisando meu rosto tão profundamente que eu podia sentir seu toque. Ele me tocou com os olhos.

Senti a água entrar em meus lábios entreabertos, espremi-os expulsando a água, e engoli a saliva a seco. Meu peito começou a subir e descer descompassado, minha respiração estava audível de tão ofegante, soprando algumas gotículas de água que escorriam pelo meu rosto.

Doce Veneno - amor, ódio e obsessão.Onde histórias criam vida. Descubra agora