Doce Veneno - amor, ódio e obsessão.

Deixando uma parte de mim para trás.

Eu não queria discutir, nem ter que esperar sentada, contando os segundos e me perguntando quem chegaria primeiro ao banheiro: eles ou os atiradores. A ideia de vê-lo indo de peito aberto em direção aos tiros me deixava angustiada, mesmo sabendo que ele já tinha deixado claro que era muito mais esperto do que todos aqueles homens juntos. Meu Deus, ele parecia um soldado super treinado — inteligente, estrategista, forte e ágil.

Porra, se eu disser que não estou excitada agora mesmo seria uma mentira, até mesmo para mim. Mesmo diante de toda aquela situação caótica, ele não sentia medo; não errava. Cada movimento dele me mostrava o quão intocável ele era, e Deus, como eu desejava isso.

Espremi os lábios, fechando a boca, enquanto ele me lançou um último olhar que eu não consegui decifrar. Em seguida, virou-se e saiu, com Daniel passando por mim logo atrás. O vento da porta se fechando bateu no meu rosto, fazendo meus cabelos balançarem. Passei os dedos pelos fios emaranhados, jogando-os para trás. O que ele quis dizer com aquele olhar?

Mariana: Estamos aqui há quase uma hora. Por que a polícia ou a ambulância não chega? — questionou, seu rosto demonstrando preocupação enquanto acariciava o cabelo de Megan.

Sarah: Se forem mesmo os homens do Marco, eles têm poder na polícia. Esses desgraçados simplesmente fecham os olhos e fingem que nada está acontecendo. — respondi, sentindo meu coração apertar.

Mariana: Isso é loucura... — murmurou, balançando a cabeça.

Sarah: É a realidade. — disse, cabisbaixa, enquanto me dirigia até a pia.

Abri a torneira e capturei um pouco de água nas mãos, lavando o rosto e arrastando a mão molhada para a nuca. Estava me sentindo enjoada. Fechei os olhos e respirei fundo, concentrando meus ouvidos no som das balas disparando lá fora. O medo e o desespero voltaram com força. Por favor, que nada aconteça a ele. Ou melhor, a eles.

Megan: Marco é quem dedurou Conor para a Triad. Ele era o contato direto deles, no baile, na boate. Estava agindo no silêncio, sem que ninguém percebesse. A Triad tem dinheiro e paga bem. Marco estava cheio de vingança, e com as bolas torcidas porque não tem colhão o suficiente, então juntou o útil ao agradável pra eles. Ele tem a sua vingança, e a Triad atrai Conor, você sendo sempre a isca perfeita. — disse baixo, sua voz surrada e trêmula.

Sarah: Deus, eu tenho vontade de morrer quando me lembro de chamá-lo de sogro e abraçá-lo como se fosse meu próprio pai. — Rosnei, ainda de olhos fechados, imaginando mil e uma formas de matar o desgraçado.

Balancei a cabeça, afastando os pensamentos perturbadores que insistiam em invadir minha mente, e abri os olhos lentamente. Com as mãos ainda trêmulas pela adrenalina, peguei um pedaço de papel toalha e o molhei, sentindo a água fria escorregar pelos meus dedos. Respirei fundo, antes de me virar e caminhar até Megan.

Ajoelhei-me ao seu lado, e quando nossos olhares se cruzaram, ela me encarou com olhos azuis gélidos. Evitei seu olhar penetrante, sentindo uma onda de culpa me envolver enquanto passava o papel encharcado por sua testa e pescoço. Sua pele brilhava sob a luz suave do ambiente, uma camada fina de suor realçando seu bronzeado.

O ritmo de sua respiração era pesado, subindo e descendo descompassado ecoando na minha mente. Era por mim ou pela situação toda? O silêncio entre nós era carregado de tensão, como se o ar estivesse saturado com palavras não ditas. E seu olhar... Era como uma lâmina afiada que cortava meu peito, me lembrando do peso das minhas ações. Será que eu despertei algo que já havia esfriado dentro dela quando a beijei? Essa não era a minha intenção. Eu só queria que ela se acalmasse.

Mas agora, pensando melhor, percebi que talvez eu não devesse ter feito isso. Ela não merecia um fio de teia de esperança — tão fino e frágil — desaparecendo pelo ar antes mesmo de ter a chance de senti-lo nos dedos. Um sopro leve poderia desfazê-lo completamente.