É hora de caçar, baby.

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Sarah

03 de Abril.

O tempo se arrasta com uma lentidão torturante neste lugar, onde as horas se esticam até a exaustão e as noites se tornam um pesadelo ainda mais cruel. Apesar da minha vontade de xingar cada um desses imbecis que habitam este inferno, mantenho-me calada, sufocando a revolta que ferve em minhas entranhas. Queria também poder conversar com as outras mulheres aprisionadas aqui, mas somos reféns das regras cruéis que nos proíbem de interagir entre nós e com os homens.

Cada instante neste cativeiro é uma afronta à minha dignidade. É humilhante. E tudo que posso fazer é obedecer pra não acabar morta ou estuprada. Não sei quantos dias já se passaram, mas sei que não se passou sequer uma semana desde a minha chegada, pois as outras quatro mulheres ainda não chegaram. E parece que estou aqui a meses...

É proibido andar solitariamente pela casa. Sempre há alguém nos seguindo de perto, seja para desempenhar tarefas domésticas, preparar refeições ou até mesmo nos acompanhar ao banheiro. Somos vigiadas 100% do tempo. A presença constante desses nojentos é uma sombra opressora que paira sobre nós a todo momento.

E, por uma ironia cruel do destino, coube a Hassan ser a minha sombra designada - o "médico" indicado por Fariha para cuidar do meu tornozelo machucado. Pelo menos ele não me toca, não quando não está cuidando do meu tornozelo, e também não fala muito, não me desmoraliza e nem faz piadinhas sexuais. No entanto, não posso ignorar o fato de que ele é um dos responsáveis pela minha reclusão neste lugar.

Ontem, fui incumbida de realizar a tarefa ingrata de limpar a cozinha, mas parece que não importa o quanto nos esforcemos, a sujeira persiste, como se ganhasse vida própria. A imundície que esses homens deixam para trás é comparável, ou talvez até superior, à bagunça de um chiqueiro. A cada dia, a repugnância se intensifica, o ambiente ainda mais hostil e insalubre.

A questão da alimentação também se torna um desafio. Eu realmente não consigo comer. Mesmo as refeições sendo preparadas por nós mesmas. A falta de higiene e os recursos escassos transformam cada refeição em um suplício. E para completar, Sabrina foi caçar ontem e retornou com esquilos. Esquilos! Porra...

Hassan: Pergunte logo o que quer saber, não gosto de ser observado desse jeito. – Franziu o cenho, sua voz soando seca e cortante, sem me encarar diretamente.

Enquanto suas mãos desenlaçavam a faixa que envolvia meu tornozelo direito, pude sentir um leve desconforto. O local estava inchado devido a um torção, mas Hassan assegurava que bastava eu evitar muito esforço para que logo estivesse completamente recuperada. A dor ao pisar já diminuiu, embora ainda persistisse um incômodo.

Mordi o lábio inferior, indecisa. Sabia que não deveria falar, mas ele havia me encorajado a fazê-lo, não é? Será que ele vai me punir por isso?

Sarah: Que dia é hoje? – Murmurei enquanto nervosamente cutucava as unhas.

Uma leve risada escapou do nariz de Hassan antes de ele segurar meu pé com firmeza e começar a massagear delicadamente meu tornozelo, como se fosse uma terapia.

Hassan: Três de Abril, princesa. – Disse ele de soslaio, e jurei vislumbrar um breve sorriso em seu rosto.

Hassan aparentava ter minha idade, um pouco mais alto do que eu, seus olhos escuros como a noite contrastavam com sua figura magra e musculosa. Seu cabelo preto raspado à moda militar e a barba sempre bem cuidada.

Hassan: Está atrasada para algum compromisso? – Zombou.

Sarah: Na verdade sim. Tinha um jantar muito importante marcado com minha melhor amiga para amanhã. – Retruquei, em um tom zombeteiro, aproveitando a oportunidade de diálogo.

Doce Veneno - amor, ódio e obsessão.Onde histórias criam vida. Descubra agora