Eu só quero que isso acabe.

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Sarah

Eu não sou maluca. Eu sei o que vi. Ninguém simplesmente desaparece sem deixar um rastro; existem ângulos e esquinas que permitem que as pessoas saiam de nossas vistas, mas não sem um sinal. Ela pode ter entrado em algum carro, mas eu a vi. A mesma mulher de ontem, atravessando a avenida, o hijab cobrindo seus cabelos, os óculos escuros ocultando suas expressões, e seu corpo magro se movendo com leveza. Se for mesmo a mesma de ontem, ela aparenta ser mais velha — talvez uns cinquenta anos? Eu tenho certeza do que vi.

Mariana: Sarah. — Estalou os dedos em frente ao meu rosto, trazendo-me de volta à realidade.

Pisquei, desviando o olhar da avenida e focando em Mariana. Ela arqueou as sobrancelhas, um misto de preocupação e reprovação estampado em seu rosto. Seus olhos rapidamente se desviaram para baixo, e eu segui seu olhar. Para minha surpresa, minha mão direita estava dentro da bolsa de ombro, meus dedos envoltos na Glock. Um frio na barriga me atingiu enquanto franzi o cenho e soltei a arma, retirando minha mão da bolsa com um movimento brusco.

Mariana: O que você está fazendo? — Questionou, sua voz tingida de incredulidade.

Sarah: Eu... — Pisquei novamente, a confusão tomando conta de mim como uma névoa densa. O que estava acontecendo comigo? — Eu não sei. — Sussurrei, sentindo o peso das palavras enquanto elas escapavam dos meus lábios.

A sensação de estar sendo observada crescia em mim; o ambiente ao nosso redor parecia se distorcer, a imagem da mulher continuava a dançar na minha mente.

Mariana: E por que estava olhando pra rua? Você viu alguma coisa? — Ela franziu o cenho, a preocupação evidente em seus olhos.

Sarah: Eu pensei que... Não... Deixa pra lá. Não é nada. — Balanço a cabeça, fazendo um gesto com a mão, tentando afastar o assunto como se ele fosse poeira indesejada.

Mariana: Tem certeza? — Semicerrou os olhos.

Sarah: Não se preocupa. — Assenti, mas a verdade era que uma inquietação crescia dentro de mim.

Bizarro.

Mariana: Então tá... — Ela me lançou um olhar desconfiado, mas não insistiu mais. — Vamos?

Sarah: Uhum. — Confirmei, sentindo uma mistura de alívio e ansiedade enquanto ela se virava.

Ela deu as costas e adentrou a Saint Laurent. Antes de segui-la, dei uma última olhada na rua, engolindo o bolo que se formava na minha garganta. Isso é muito estranho. A figura da mulher ainda dançava na minha mente, como um eco persistente que não queria ser esquecido.

Mariana: Ok, a busca pelo salto perfeito. — Ela respirou fundo audivelmente, observando a loja com os olhos brilhando de expectativa.

Tentei sorrir, mas saiu um sorriso amarelo, forçado, enquanto tentava mostrar interesse genuíno. Eu a segui pela loja como uma sombra silenciosa, sentindo o peso do meu coração pulsando em descompasso. Uma atendente apareceu para nos acompanhar e Mari aproveitou o momento para tagarelar animadamente com ela, me dando um pouco de tempo para respirar.

Peguei meu celular e mandei uma mensagem para ele:

Eu [14:37 pm] ~ Amor, eu vi a mulher de novo.

Mariana: Esse é perfeito! — Ela suspirou exageradamente, interrompendo meus pensamentos com seu entusiasmo contagiante.

Sarah: É a sua cara. — Confirmei, tentando mergulhar na leveza do momento.

Mariana: Tem o 7? — Perguntou à atendente com um brilho nos olhos.

— Vou conferir. — A atendente deu um breve sorriso e se afastou enquanto eu me perdia novamente em meus próprios pensamentos. A sensação de estar sendo observada não me abandonava.

Doce Veneno - amor, ódio e obsessão.Onde histórias criam vida. Descubra agora