Fifty-nine

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*Esse capítulo contém mais de uma narração

Gabriel
Rio de janeiro - (11/09)

- Eu vou dormir na minha casa - sai do banheiro. Percebo ela engolir seco.

- Aqui é sua casa. Deita aqui.

- Não, Gabriel - respira fundo - eu quero ficar sozinha. Só essa noite... prometo. Amanhã eu tô aqui - fala devagar.

Parecia que as coisas iriam se acalmar. Que finalmente teríamos paz. Mas, agora parece que uma nuvem negra nos cobriu.

Eu tô me fazendo forte por ela. Por nós. Só posso chegar no fundo do poço se for para tirá-la. Caralho, amanhã é dia 12, e não tem nada para comemorar por aqui.

- Pretinha... - digo ao chegar perto.

- Não fala, por favor - me interrompe. Fecha os olhos - por favor, preto - a voz sai trêmula. Porra.

- Eu te levo - me limito.

Ela arruma as coisas enquanto eu troco de roupa. Queria que ela dormisse aqui, na nossa casa, na nossa cama, mas talvez é disso que ela precise. A casa dela.

Não consigo descrever a sensação de merda que foi dirigir até lá. Ver a Juliana entrar por aquela porta e eu... simplesmente ter que voltar.

Abro a porta de casa e me jogo no meu sofá.

Meus pensamentos querem me deixar maluco. Amanhã tem treino e não tenho um pingo de sono. Tô fodido.

- Tu tá mal - Fabinho diz ao entrar em casa - brigou com a Juliana? - se senta ao meu lado.

- Não - não dou muita explicação.

A Juliana tá batendo na tecla de ir para a final da libertadores, e não falei sobre isso com o Fábio. Talvez esse seja o momento.

- Cês já estão vendo a passagem pra final? - acena com a cabeça - consegue uma pra Juliana - me levanto.

- Gabi, tu tá ligado que tá uma guerra do caralho lá. Nem a sua mãe e sua irmã vão.

- Binho - me viro para ele - eu sei do que tá acontecendo lá, mas me importo mais com que tá acontecendo aqui - passo a mão no rosto - quebra essa pra mim.

- Quando eu não quebro? - tira o boné - ela não tá bem, né? Sou teu primo, cê pode conversar comigo.

- Eu sei. Tô subindo.

Às vezes eu queria ser um cara menos fechado. Algumas coisas eu consigo falar pra minha irmã e para o Fábio, mas tem coisa que é só com ela, só com a Juliana.

Abro meus olhos ao escutar o barulho da porta abrir. Já passavam das 2h30 da manhã quando peguei no sono.

Minha noiva deita na cama e só percebe que eu estou acordado quando passo o meu braço esquerdo pela cintura dela.

- Bom dia, pretinho - a voz sai baixinha. Só que tinha dias que ela não falava um bom dia.

- Bom dia. Feliz dia 12 - me escuto dizer. Poderia ter ficado calado, Gabriel.

- Feliz dia 12 - o tom é triste. Gira o corpo e encara o teto - a gente tá se enganando.

- Pretinha, me escuta. Olha pra mim - hesito. Tenho que tomar cuidado com as palavras - não é culpa sua. Não é - faço um carinho em seu rosto - Porra, me dói te ver assim. Você precisa... nós precisamos sair desse lugar escuro.

- Desculpa, desculpa, desculpa, desculpa - Enfia o rosto no meu peito e sinto as lágrimas caírem. A abraço na tentativa de que ela não tenha mais uma crise - e se... e se eu... nunca mais sair desse lugar, Gabriel? E se... eu... não puder?

Meu sonho - Gabriel BarbosaOnde histórias criam vida. Descubra agora