PÔR DO SOL

Capítulo 30

Analua

Sai da escola aos prantos, como não tinha nenhum ônibus passando, resolvi ir andando mesmo. Eu chorava sem parar, tudo em mim doía. Por que Gustavo? Por quê?

Não acredito nele e nem sobre a historia da irmã dele. Ele foi egoísta. Estava com vontade de socar aquele rosto perfeito, eu só queria sumir e nunca mais voltar naquela escola. Andei da escola até a favela, mesmo cansada não queria parar. Quando cheguei já fui subindo e o único que conseguia me acalmar era o Didô, sem pensar duas vezes, decidi ir até a boca encontrar o mesmo.

Cheguei à boca avistei Filipe e alguns vapores, quando me aproximei Filipe ficou com uma expressão de espanto.

-''Onde está o Didô? '' Perguntei para o Filipe

-''Coé Analua, oque você tá fazendo aqui? '' Indagou Filipe. Os vapores estavam usando drogas e muitos deles estavam armados e Filipe estava com um cigarro na boca e estava com uma pistola na cintura.

-''Só me diz a onde ele está. '' Digo sem paciência.

-''Ia lá abaixa a bola ai tá ligada? Se tu veio aqui pra encher o saco do patrão é melhor meter o pé, ouviu? '' Ele diz todo sério e os vapores me encaram. Esse Filipe é um saco mesmo.

-''Eu só quero falar com ele, larga de ser idiota. '' Digo ríspida caminhando para dentro da boca, havia um portão na entrada e dentro tinha uma casa com alguns cômodos que servia como o gerenciamento da boca. A casa era um pouco suja, mas mesmo assim adentrei-a e no que eles chamavam de sala havia crianças, adolescentes e homens empacotando as drogas. Todos eles fortemente armado. Eles nem sequer olharam pra mim e sem hesitar me deixaram passar. No corredor tinha uma porta fechada, adentrei-a e avistei Didô sentado perto de uma escrivaninha com vários papeis em cima. Ele estava concentrado no que fazia. O notebook estava ligado e ao lado havia um cinzeiro com várias guimbas de cigarro. Este cômodo era o mais limpo do restante da casa. Didô estava lindo, ele usava bermuda xadrez, blusa branca de manga curta, chinelo da Nike e com um boné aba reta cinza da LA. Esse homem era perfeito demais.

Ele olhou para mim surpreso, e com razão nunca pensei em entrar na boca e agora estou aqui precisando de seus carinhos. Ele se levantou e veio até mim colocando suas mãos em meu rosto, sentir seu toque me fez ficar calma. Acariciei meu rosto em sua mão e o mesmo não tirava o olhar de mim.

-''Oque você está fazendo aqui minha menina? '' O indagou preocupado.

-''Eu preciso que você cuide de mim... E-eu... Quero ser sua... '' Digo assustada com as minhas próprias palavras, olhei em seus olhos e consegui ver um brilho nos mesmos. Ele sorriu e eu retribuí o sorriso sem mostrar os dentes.

-''Você quer ser minha?'' Ele pergunta com um sorriso nos lábios. Eu balanço a cabeça em afirmativa, o mesmo levanta meu rosto para olhar melhor. ''O que aconteceu com você? Você andou chorando, fala pra mim o porquê. '' Ele pergunta preocupado. Abracei-o e ele me envolveu com força em seus braços, comecei a chorar e ele me acalmou beijando o topo da minha cabeça. –''Vamos para a minha casa, lá você me explicar tudo. ''

-''Ok. '' Digo ainda chorando.

Didô limpa minhas lágrimas e me caminha para fora, e todos que ali estavam nos encararam.

-''Filipe cuida da boca, demorou? Talvez mais tarde eu volte, qualquer coisa te passo um rádio. '' Didô diz apertando a mão do amigo. Ele saiu cumprimentando os vapores e pôs os braços ao redor do meu ombro.

Didô estava com uma moto Honda preta e logo chegamos a cada dele, pois o mesmo subiu a mil. Ele guardou a moto na garagem e abriu a porta para eu entrar. Sua casa era tão limpa e bonita, tudo era de perfeita harmonia.

-''Você quer alguma coisa para beber? '' Indagou olhando para mim.

-''Água. '' Digo e ele faz o gesto para que eu sente. Sentei no sofá e ele foi buscar a água. Ele sentou no sofá ao meu lado me entregando copo d'água.

-''Agora conta oque houve Analua. '' Ele pergunta e eu bebo um pouco de água.

-''Didô... Lembra-se de sábado, quando o pedi para ir me buscar naquela praça? '' Pergunto e ele confirma com a cabeça. –''Então... '' Digo sem jeito. ''Eu perdi minha virgindade com um garoto, que eu achava que me amava... Ele sabotou a minha bebida e eu fiquei tonta e quando me dei conta já não era mais virgem e... P-pra piorar ele... Gravou a minha primeira vez. '' Não conseguia terminar, olhei para o Didô e o mesmo não se mexia e nem sequer olhava para mim. –''Hoje na escola o amigo dele mostrou o vídeo para todos... '' Digo pondo as mãos no rosto. Lágrimas caíam sem parar. Didô se levantou e ficou de costas para mim, eu olhava atentamente para o mesmo.

Ele pegou seu revolver que estava na mesa de centro e olhou para mim com os olhos furiosos. –'' Me diga o nome do filho da puta. '' Ele diz e meu corpo congela. Apesar da raiva que sentia do Gustavo eu não queria ver o morto, e sabia que Didô não ia deixar isso por menos. Levantei e fiquei parada na sua frente.

-''Não Didô, por favor, não. Eu não quero que você o mate. '' Digo aos prantos e ele me encara sem entender.

-''COMO NÃO PORRA? ELE ABUSOU DE VOCÊ, E AINDA FEZ UM VIDEO... VOCÊ AINDA GOSTA DELE? '' perguntou furioso.

-''É claro que não Didô... Mas não quero que você o mate, só quero esquecer isso tudo. Por favor, prometa pra mim que não irá fazer nada. '' Digo chorando, colocando a mão em seu braço tentando pegar o revólver que estava em punho. Ele se desvencilha de mim indo em direção à porta.

-''Isso eu não posso prometer Analua. Ele vai pagar caro por ter feito a minha menina chorar. '' Ele diz olhando pra mim com um olhar severo. Ele então sai de casa e eu escuto o barulho da sua moto.

Estava com medo pelo Gustavo, conheço muito bem o Didô e sei o quanto ele pode ser ruim. Tentei impedir, mas foi em vão. Ele saiu com muita raiva. Deus, por que eu fui falar?

No entanto, fico aliviada que ele não saiba quem é o Gustavo, só que para ele descobrir é dentro de segundos. Fico aflita e resolvo então enviar uma mensagem para o Didô.

''POR FAVOR, NÃO FAÇA NENHUMA BESTEIRA. EU ESTOU IMPLORANDO DIDÔ. VOU ESPERAR VOCÊ AQUI NA SUA CASA, VOLTE LOGO. '' Envio e encaro o celular na expectativa de que ele me responda.