Capítulo 66

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-''Morrendo? Para de brincar com isso Sayra. Escuta só não vou ficar tolerando suas brincadeiras não, viu? '' Digo alterando a voz. Essa garota não vai mentir para mim de novo, não vai mesmo.

-''Não estou brincando, antes fosse, mas não é o caso. E também por que brincaria com isso? Pode apostar Analua, eu mudei e essa mudança me fez ver a vida de outro ângulo. Como você sabe eu estou grávida, assim como você ou talvez já tenha ganhado o bebê eu não sei, porém eu ainda estou grávida. Estou de sete meses, quase indo para o oitavo mês e confesso que estou com medo... Medo de perder a minha filha e não conseguir trazê-la ao mundo. Didô está sendo muito prestativo e até deixa a boca de lado só pra ficar me vigiando... Ele está segurando as pontas, mas sei que ele não conseguirá cuidar da nossa filha quando eu morrer... '' Ela diz e sinto meu coração apertar.

-''Oque você tem Sayra? Por que teme pela sua filha? '' Pergunto com o coração na mão. O silêncio tomou conta e sinto as lágrimas brotarem em meus olhos.

-''Me ajuda, por favor... '' Ela diz chorando. –''Estou com um tumor cerebral, ele é maligno... A possibilidade de eu não sobreviver é 99,9% e ele está crescendo muito rápido. Sei que vou morrer, já não consigo nem andar direito e temo pela minha filha, o médico me alertou que ela pode morrer também. Eu não quis contar isso para o Didô, pois ele já está arrasado. Analua, você foi à única mulher que Didô amou e saiba que ele se arrependeu muito de ter traído você e não só ele, eu também me arrependo, talvez, isso seja até um castigo de Deus. Eu oro todos os dias e noite para que você me perdoe e só assim poderei morrer em paz... Quando eu morrer cuida da minha filha, por favor, cuida da minha Maria Esperança, eu a amo muito e infelizmente não poderei cuidar dela e dá todo amor que eu nunca tive em toda a minha vida, não conheço ninguém que irá cuidar tão bem da minha filha como você... '' Minha garganta se fecha e as lágrimas começam a escorrer por toda a minha face. –''Eu pedi para o médico fazer o possível para trazer a minha filha ao mundo; você é a melhor pessoa pra cuidar dela. Sei que tem um coração maior do que imagina Analua. '' Ela diz e toda a raiva que sentia se esvaio.

-''Sayra, você vai sobreviver a isso. Tenha fé. Coloque Deus no controle que o resto ele cuida. Sua Maria Esperança vai vim saudável e linda assim como você... '' Limpo as lágrimas que caiam sem parar.

-''Cuida dela e dele também... Só te peço que cuide dela como uma filha sua e cuide do Didô, pois ele não foi meu companheiro, amante ou qualquer outra coisa que você pense e sim um amigo que cuidou de mim e me respeitou. '' Ponho os dedos na boca e os mordo, lágrimas desciam descontroladamente e logo eu já não tinha controle emocionalmente.

-''Não me peça isso... Não... ''

-''Por favor... '' Desligo o telefone e jogo ele no sofá com raiva. Levanto-me, vou para o banheiro do quarto. Abro a torneira lavo o meu rosto, seco a face e me encaro no espelho.

Não sei se conseguirei perdoar os dois, eu não sei consigo fazer isso. Eu não queria o mal deles, talvez, eu desejei que eles sofressem, mas não era pra tanto. Tenho que sair, pensar um pouco e tomar uma decisão. Pego a bolsa de lado coloco um pouco de dinheiro e meus documentos e ponho mais comida para o zigo, faço um carinho nele e saio do quarto.

-''A onde você vai Analua? '' Indagou dona Marta me abordando no corredor.

-''Vou sair, não tenho hora pra voltar. '' Digo um pouco ríspida e a vejo ficar com os olhos arregalados.

Saio do apartamento e desço pelo elevador, quando chego ao térreo saio do condomínio a fora. Nesses cinco meses eu pude conhecer um pouco de são Paulo, Otávio me levava para vários lugares importantes e chiques. Ando pelas ruas sem rumo, vejo pessoas correndo , caminhando, conversando, carros passando, crianças brincando no parque e tudo era normal, só eu que me sentia estranha aquilo tudo. Já estava um pouco longe do condomínio e por fim decido parar de andar já que meus pés estavam doloridos e minha barriga mais pesada do que nunca. Sento no banco do parque Ibirapuera e tinha algumas pessoas fazendo piquenique e outras correndo. Compro um sorvete de casquinha e fico me deliciando e pensativa ao mesmo tempo.

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