Capítulo 04

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— E que lugar seria esse? – Respondi já desconfiada. Que tipo de cara era ele?

— Na minha lancha. Claro, se você não quiser vou entender. Posso ser um maníaco, ou um sequestrador de morenas bonitas. Você nunca irá saber. – Ele riu, divertido com a situação. E apesar das pequenas primeiras impressões, senti que poderia confiar.

— Ah, tudo bem. Vamos. Não tenho nada para fazer mesmo. Me passa seu número, e nos encontramos mais tarde aqui. Preciso me trocar.

Trocamos números de celular e fui apressada para casa. Coloquei um maiô azul-escuro com decote profundo e uma bermuda jeans. Soltei os cabelos, deixando-os com ondas, já que ainda estavam marcados pelo prendedor. Enviei uma sms rápida para o Li, na intenção de deixá-lo com raiva:

Estou indo passear de lancha com uma pessoa que nunca vi na vida antes. Se eu não voltar daqui duas horas, provavelmente não voltarei mais.

Apesar de já sermos adultos responsáveis, Lian, com toda sua masculinidade e amor não me deixava em paz. No fim acredito que seja coisa de irmão mais velho e que convive com o perigo. E, mesmo assim, adoro provocá-lo.

 🌊   

Cheguei no local marcado alguns minutos depois do combinado, e Thomas estava acompanhado por uma mulher espetacular. Melou, pensei sozinha, o boy já tem gata na mira. Fui apresentada, então, à Anna, cujos cachos e traços me fizeram morrer de inveja. Como alguém podia ser tão bonita? E eu pensando que estava em forma. Coitada.

Nos dirigimos ao embarque, e percebi que apesar da mulher escultural ao seu lado, era de mim que Thomas não tirava os olhos. Tentei puxar assunto com a Anna, para me sentir mais confortável:

— E aí, Anna, você trabalha com o quê? – Fui caminhando para o lado dela.

— Sou atriz. Trabalho mais com teatro. Estamos em cartaz no momento. Qualquer hora você pode me assistir, se não for incômodo.

— Claro. Vou sim. Preciso conhecer mais pessoas por aqui. – Respondi dando um leve sorriso. Quando me dei conta, estávamos entrando na lancha, com um motorista nos esperando. Nos acomodamos sentados, quietos, sentindo a brisa. A lancha foi se distanciando, a ponto de ficar muito longe da costa, e nós, cada vez em um passeio mais particular. Em determinado momento, Anna trouxe frutas e sucos, e nos deliciamos trocando histórias peculiares e divertidas de cada um.

Peguei meu celular e notei que já haviam se passado algumas horas desde que chegamos, e havia várias mensagens do meu irmão. Oi? Até parece que ele não cai nas minhas brincadeiras. Me deitei, preguiçosa, para pegar um sol de fim de tarde, enquanto ouvia os outros dois se distanciarem para a beira da lancha.

Só quando estava com os olhos fechados, minutos depois, Thom – como já havia conhecido seu apelido – voltou e se deitou ao meu lado. Pisquei várias vezes contra a claridade, virei de lado, e notei, com calma, seu traços. Barbas castanhas por fazer e um sorriso magnífico e branquinho. Só podia ter saído de um comercial.

— Então, – puxei assunto quando ele permaneceu quieto – cadê a Anna?

— Foi dar um mergulho. – Ele respondeu sem tirar os olhos de mim. Levantou uma mão e colocou meu cabelo para trás. — Aí decidi vir aqui te fazer companhia.

— Hum... E ela não é sua namorada? Ou rolo? – Tive que perguntar. Não aguentei.

— Ah, não. – Ele riu. — Ela não gosta de homens. E é irmã de um amigo muito bravo. - Ele se aproximou mais e ficamos calados por instantes, cientes da proximidade. — Sabe, imaginei que você fosse bonita. Mas não tanto. Posso? – Ele perguntou, colocando a mão na minha cintura.

— O que? – Respondi baixinho, enquanto ele me envolvia em um beijo repleto de êxtase e calor.

  🌊  

O passeio acabou sendo mais divertido do que o esperado. O dia foi para mergulhar e pegar um sol. Gostei muito de conhecer a Anna, mas muito mais do Thomas. Um cara divertido, estabilizado e não forçava a barra. E já que da última vez o Artur saiu sério da minha casa, resolvi tentar conhecê-lo melhor.

Acabei descobrindo que ele tinha trinta anos, que jornalismo era sua segunda opção de faculdade, mas que acabou se apaixonando pelo ramo. Além do mais, ele tinha uma cadelinha chamada Mel, adorava ouvir música eletrônica e que vivia no litoral há apenas cinco anos.

Quando senti o primeiro vento gelado me fazendo arrepiar, foi que me toquei que já estava anoitecendo. O dia fora tão gostoso, que nem me dei conta do quanto o tempo havia passado rápido. Fiquei feliz ao notar essa evolução, porque, apesar de vir desde adolescente para essa nossa casa, só agora estava realmente me enturmando e criando laços – por que não? – na cidade.

Lembro-me com exatidão do dia que pisei nesse lugar. Eu tinha onze anos, e tudo que eu mais queria era ficar em casa, a cento e vinte quilômetros do mar, perto das minhas amigas e das paqueras que já começavam. Meus pais não me davam outra opção, então eu acabava tendo que engolir, enquanto meu irmão, cinco anos mais velho, adorava passar o dia todo olhando moças passeando de biquíni por toda a orla.

Para mim, nunca foi uma segunda casa. Um segundo lar. E sim um local que eu vinha por obrigação, e depois de alguns anos, acabou se tornando um refúgio para descanso. Não poderia dizer que a paisagem não era bonita ou que não havia tantos atrativos quanto a que a capital poderia me oferecer, mas os nativos mostravam-se sempre fechados, e parecendo que odiavam quem vinha aproveitar o mar.

Após colocar meu shorts de novo, fomos entrando nas acomodações da lancha que já estava com a mesa posta. Comemos macarronada e tomamos vinho. Estava uma delícia, mas não havia o menor sinal de que outra pessoa havia cozinhado, sobrando assim somente o motorista. Estava de parabéns.

Nos deliciamos enquanto chegávamos na costa, e Thomas anunciou que ainda precisava arrumar algumas coisas.

— Bom, meninas, se vocês quiserem esperar, são só alguns itens que tenho que deixar em ordem. Caso queiram ir, podem ficar à vontade.

— Ah, eu já vou indo. Tenho algumas coisas pra fazer. – Anna respondeu, indagando: — Você vem, Flora?

— Vou sim. Aproveito pra te fazer companhia, né? – Dei um sorrisinho, querendo escapar logo do Thom, pois para um primeiro encontro, já havíamos ficado tempo demais junto.

— Hãn, Anna, se você não se importa quero falar um pouquinho com a Flora... – Ele me olhou de maneira profunda, me fazendo arrepiar até os pés. Anna deu risada, à medida que saía:

— Sim, podem conversar à vontade. – Então Thomas se aproximou de mim, pegando na minha mão e me puxando pela cintura.

— E aí, o que achou de hoje? – Ele olhava nos meus olhos, ansioso.

— Eu adorei. Foi... – olhei para a boca dele — Muito bom. Senti sua boca pressionar a minha, voltando a sentir levemente o gosto do vinho que havíamos tomado antes.

 Senti sua boca pressionar a minha, voltando a sentir levemente o gosto do vinho que havíamos tomado antes

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Na Sua Onda [COMPLETO] (Irmãos Soaint 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora