Capítulo 33

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O céu começava a clarear e eu não me lembrava de ter fechado os olhos por um minuto sequer. As palavras da noite anterior ainda giravam em minha cabeça, dando um nó em toda a razão que pudesse existir.

Pela segunda vez na vida Alek teve a decência de não me seguir. Assim que deixei os dois para trás, ouvi gritos e palavrões, mas não me dei o trabalho de olhar. Caminhei perdida pelas ruas de um bairro que não conhecia, até encontrar um táxi e fazer a viagem até em casa.

Assim que as paredes brancas me abraçaram, eu chorei. Chorei enquanto soluçava e soltava alguns gritos de torpor. Encolhida no sofá, as lágrimas rolavam rosto abaixo e eu não tentava segurá-las. Parecia irreal que tudo estivesse acontecendo.

Alek não chegara a mentir para mim, porque nunca havíamos entrado no assunto, mas eu simplesmente não podia acreditar que ele era aquele tipo de homem. Do tipo canalha, que abandona alguém quando a pessoa está precisando. Do tipo que trai.

Trair. A palavra fez loops em minha cabeça enquanto eu assimilava as palavras de Jasmine. Se tudo aconteceu como ela disse, que motivos eu teria para perdoá-lo?

Não tínhamos selado nossa relação, mas para mim tudo parecia tão encaixado que seria burrice não pensar que estávamos nos levando a sério. E, com meus princípios à mesa, eu deveria nunca mais olhá-lo na cara.

Sempre apoiei as mulheres. Sempre. Não deixaria de considerar a dor de Jasmine ao ser enganada só porque estava apaixonada pelo Alê. Muito pelo contrário: jogaria tudo novamente na cara dele e o obrigaria a pedir desculpas para nós duas. E pronto, deixaria tudo de lado. Faria as malas e procuraria outra cidade do litoral para me abrigar.

Mas enquanto os raios de sol entravam sorrateiramente pela janela, percebi que aquela era de longe uma decisão errada. Ora, eu poderia simplesmente evitá-lo. Apagar seu número e não abrir a porta quando ele batesse. Simples assim.

Esfreguei os olhos inchados e me levantei à procura do celular. Depois de alguns minutos o encontrei jogado no canto do sofá sem bateria. Coloquei-o na tomada e vagarosamente entrei embaixo d'água. Com as roupas cheirando à decepção e lágrimas que queimavam os olhos, entrei embaixo do chuveiro.

Meu olhar mirava um ponto vago enquanto eu me agachava e tentava limpar meus pensamentos. Ouvi distante o barulho de mensagens chegando, mas permaneci sentada. Essa não era eu. Definitivamente não era. Mas eu precisava sentir. Eu precisava que a dor rasgasse meus membros por dentro. Não duraria muito, eu sabia pelas decepções anteriores que sofri.

Mas talvez, só talvez, essa não fosse igual as outras.

🌊   

— Você não pode estar falando sério! – Kristie disse após longos dois minutos de silêncio do outro lado do telefone.

Depois do banho, fui forte o suficiente para ligar e dizer a ela o que havia acontecido. Pelo que Kris me explicou, Anna enviou a ela mensagens insistentes dizendo que Alek havia fodido meu coração. Exatamente essas palavras. Mas eu não havia sido forte o suficiente para não choramingar enquanto falava pela primeira vez as palavras ouvidas de Jasmine.

— Esse filho da puta! Eu vou cortar o pau dele fora! – Kristie falou novamente e, pelo ruído, imaginei que ela estivesse socando a mesa do escritório. — Eu juro, Flora, vou conseguir uma folga o mais rápido possível e vou resolver as coisas por aí.

— Não precisa, Kris. – Falei baixinho, já desgastada do assunto. — Só preciso ficar um pouco sozinha, tá bom? – Disse enquanto secava mais uma daquelas lágrimas salgadas.

— Precisando ou não, você sabe que farei. – Ela disse enquanto dizia algumas coisas raivosas depois disso, mas que não prestei atenção pelo som inesperado da campainha.

Desliguei na cara da minha amiga enquanto trôpega me levantava para olhar. Meu coração foi até a garganta assim que o avistei pela fresta da cortina. Alek estava parado do outro lado do portão, e seu estado era indecifrável.

Não estava desgastado como eu, mas certamente estava abalado. Com uma regata branca e chinelos, ele mexia nas mãos nervosamente. Ele estralava os dedos e olhava pros lados, ansioso. Tocou mais uma vez a campainha enquanto meu celular começava a tocar.

Era Kristie, mas não consegui atender. Concentrada demais em seus olhos que olhavam a casa fechada, senti minhas pernas bambearem. Me dei conta das palavras que disse sozinha pela noite. Que estava apaixonada por ele.

Talvez tivessem sido ditas pelo calor do momento. E ele não sabia, afinal. Não saberia tão cedo. Mas ao vê-lo tão diferente e sem saber que estava sendo observado, essa paixão esmagou meu peito, e eu soube que as palavras não eram mentirosas. 

 

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Na Sua Onda [COMPLETO] (Irmãos Soaint 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora