Capítulo 66

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Passei a manhã  com a consciência surpreendentemente tranquila.

Ao contrário das outras vezes em que levei uma pancada no coração, dessa vez não fiz alarde para todo mundo. Não mandei mensagens, não liguei, não chorei no ouvido de ninguém. Todas essas fortes emoções de Alek me esgotavam, e eu não sabia até quando poderia aguentar. Digo, por que eu ainda aguentava?

Meu coração bobo gritava que era porque eu o amava, ou estava apaixonada por ele. Ainda não havia estabelecido um patamar ou algo do tipo. Mas a relação não devia ser tão difícil, certo? Parecia que sempre estávamos em um vai e vem infinito. Quando um lado cedia, o outro dificultava, ou vice-versa. Queria tanto que fôssemos como os típicos casais de verão: somente curtição e alegria. Mas acho que não estávamos destinados a isso. Sequer éramos um casal oficial.

Alek mexe comigo. Deus, como mexe... Mas também me confunde, me espanta, me faz recuar. Reli a última cena do livro tentando me lembrar onde havia errado, onde havia colocado mais realidade do que o pretendido, mas não encontrei. Não encontrei como leitora, mas encontrei como protagonista daquela história. Sabia que ele havia lido e uma luz se acendido em sua mente no mesmo instante.

Não conseguia entender aquela montanha russa de sentimentos. Juro. E estava tão esgotada de tentar entender que quase cedi ao álcool. Foi por um triz que a última garrafa de cerveja não foi mandada goela abaixo. Tomei consciência de mim e das minhas consequências, e sabia que não poderia me embriagar cada vez que tivéssemos uma briga.

Eu havia evoluído tanto desde o meu tratamento para alcoolismo, que não poderia regredir só por causa de um cara. Cheguei a constatar até que eu precisava de um psicólogo para aprender a respirar fundo e lidar com maturidade nesse tipo de situação, mas era algo que eu precisava resolver depois das férias. Por hora, podia deixar o tempo passar e ver no que isso iria dar.

Eu não estava totalmente errada. Meu erro havia sido deixar a realidade ultrapassar demais a imaginação durante o processo, mas não havia exagerado tanto assim. Eu tinha a consciência limpa e a noção de que não havia revelado tudo. Ora, eu havia colocado outro nome, características diferentes e uma protagonista completamente oposta a mim.

Eu poderia listar, a qualquer um que quisesse, o quanto éramos diferentes do livro. Mas Alek não via isso. Não via porque ele havia lido poucas páginas e porque estava cego pela raiva. Ele sequer havia me deixado explicar. Estava tão cansada de ter que argumentar algo em minha defesa, que decidi tranquilamente não correr atrás dele. Pelo menos não no seu primeiro dia de volta ao trabalho.

Mas pela tarde isso mudou. Pela tarde o sentimento de culpa me esmagou, me levou para o chão e me fez beber aquela garrafa. Não fui atrás de outra, no entanto. Sequer senti o efeito do álcool. Foi por pura necessidade de alívio, eu dizia a mim mesma. Até me ajoelhei e prometi a Deus que largaria daquela loucura e de estar me viciando de novo. E, para mim, promessa com Deus era coisa séria.

Não havia prometido nada a Ele em toda minha vida, até o momento. Não que eu me lembrasse. Mas cheguei a isso e não quebraria minha promessa. Não que eu fosse uma das pessoas religiosas exemplares. Longe disso. Mas minha fé continuava lá, sempre me confortando quando eu estava com problemas.

Quando senti que não poderia aguentar mais, liguei para Kristie. Expliquei toda a situação para minha melhor amiga e ela quase disse as palavras que eu queria ouvir.

— Mas esse Alek é do caralho, hein, amiga? Quem ele pensa que é pra sair batendo a porta da sua casa? Se fosse eu, tinha colocado ele em seu bendito lugar! – Ela disse me defendendo, mas não durou muito. — Só que você também não é santa, né Florinha. Amiga, você sabe que dá zebra fazer esse tipo de coisa, ainda mais se mostra para a cuja inspiração.

— Eu já disse que não pretendia deixar ele ver, Kris. Mas aconteceu. Em um minuto estávamos de bem, e no outro ele disse que por ele acabou, que não me deixaria publicar o livro.

— Hum, duvido muito – Kristie disse suspirando — Acho que ele só disse da boca para fora. Se vocês estavam tão in love como me contou, acho que ele só está bravo mesmo. Deixa o tempo esfriar que logo vocês estão se amassando novamente. – Ela riu sozinha no final.

— Não sei, amiga. Estou tão cansada de tudo isso, sabe? Queria que minhas férias fossem tranquilas. Pensei que ficaria sozinha o tempo todo, só escrevendo e molhando o pé na areia. Nunca pensei que fosse arrumar tanta bagunça no meio. – Falei suspirando.

— Flor, você me disse que só sairia daí com um novo best-seller, e não quero menos. Digo isso como amiga e revisora. Esquece esse mané por enquanto. Volta a trabalhar no seu livro, depois você vê como fica a situação com ele.

Concordei com a Kristie e logo nos despedimos, pois ela tinha que voltar ao livro da vez no trabalho. Fiquei me perguntando até que ponto sairia prejudicada por Alek e eu termos acabado de vez (palavras dele). Ou até que ponto eu seria capaz de lutar pelo meu novo livro, caso fosse preciso.

 Ou até que ponto eu seria capaz de lutar pelo meu novo livro, caso fosse preciso

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Na Sua Onda [COMPLETO] (Irmãos Soaint 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora