~03~

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  Sento-me calma na cama, me espreguiço abrindo meus olhos devagar, e observo meu quarto com cor amarelada pela cortina, decido levantar logo para não voltar novamente a dormir. Abrindo a cortina percebo que o dia está nublado e não ensolarado como pensei de início, afasto os fios pequenos do meu rosto e resolvo fazer a minha rotina matinal, um banho e escovar meus dentes. Termino de escovar os meus cabelos e suspiro olhando minha figura, está bom! Desço as escadas, pronta para preparar um chá, mas paro de descer os degraus quando me lembro de que não tem chá, o último tomei ontem! Subo novamente ao meu quarto e troco o calção azul por um moletom preta, uma blusa branca e sapatos surrados e velhos, resolvo pegar uma blusa de frio não muito quente lá fora de e está um pouco frio. Retorno a descer para a sala pegando o dinheiro que meu pai deixa sempre em caso de emergência e está sem meu chá é uma grande emergência, antes de sair olho pela janela, borboletas no estômago e um frio no peito, respiro fundo e coloco a minha cabeça que não me vai acontecer nada. Saio do apartamento andado os grandes corredores, implorando para chegar logo ao elevador, assim que estou dentro do caixote de ferro aperto o botão e espero o mesmo chegar ao último andar, ouço aquele som que o elevador emite e nunca achei tão rápido a sua ida até o hall.

  Assim que saio do edifício a brisa bate em meu rosto pálido, eu não sou lá menina atraente, apenas o que eu amo em mim são os olhos amarelados chamativos, era o que meu pai dizia. Meus olhos lembravam-me de minha mãe toda vez que eu me olho no espelho, mas eu não gosto das sardas de meu rosto nem dá minha pele tão branca, muitas pessoas achavam-me linda por ter traços tão bem 'feitos' como diziam, mas eu não acho, para mim não sou bonita. Ponho uma mexa de meus cabelos atrás da orelha enquanto espero o sinal ficar vermelho, quatro rapazes vem em minha direção e eu só peço que não seja Jeremian, por favor. Olhando de soslaio e sentindo minhas pernas trêmulas, vi que se tratava do mesmo e seus amigos, droga! Eu apenas rezei que eles passassem direto e não me vissem, mas minhas preces não foram ouvidas, eles pararam no ponto junto a mim e as risadas foram ouvidas.
  — Olá Angel — sinto a mão do rapaz sobre meus cabelos e atravesso a rua em arrancada assim que o sinal abre, me odeio por não saber defender a mim própria. As pessoas me relacionam a uma menina de catorze anos, mesmo tendo dois anos a mais do que acham, não sei se consideraria bom ou ruim, mas odeio ser tratada como uma criança, uma vez que fui obrigada a abandonar a infância.

  O mercado fica um pouco distante de onde eu moro, mas tudo menos pegar um ônibus lotado para não andar algumas quadras. Ando de cabeça baixa pelo sereno em passos longos e rápidos apenas para ir logo ao mercado e voltar, pressiono as mangas da blusa de frio nas unhas.
Nessa época do ano todas as pessoas são elegantes, sempre de roupas escuras, botas, cachecóis e sombrinhas, está estação chuvosa e fria traz as ruas um desfile de guarda-chuvas e de moda, por mais que estejamos no verão, agora estava numa semana nublada sem muito sol e mais ventanias o que eu adoro, são dias perfeitos para um chá e um livro. Sempre ansiava para chegar logo à estação fria para que eu vestisse os casacos e os cachecóis, roupas quentinhas ou até mesmo sentasse em frente à janela vendo à chuva cair.

  Chegando ao mercado vou para as prateleiras onde tem os chás, pego umas três caixinhas de camomila e ando até uma de leite vou para o caixa e espero minha vez. Faço o mesmo trajeto para casa e quando chego, deixo tudo em cima do balcão e ligo a televisão, tirando o capuz de cima de mim, soltando um longo suspiro sentindo as minhas pálpebras geladas e doloridas. Enquanto na televisão passa Will Smith, deixo a água no fogão e me aconchego no sofá pequeno e confortável, meu telemóvel toca e então vejo a foto do homem mais velho no ecrã.
  — Oi pai — Daniel estava demorando a ligar.
  — Oi Angel — disse, mas eu não consigo escutar direito pelo barulho de falatório atrás — filha eu vou chegar mais cedo antes de uma semana, está me ouvindo? — que?
  — Sim, mas por que antes de uma semana?
  — Era apenas uma entrega aqui em Doncaster mesmo — o barulho agora estava menor.
  — Onde estás?
  — Eu encontrei uma velha amiga e viemos para a casa dela, está tendo uma festa dos nossos antigos amigos e eu reencontrei uns amigos de infância — está alegre.
  — Espero que se divirta pai, quando chega? — não que eu não queira que ele não esteja aqui comigo, mas isso foi bem imprevisto.
  — Talvez amanhã filha. Por quê?
  — Por nada pai apenas curiosidade.
  — Chamou alguém para ficar contigo?
  — É não deu, sabe, viagens de verão — tomara que ele acredite.
  — Ah, sério? Ok, mas tome cuidado qualquer coisa me ligue — disse a voz grave que tanto reconheço — vem Daniel — a voz feminina do outro lado me fez pensar se meu pai estaria realmente numa festa, mas tirei esse pensamento de mim, meu pai já era um homem adulto e maduro sabe tomar conta de si próprio.
  — Ok pai vai lá eu vou desligar.
  — O.K filha papai te ama.
  — Também — desligo o telefone e suspiro para mim mesmo. De quem seria aquela voz? Ok para Angel! Você não precisa ficar assim, seu pai precisa mesmo de divertir e esfriar a mente. Vou à cozinha preparar meu chá, assim que pronto sento no sofá e continuo assistindo a série.

*

  Estou na biblioteca procurando livros novos, à tarde já está se indo embora e o frio está dominando as ruas, a biblioteca era o único lugar aberto.
  — Senhorita já iremos fechar — a voz do garoto mais alto que eu interrompe meus pensamentos. Bom, pelo menos esse era o único lugar aberto, pego o livro que está a minha frente e espero ele anotar, assim que saio do edifício reparo o quão deserto está à rua, dou alguns passos até chegar ao ponto de ônibus sento-me ali e ouço apenas minha respiração ofegante pelo fato de estar frio, folheio o livro até o grande automóvel parar a minha frente e entro sentando numa poltrona encostando minha cabeça no vidro, a biblioteca fica no centro de Manchester bem distante de onde moro, é bem raro eu vir a este lugar, mas é um dos melhores dessa pequena cidade.

  Na rua do apartamento já está escuro, os postes estão iluminando numa cor azul a rua e poucas pessoas andam por aqui, ando rápido e paro assim que vejo o carro conhecido, o que ele faz tão cedo aqui?

Destinados - Um Começo Para O Fim - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora