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Carl

  Já havia se passado quase dois meses desde tudo e nesses dois meses os meus pensamentos tiveram uma reviravolta igual meus sentimentos, o medo que eu tenho de me afastar, de causar dano a ela, medo de querer ajudar e só piorar tudo, esses meses foram loucos. Aconteceu uma viagem nada planejada, que rendeu muitos sentimentos e desabafos, e essa viagem me deu lembranças e a lembrança me trouxe outras coisas do passado que eu havia enterrado. Esbarro com a menina que me tira dos devaneios, o tom avermelhado familiar nas suas bochechas me recorda que fazia tempo que eu não o via, fazia tempo que eu não reparava. Dois meses parecia tão pouco, mas para mim, pareceu muito. Era tarde da noite e nem sinal de Daniel e Elina. Na cozinha preparo um café enquanto leio um livro, agora estou sozinho e posso me recordar que há cinco meses era assim, a casa ficava só para mim quando Elina ficava de plantão, altas horas de filmes, livros e música. Preparo o café e sento sobre à mesa logo os pensamentos de antes surge na minha cabeça novamente, foi um mês longo dentro daquela casa no Havaí, estou sentindo que o Carl aqui de dentro está surgindo e eu não consigo lutar contra ele. Não sei o que aconteceu comigo hoje, o porquê um ataque de ciúmes perante a menina, porque beijos trocados e a minha mudança de humor ao ver o caderno que até mesmo deixei que escrevesse nele, eu só estou a piorar tudo, talvez algo aqui dentro reine agora maior que o meu ódio por mim mesmo e a culpa, talvez seja a minha bipolaridade. Ou eu só esteja me enganando tentando não aceitar que criei sentimentos por ela.
  — Carl — Elina está parada a minha frente. Não sei quando surgiu, mas aparentemente já  chegou do passeio com Daniel.
  — Hum?
  — Você pode ir no mercado?
  — Irei sair, mas posso passar no mercado — digo acabando meu café. — Onde estava?
  — Estava mostrando a redondeza para Daniel, mas para aonde vai? — a olho nos olhos.
  — Por aí — levanto, a mesma me entrega o dinheiro, no entanto, não aceito passando por ela e subindo as escadas. Acabo por me esquecer que estou a dividir o quarto com Angel e quando entro sem bater tenho a visão do seu corpo apenas de lingerie.
  — Carl! — me viro de costas com sua voz em um grito abaixo e vergonhoso.
  — Desculpe! — solto uma pequena risada pela careta que a mesma fez, mas paro quando sua imagem apenas de peças íntimas voa pela minha mente, ela é bonita, agora eu não vejo mesmo motivos para sua doença, tem um corpo lindo e nenhuma das maneiras parece acima do seu peso ideal. Está mais magra desde que eu a conheci, mas continua linda.
  — Pode virar — sua voz tímida me fez a olhar, eu havia me apaixonado por alguém tão diferente. Onde estão as garotas de cabelos curtos, altas e mais velhas? — pare de me olhar como se eu te devesse cem reais — ela sorri e vejo suas sardas ficarem avermelhadas. Passo pela menina de olhos chamativos querendo cortar totalmente qualquer coisa entre nós e vou a caminho da casa de banho. Quando entro, o cheiro diferente bem agradável entra nas minhas fossas nasais, é como morango. Não pude deixar de sorrir, eu gosto disso, sinto a minha nuca e tiro o sorriso do rosto, minhas mãos automaticamente já vão aos fios que estão crescendo e abaixo-as apertando meus dedos contra a pele. Eu preciso controlar. Tiro minha blusa observando cada parte de meu corpo, respiro fundo soltando o ar em seguida e ligo o registro, deixo que a água fria leve toda tensão dos meus músculos, mas não levou as sensações ruins que querem se apoderar do meu corpo. Termino meu banho indo direto ao quarto, tranco a porta, para que ela não entre e tenha que corar milhões de vez por ver alguém nu. Coloco uns jeans normais, uma blusa na cor amarela e uma jaqueta. Olho o relógio e já são nove da noite.

   No carro enquanto escuto uma banda qualquer no rádio e procuro um lugar para me divertir, paro no sinal e ao lado tem uma farmácia, eu deveria comprar meus remédios, tudo está indicando os efeitos de não toma-lo. Uma buzina atrás de mim me faz pular no volante e acelero, eu não preciso deles, não preciso daqueles remédios idiotas nem mesmo de terapeuta nenhuma.

   Paro em uma viela onde tem vários adolescentes, música alta e cheiro de bebida pura, aqui deve ter o que eu preciso. Por precaução enquanto desço as escadas estreitas olho a carteira.
   — Perdeu.
   — Ei! — começo uma corrida entre as pessoas a minha volta atrás do ladrão da carteira, ele derruba uma menina e a seguro pelo braço levantando, novamente volto a correr e desviar das coisas que ele derruba, as pessoas a nossa volta abre espaço para a nossa corrida, e ele começa a descer uma escada que sai em uma multidão. O perco de vista depois de dez minutos enquanto o som estronda minha cabeça.
   — Ei! — o vejo subir desta vez e vou atrás desviando de todos, ele na direita eu na esquerda, ele não parece me vê já que olha para trás e não para o lado. Então pulo a sua frente e lhe dou um murro, ao cair o seguro e prendo seu braço entre meus joelhos enquanto ouço seu grito, várias pessoas a nossa volta olhando. — Solta a carteira — puxo seu braço pressionando meu pé no seu rosto — A CARTEIRA — assim que solta torço seu braço e ele grita. Levanto arrumando minha roupa olhando as pessoas na minha volta enquanto três rapazes segura o menino que chora, o olho enquanto se vai e depois olho as pessoas que se afastam ainda me olhando. Então vejo o que eu vim buscar.
  — Você tem um baseado? — o garoto baixo e loiro acena e me entrega, ofereço os dez dolores, mas ele não aceita e se afasta para que eu saia, com isso volto para o carro.

Destinados - Um Começo Para O Fim - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora