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   Entro no quarto em disparada e fecho a porta, seguro na mala em cima do guarda roupas e jogo a cama logo começando uma série de espirros chatos, abro a gaveta e seguro a cartela de remédios antialérgicos, paro por minutos observando que as outras duas cartelas estão vazias, fecho a gaveta e desço o comprimido com um gole de água, percebo que minha respiração está alterada e me olho no espelho, meus olhos já ardem pelas lágrimas e jogo a garrafa para a cama e abro o guarda roupas separando peças. É inevitável, eu sei que agora tudo o que roda em torno desta garota me lembrará Loren. Por que isso? Por que alguém tão parecido com ela? Eu não vou substituir a minha irmã, nunca! Mas, se for para ter uma outra pessoa que não seja com aquilo que ela tanto odiava, por que ela estava vomitando?
   — Ugh! — paro de pegar as roupas e tento segurar os cabelos inexistentes na minha cabeça, preciso parar de pensar, preciso chorar e jogar essa agonia para fora, fecho com força meus olhos enquanto lágrimas insistem em descer, ardem meus olhos e queimam. Quando sinto que minha respiração está regulada e que minha cabeça parece estar no lugar abro meus olhos, pontos negros se formam na minha visão por segundos e respiro fundo várias vezes, quem disse que eu preciso daqueles remédios idiotas? Começo a arrumar novamente minhas coisas também não esquecendo de colocar meu caderno de composição e o álbum de Loren. Tomo um banho para tirar todo resquício do que tive agora pouco, faço a barba e o bigode, e analiso o pouco cabelo que cresce na minha cabeça, deixo de olhar o espelho e ignoro os fios. Termino meu banho e me arrumo com calças largas pretas, coturno e uma regata de algodão branca, pego no violão e saio do quarto trancando o mesmo, será um mês fora e minha mãe chegará com certeza antes de mim o que faria a curiosidade dela fazer a mesma a entrar no meu quarto. Minha mãe não entrava nele a um bom tempo e eu não quero que entre agora. Ao descer as escadas a menina já está sentada no sofá com uma mala ao seu lado. Só pode está a brincar.
   — Tudo que você precisa está aí? — me olha assustada, talvez por não me ver entrar na sala.
   — Sim. Por quê? — olha sua mala e em seguida para meus olhos.
   — Você é mulher. Minha irmã quando saia por uma semana levava duas dessa e uma mochila — realmente Loren fazia isso.
   — Mas aqui tem tudo que eu preciso — cora.
   — Tem maquiagem, produto de beleza, livros, roupas, sapatos, produtos de higiene? — a mesma continua corada e a encarar seus pés.
   — Não uso nenhum tipo de maquiagem a não ser batom Carl, tenho alergia aos produtos, e sim tem todo o resto apenas nessa mala — me olha.
   — Vamos — suspiro e a mesma levanta. Antes de saímos mando uma mensagem para a moça que fica na casa enquanto a família viaja, me despeço de Thomas e deixo uma boa quantidade de comida para o bichano até a moça chegar ele come tudo. Coloco as minhas coisas no carro e a ajudo com sua mala, a mesma entra no banco de trás e eu a olho.
   — Pode sentar na frente eu não mordo — parece tensa.
   — Eu não gosto do banco da frente — indiferente coloco o cinto e reparo que parece impaciente.

  Uma boa parte da nossa viagem não conversamos, não temos o que conversar e prefiro assim, levá-la foi o mínimo que deveria ser feito, estou me esforçando para pelo menos aceitar a sua existência, gosto de Daniel, não gosto da ideia de substituição da minha irmã, quero deixar isso claro para ela, Angel não será para mim como uma irmã e espero que minha mãe nem pense que olharei para ela desta forma.
   — Não tens medo de avião, tens?— olho pelo retrovisor e parece ter pensamentos longe, mas antes que eu pergunte novamente me responde:
   — Não — nossos olhares se encontraram e volto a olhar a estrada.

   Leio uma revista que revela os acontecimentos dos últimos jogos e lutas que não assisti nas noites passadas por estudar, Angel está ao meu lado lendo um livro, curioso observei uma boa parte do tempo o que lia. Um livro de romance, mas ainda não sei sobre nada, a capa parece antiga, deve ser de época, olho o relógio de pulso, falta pouco tempo para o nosso vôo, chegamos até que adiantados, assim como essas passagens, mais um dia e não poderia pegar o vôo, ou não. Minha mãe poderia ter planejado isso com Loren.
  — Senhores passageiros o voo um-quatro-zero destino ao Havaí embarca em dez minutos, por favor se direcionar ao portão três repetindo. Senhores passageiros o voo um-quatro- zero destino ao Havaí embarca em dez minutos, por favor se direcionar ao portão três.

Destinados - Um Começo Para O Fim - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora