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  Pela noite Carl havia saído junto a Conan, estou a aprontar a comida para Elina e Daniel que não chegaram pela tarde, passei o dia junto a Carl a aproveitamos um ao outro. Enquanto levo as roupas para o andar de cima acabo escorregando derrubando o cesto das mãos, ao cair posso ver que Carl deixou a porta do porão aberta, devo descer e apreciar melhor as pinturas? Levo toda as roupas a seus devidos lugares em cada quarto e ao descer vejo que a porta da frente se abre dando visão para Elina e Daniel, vou até a porta do porão e a fecho voltando a sala rapidamente.

   — Angel querida! — caminha até mim — como foi a festa? — me abraça.
   — Você sabia? — a olho incrédula, a mesma também parece confusa.
   — Pelo modo que chegaram ontem não foram a um cinema — me diz, Daniel não está mais a sala.
   — Que horas chegamos?
   — Pouco mais das quatro da manhã, Daniel não sabe, não se preocupe, para ele foram a um cinema — sorri para Elina e a abraço.
   — Obrigada Lis — a mesma sorri.
   — Tomem cuidado! Vou tomar um banho — sobe as escadas e respiro fundo, agora entendo porque não ouve nenhuma reclamação de Daniel. Me sento sobre o sofá e me pego a olhar o cronograma escolar, falta dias para o casamento deles e depois uma semana para formatura, então não tenho mais trabalhos, jogo para lá o celular ligando a televisão numa série qualquer.

   Depois do café juntos e ficar bastante receosa com o fato de Daniel não ter dito uma só palavra sobre ontem, por mais que pense que fui só a um cinema, cheguei tarde o bastante para ter ido além do cinema. Prefiro não pensar muito nesse assunto e fico a ler um dos livros que tenho no meio dos milhares guardados, preciso voltar aos meus hábitos na literatura. A luz da abajur no criado mudo dando uma única iluminação amarelada ao quarto sombrio e frio e Thomas a me fazer companhia enquanto seu dono está fora, confesso que Thomas tem sido um ótimo amigo companheiro. Falando em Carl, ouço suas botas sobre a madeira da escada e vejo a sombra embaixo da porta passar.

  Passo mais alguns minutos a ler antes de deixar o livro sobre a gaveta o guardando, levanto da cama e calço minhas sapatilhas. Desço as escadas apenas iluminadas pela luz da cozinha e quando chego lá, a um Carl sozinho a tomar uma xícara de café, está sem blusa e seus cabelos molhados cobrem seu rosto.
   — O que faz aqui, a só? — ponho uma água para ferver, preciso de um chá antes de dormir. — Carl? — me sento a sua frente e tiro os cabelos de seu rosto para ver a mancha roxa que se apodera de seu olho. Me olha sem nenhuma emoção, tenho que me habituar ao modo de como Carl consegue esconder seus sentimentos e expressões.
   — Perdi a luta — grave e rouco, foi a única coisa que saiu da sua boca.
   — A nossa vida é feita de perdas e ganhos — sorri pequeno para o mesmo que nunca tira seus olhos de mim.
   — Acontece que não estava preparado para perder — olha sua xícara pela metade.
   — Carl — passo a minha mão por sua bochecha — sei que é algo que gosta. Mas é apenas um hobbie? Ou, algo pessoal com todos? Isso vai te levar ao extremo? — parece pensativo.
   — Não tenho relação com ninguém ali, simplesmente aprendemos que não temos aliados e que tudo a nossa volta é inimigos e insegurança, vivemos por si só. Mas não aprendi que perder faz parte ainda, pelo menos para algumas coisas. De tudo que odeio, perder está em primeiro lugar — e sei bem disso.
   — Então esquece essa luta, na próxima você vai ser melhor, é preciso cair para se levantar mais forte, então. Isso foi apenas um passo para algo que pode acontecer. Dê o seu melhor para não perder e mesmo que perda, tenha em mente que fez tudo o que podia — de alguma forma queria que levasse isso para sua vida, não só em relação a luta. Me aproximei do mesmo e colo nossos lábios — não digo só pela luta. — Olho em seus olhos lhe mostrando o melhor sorriso que consigo e me levanto da cadeira, preparo meu chá e sinto que me abraça por trás, mesmo correndo risco de qualquer um aparecer, me vira para o mesmo e me beija, lento, quente e cheio de sentimentos.

   Volto ao quarto minutos depois de quando Carl também vai para o seu, me deito e olho para o teto até sentir minhas pálpebras pesarem.

   "Andando pela cobertura olho lá no fundo toda a paz que sentiria, é algo que anseio, sinto frio na barriga, um desconforto no peito, mas sorrio, o céu no azul e o vento leva meus cabelos, era isso que quero! Chego a beira do edifício e vejo as pessoas andarem, carros e ônibus passarem, estarei livre de tudo e não precisarei passar por todo processo, não precisarei sofrer mais, ter ansiedade ou medo de me relacionar, só estarei livre. Abro os meus braços e jogo meu corpo para frente, mas quando eu vejo que estou a flutuar, sinto angústia, meu peito dói e grito, grito muito a cada segundo perto do chão, parece que está tudo tão calmo, mas já sinto a dor do meu corpo a se chocar com o chão, estou com medo, quero voltar aos exatos quinze segundos atrás e quando sinto que irá bater no chão."

   — ANGEL! Acorda! — meus olhos abrem e olho o teto, meu coração está acelerado e bate forte no meu peito, dói, tudo dói. Os lençóis estão amarrotados embaixo de mim e sinto como meu peito desce e sobe, também sinto mãos nos meus braços, mas não olho quem me segura, apenas choro, as cenas estão se repetindo e isso é horrível, a sensação da morte, mesmo que nunca tenha chegado tão perto dela como cheguei agora.

Destinados - Um Começo Para O Fim - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora