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  Carl vira-se para mim calmo, olhando o vidro do remédio em sua mão, quando seus olhos levantam e encontram os meus, eu sinto todos os meus órgão se reprimir dentro de mim e me encolho como se me atingisse no estômago. Então engulo em seco e minha voz aparece:
  — Aw... — antes que eu possa me explicar levanta sua mão, fazendo a voz morrer na minha garganta, o olhando parece o mesmo Carl de Nova Iorque, é o mesmo olhar desapontado. — Carl eu...
   — Para — sai baixo e coloca o remédio encima da cômoda.
   — Não — seus olhos encontram o meu e me dói em saber que está chateado — eu comprei os remédios, mas eu não os tomei, hoje mesmo pensei em jogar, mas esqueci. Por favor, acredita em mim. Eu não os tomei — Carl balança a cabeça negativamente e passa por mim. Tento segurar seu braço, porém, afasta-o de mim antes que o faço e sai do quarto.
   — Thomas! — O gato sai da minha cama e acompanha seu dono amém hesitar. Fecho a porta com força e caio ao chão, puxo meus cabelos e solto um grito. Não me importo se todos vão ouvir, os travesseiros vão ao chão e um deles bate no espelho que vibra, não cai e me vejo no reflexo.
   — Você não presta — foi o primeiro soco no meu estômago — Você é um lixo — vários golpes distribuídos na minha barriga até eu correr ao banheiro e vomitar. Eu mereço morrer.  

    Após não conseguir dormir minha barriga pede comida, não quero ter que descer lá e subir para vomitar, mas preciso distrair com alguma coisa. Abro a porta do meu quarto e olho para o quarto de Carl vendo ele dormir, desço as escadas e são quatro e trinta e dois da manhã, entro na cozinha e observo tudo ao meu redor. Respiro fundo sentindo o vazio e a dor no estômago, eu estava indo tão bem, como fui para a pior em dias? Estou ansiosa e sei, ainda mais lembro da consulta que meu pai marcou, consequentemente lembro sobre a minha ajuda profissional, como dizer a Daniel que estou doente?
   — Vai fazer o que? — me assusto com a voz de Carl, com a mão no peito o encaro, parece sério.
   — Algo para comer — me viro para a geladeira — não estava dormindo?
   — Estava apenas descansando os olhos — a figura alta vem para perto de mim e se encosta em meu corpo me encostando no balcão, ficando apenas um centímetro de distância de mim, nossas bocas já estão coladas e então iniciamos um beijo lento e quente. — Deixa eu fazer chocolate quente? — ele sabia que era a única coisa que descia sem sair.
   — Sim — se distancia de mim indo para trás do balcão me fazendo abrir um sorriso aleatório. Reparo cada passo dele enquanto faço nosso chocolate quente, sento no banco do balcão e observo cada passo e cada músculo da suas costas que se contraí com os movimentos, ele então acende o fogo e se encosta na geladeira cruzando os braços e me observando, eu o olho nos olhos brevemente e abaixo minha cabeça olhando os dedos, lembro de mais cedo e de como ficou desapontado e chateado.
   — Me d-desculpe dizer aquilo hoje mais c-cedo — sua voz sai falhada — você tem razão, eu nao sei o que você sente e o que você passa. Eu só não quero que tome remédios — parece chateado ainda.
   — Não os tomei — o olho nos olhos e suspira.


    Nunca pensei que teria um homem na minha cozinha exatamente às quatro da madrugada, mas sou eu que estou na cozinha dele. Na verdade, nunca pensei que estaria acontecendo isso tudo, alguém ter se 'interessado' por mim. Carl caminha até mim e levanta minha cabeça fazendo eu o olhar e então sussurra ao meu ouvido 'por que está tão pensativa?' sua voz rouca me fez arrepiar e sua respiração quente no meu pescoço me dá arrepios então ele me olhou e selou nossos lábios, nosso beijo foi lento, só paramos quando o chocolate quente já fervia o olho e sorri de lado para mim, se virando e indo ao fogão. Colocou em xícaras para nós, elas combinavam com estrelas, uma preta outra azul marinho. A sua e a da sua irmã.
   — Assim fica bem mais legal — Carl não me olhou nos olhos, só voltou para trás cautelosamente como se estivesse com medo de alguma coisa, se encostou no balcão e bebeu devagar o seu chocolate com um dos braços cruzados no peito. Uma breve lembrança da psicóloga, me causou um frio na barriga.
   — O que tanto pensa? — olho nos seus olhos avermelhados com pálpebras igualmente suspirando o ar quente para fora de meus pulmões.
   — Já foi em psicólogos? — Carl parece pensativo, como se recorda de algo, não sei se bom ou ruim.
   — Várias vezes, eu andei bastante estressado. Com tudo, foi quando descobri que fui diagnosticado com transtorno bipolar e um pouco para frente que poderia ter ataques de raiva. Então meio que nessa época eu estava ainda processando tudo, não me lembro se foi na época que meu padrasto morreu. Mas naquela época depois da descoberta e de ficar preso no quarto, passei a tomar remédios e ir a psicólogos. Para mim não resolveu em nada, tarefas psicológicas ou metas para cumprir em um mês. Parece que socar a cara de alguém foi melhor que os remédios. — Fez um sinal de brinde com sua xícara e a levou a boca.

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Destinados - Um Começo Para O Fim - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora