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  Já estamos no quarto que iremos dividir, Carl está quieto e não sei como começar a conversar com ele, me sinto nervosa como se não estivesse ficado junto com ele numa casa a só, me viro pronta para a pergunta, mas demoro em dizer.
   — Esta tudo bem? — resolvo cortar o espaço entre eu ele, porém o mesmo não me dá bola, nem mesmo me olha — Carl está tudo bem? — insisto e vira-se para mim, mas não me olha, mantém seu olhar atrás de mim, para a janela.
   — Não — foi à única coisa que disse, e diferente dos outros dias, foi frio.
   — Quer conversar? — Carl joga com força a roupa que estava na sua mão sobre a cama e me encara.
   — Você quer saber mesmo o que se passa Angel? — sua voz altera — se passa é que você mentiu para mim, resolvi te ajudar, mas em troca da minha ajuda tomava essas drogas — mexe em suas coisas e me joga os remédios, observo o que tem em minhas mãos — é assim que retribui minha ajuda? Fui ver se você estava bem ontem e achei isso. Fui besta em perder meu tempo em me importar com alguém que não merece a droga da minha importância, é isso que esta acontecendo Angel. Pede-me ajuda e no final, joga tudo fora como se nada importasse. Como se estivesse apenas brincando comigo — descobriu, então era isso o tempo todo, eu como sempre estraguei tudo, não sei o que dizer estou paralisada. As lágrimas brotam nos meus olhos e os seus, nunca saíram de mim. Era como meu pai quando brigava comigo, o mesmo olhar. Só que Carl, está olhando com emoção, tristeza, preocupação e mágoa passava por seus olhos.
   — M-Me desculpe — foi apenas o que saiu da minha boca.
   — Não — nunca pensei que uma simples palavra de três letras doeria tanto como uma facada. Carl voltou a dobrar suas roupas e a por tudo na cômoda enquanto eu também arrumava as minhas, as lágrimas caíam e o silencio é agonizante. Agora eu não só tinha perdido um amigo, perdi dois. Para mim Carl era como um, mesmo que meus sentimentos estivessem querendo ao contrário.

  Estou indo em direção à sala em que Elina está. Estamos na casa da tia do Carl, íamos passar alguns dias antes de ir para algum lugar que Elina havia dito ao meu pai, aqui é calmo e bem bonito. Ao ver a mulher de cabelos negros e na varanda da casa suspiro caminhando ate fora do ambiente quente.
   — Elina — digo e a vejo me olhar.
   — Oi querida — sorri largo.
   — Posso falar com você? — sento ao seu lado.
   — Mais é claro — continua a fazer crochê e eu olho todo verde que há ao nosso redor. Julgo que Elina e Carl gostam dos lugares calmos.
   — Quem é Liz? Estava ao quarto de Carl quando estávamos ao Havaí e tinha uma carta com o nome Liz — Elina suspira e coloca seu crochê ao seu lado.
   — Lizzie era a namorada de Carl, morava ao nosso lado desde pequena, era mais velha que ele há quatro anos, mas ele nunca ligou muito para isso. Viveram um romance de mais ou menos sete meses. Carl sempre foi apaixonado por Lizzie, mas ela. Só quis brincar com ele — Elina estaria dizendo aquilo com certa irritação — Carl descobriu que Lizzie, estava com ele por aposta dos seus amigos. Carl criou realmente uma paixão pela menina, eram amigos. Mas depois disso, ele nunca mais quis saber dela. Ela também se mudou, foi para França há três anos — uma aposta, seria isso mesmo ou Carl mentiu? Elina me olhou — ele superou sabe, mas foi essa superação que tirou o pouco do que ele era. Começou a fumar para a ansiedade e já não era aquele Carl extrovertido. Entregou-se de corpo e alma por um romance que para ela nem existia e que depois que sua cota da aposta bateu o deu um ponta pé. Dois anos depois, Loren se foi, aí ele voltou a fumar excessivamente e a beber, Carl começou a se envolver cada vez mais em brigas e se tornou totalmente uma pessoa fria, sem sentimentos e violenta. Por isso achei muito bom ter você aqui. Já percebi uma mudança nele está mais quente, socializou mais comigo e com Daniel, sorriu até — soltou uma risada — mas e você, não parece bem, está mais pálida. E, mais magra — meu corpo gelou e eu fico sem nenhuma resposta para dar. O que eu iria responder? Dizer que sofro de uma doença?
  — Mãe — Carl aparece e logo se recompõe ao me ver — eu e Daniel estamos indo pescar.
   — Tudo bem — sorri e pega seu crochê.

Eu irei tomar um banho — levanto e Elina pisca para mim. Enquanto subo as escadas as lágrimas aparecem e os soluços brotam na minha garganta. Entro no quarto, na qual divido com Carl, correndo para casa de banho. Assim que entro e fecho à porta atrás de mim me deparo com o espelho, choro mares enquanto retiro minha roupa sem nunca tirar os olhos da aberração que há à minha frente. Arranho, bato e soco a carne que tem na minha barriga, linhas vermelhas feitas por minhas unhas ultrapassam a pele pálida. Pego o frasco de remédios e coloco seis a boca me sentindo tonta logo em seguida, cambaleante pelos movimentos rápidos, derrubo os remédios ao chão.
   — Você é um monstro — puxo meus cabelos enquanto meus lábios sangram pela pressão dos meus dentes — u-um monstro Angel — minha voz sai trêmula pelo choro e fungo para conseguir respirar. Ao ligar o registro deixo a água fria cair meu corpo abaixo. Eu sempre estrago as coisas. Não consigo nem me ajudar como é que vou querer ajuda de alguém? Magoei a única pessoa que acreditou em mim, quebrei sua confiança e nunca terei de volta. Como quero uma boa relação com Carl? Sendo que na primeira oportunidade que me dá, eu vou lá e jogo fora como papel. Agora o olhar é algo difícil. Eu sou tão inútil.

Destinados - Um Começo Para O Fim - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora