Epílogo

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   Olho o quarto todo. Está tão vazio e sombrio, a luz do dia ilumina ele, mas hoje não há sol, faz um dia que estou nesse hospital, não sei o que fazer, posso andar por aí e conhecer o lugar, mas tenho certeza que estou assustada, tudo isso, me assombrou por muito tempo. Respiro fundo, assim que me sento e deixo meus pés balançarem a beira da cama a porta se abre e um rapaz franzino e estranhamente branco, com cabelos ruivos e sardas por todo rosto me olha, sorri para mim largo, a um duto que passa pelo seu nariz, roda pela sua nuca, me dá uma pequena aflição ver.
  — Sou Peter — sorri largo — não deveria estar aqui no seu quarto, mas estou, e por um motivo bem chato — sorri novamente, um sorriso nervoso e descontraído. Ergo minha mão para ele e a observa.
  — Sou Angel — sorrio também.
  — Não posso apertar sua mão — olho para meus dedos, o que há de errado neles — tenho fibrose cística, não há nada errado em você, mas as suas bactérias podem me afetar agora.
   — Peter! — salta no seu lugar assustado com a voz, então descobro que meu quarto é um ponto de refúgio, assim que a porta se abre os olhos da mulher baixa e negra me observam. Olha o rapaz e suspira, está toda embalada em roupas cirúrgica. — Sabe que não pode sair assim. Precisa tomar seus remédios e repousar, a sua cirurgia será pela noite.
   — O que é isso Joyse! Estou aproveitando o que pode ser meus últimos momentos nesse lugar — parece dramático.
   — Desculpe querida, vou levá-lo ao quarto e já volto para conversamos — sorrio para eles.
  — Ele não me incomoda — ouço seu suspiro e acena para mim. Logo somem do meu ambiente, sinto uma sensação estranha no meu abdômen, não decido levantar, me deito novamente na maca.

  Mais tarde por volta das seis da noite a moça voltou, Joyse, parece bem carismática e simpática, está trazendo a minha comida.
   — Achei que a clínica seria apenas para pessoas com doenças como a minha — me sento perto da mesa cheia de pequenas tigelas.
   — Tome primeiro essa vitamina — me entraga um comprimido amarelo — a clínica é enorme, você ainda não saiu para vê-la, não é? Mostrarei para você um pouco hoje a noite. — Comi a refeição aos poucos, amanhã terei uma rotina dita pelo médico que visitarei, estou um pouco ansiosa para saber como será.

   Andando junto a Joyse observo os vários pacientes fazendo atividades diferentes, em um lugar longe vejo médicos indo com macas para sala de cirurgias.
   — Aqui abrigamos 4 tipos de pessoas portadoras de doenças, são quatro alas, fibrose cística, anorexia e bulímia, tireóide e esquizofrenia, são alas diferentes com tratamentos diferentes. Mas toda quinta tem psicologo, todos se juntam em suas alas para o momento de desabafarem, conversarem e até se divertirem.
   — O Peter comentou comigo que, não pode me tocar? — ouço seu suspiro.
   — Bom, a fibrose cística é um problema nos pulmões, qualquer infecção pode por a vida do portador em risco. No caso Peter vai ter uma cirurgia hoje, e qualquer coisa que podesse ocorrer antes da cirurgia, faria com que ele perdesse o órgão doado — meus olhos de arregalam.
   — No caso, hoje ele pode estar curado? — o sorriso de Joyse vai de orelha a orelha.
   — Sim, ele recebeu um transplante depois de dez anos em espera — isso me dá um choque, dez anos? Ele está aqui a quanto tempo? Andamos mais tempo enquanto me explicava tudo do hospital. No fim da nossa tour me entregou um papel que mostrava minha agenda semanal.

  Segunda feira - consulta diária
  Terça feira - atividades psicológicas
  Quarta feira - visitas
  Quinta feira - psicólogos e roda de apoio
  Sexta feira - exames
  Sábado e domingo - dias livres.

  Isso é bom, distrair a mente, amanhã mesmo já recebo a visita de Elina e Daniel, será que Carl vira? Sento a cama e deixo do lado o papel, perto do relógio, suspiro olhando o teto, esse será meu novo lar por dois ou três anos, preciso aceitar me adaptar e fazer com que tudo isso seja confortável, para que um dia possa ser alguém na vida, sem problemas a não ser os que sejam para me transformar em uma grande design. Nada de terceiros me fazendo ficar para baixo, preciso e começo hoje ter uma vida nova, mesmo que isso me custe algumas coisas, sem esse tratamento o que mais me custaria?

Destinados - Um Começo Para O Fim - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora