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  Acordo desorientada, olho de um lado para o outro meu quarto. Minha mochila ainda está jogada de lado, ainda tenho a roupa de mais cedo, respiro fundo e sento na cama jogando os cabelos para trás. Me assusto ao ver o horário, são três da manhã, dormi tanto assim desde que voltei da escola. Levanto tirando as calças apertadas e ponho um short frouxo, saio do quarto para o corredor, a porta de Carl está aberta, não vou até lá, sei que não se encontra, está aberta porque não está lá, sinto cheiro de produto de limpeza, jantaram e não me chamaram, bom, acho que nem comeria, uma noite sem jantar não vai fazer diferença né? Tomo um copo de leite e volto para meu quarto, nem mesmo tomo um banho, só caio de volta a cama.

  No caminho para a escola fui só pelas ruas, o sol estava bom para se curtir, fui devagar e pensativa, sobre Carl, a maioria dos meus pensamentos dessa semana foram nele, prestei muita atenção nas saídas, nas ficadas, na volta, Elina parece nem se importar, pois, age naturalmente, não parece preocupada em saber porque o filho ficou assim, talvez seja só coisa da minha cabeça, realmente ele teve só uma recaída e pronto, isso é sobre sua doença e não sobre outra coisa, espero.

  No fim das aulas me despedi de Fernanda e Miguel caminhando para os corredores cheios de alunos, ouço meu nome ser chamado, mas não vejo o dono da voz, é reconhecível, porém, não vem a mente de quem pode ser, só sei que sou atingida forte no estômago, o que faz os cadernos caírem e eu ir com minhas mãos no local.
  — Olha a Angel, menina forte — ouço novamente a voz e rapidamente Augustos me levanta, com a forte dor não deixo de grunhir e sentir raiva do mesmo. Vejo que em seu grupo há mais uma garota, na qual eu não sei quem é, olho bem nos olhos de Augustos e Jonathan que riem e brincam comigo. — É tão gorda que não consegue levantar? — me soltam e ainda com a dor caio de joelhos sentindo meu mundo todo girar, sinto um peso na nuca, não sei se são eles ou apenas eu, mas pareço apagar aos poucos.
  — Nem aguenta o próprio peso — a voz feminina me faz acordar e a olhar, com ódio junto meus cadernos e levanto devagar, olho e riem, sinto que aquilo que está em mim, é o que devo descontar em Augustos, mas me lembro do que vi na palestra e na roda de apoio e, ao mesmo tempo, não quero que fique apenas por isso. Nem mesmo penso, minha mão em punhos vai ao rosto de Augustos e antes que faça qualquer coisa saio ouvindo que não riem mais, só quero lhe dá uma lição, mesmo sendo errado. Ao passar pelo portão e andar para longe do colégio, me apoio numa parede e tento puxar o fôlego, vejo que uma figura se aproxima e penso em começar a correr, até ouvir a voz.
  — Você está bem? — suas mãos seguram por baixo do meu braço me levantando e olho nos seus olhos.
  — Sim, é apenas uma forte dor no estômago — tento sorrir sabendo que me saio horrível e patética.
  — Vamos, te ajudo — sorriu amigável e iniciamos uma caminhada devagar até em casa — você comeu hoje? — o que faz aqui desses lados? Pelo que sei não morava por aqui.
  — Sim, pouco, mas comi — olho meus pés.
  — Deve ser isso — continue pensando que é!

  Conan e eu não falamos muito na ida para casa, apenas me acompanhou e me ofereceu além da sua ajuda, sua companhia, mas eu sentia a necessidade — mesmo dizendo que não iria mais insistir nesse assunto — de o perguntar sobre a festa e Carl, ninguém além dele saberia melhor.
  — Conan — começo vendo que a casa estava perto — você sabe por que Carl está estranho? — o olho e ele parece confuso e da de ombros. — Aconteceu alguma coisa de diferente na festa?
  — Nada além de ele ter encontrado Lizzie, falado com ela e só, ele pareceu bem resolvido quando falou comigo. Nada a mais, mas foi embora mais cedo do que tínhamos previsto — paramos a frente da casa. Respirando fundo tudo na minha cabeça é informação e processo.
  — Obrigado por me acompanhar — sorri para ele e pareceu mais convincente que antes.
  — Coma mais — sorriu se distanciando — nos vemos por aí, sim? — concordo e torço meus lábios. Abro a maçaneta e sinto um forte cheiro de cigarro. Elina e Daniel não se encontram e sei de onde vem esse cheiro. Carl não costuma fumar de janelas fechadas e esse é o horrível resultado disso. Tentando o máximo ignorar isso vou ao quarto e passando por sua porta, vejo que está aberta e sua sombra anda de um lado para o outro, respiro um mar de ar e entro no meu quarto fechando a porta. Respira Angel.

  Depois do banho percebo as notas que toca e que são calmas e melódicas, parecem tristes e com uma letra por trás, não canta, mas sussurra alguns barulhos com a boca, como se imaginasse a letra junto aos acordes, só estou cansada demais para ouvir o resto e apenas durmo.

  Pela noite quando acordo Daniel e Elina já haviam chegado, todos jantamos sem Carl, que não parecia está em casa ou está no porão, Daniel me questionou sobre meu desmaio na escola, então haviam avisado a ele, disse que era apenas o nervosismo das provas, não acredito que seja pela comida, aliás, estou comendo. Pouco, mas estou. No meu quarto novamente, assisto séries, amanhã é sábado e posso dormir um pouco mais, não haverá nada para fazer, não programei nada, talvez leia livros, estude um pouco ou faça milhões de pesquisa sobre o meu tratamento, ou a faculdade. Pensar no tratamento agora não me faz bem, me causa medo e pensar na faculdade me traz ansiedade.

Destinados - Um Começo Para O Fim - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora