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  Eu estava a arrumar os cabelos da boneca quando ouço um pigarro, vendo Carl no batente da minha porta coro levemente vendo que ele viu o que eu fazia, me batendo por não fechar a porta.
   — Não sabia que brincava de bonecas aos dezesseis — o mesmo se aproxima — eu brincava com Loren.
   — Você brincava de bonecas?! — não pude evitar o meu espanto.
   — Nosso segredo — ele dar uma risada rouca o que eu ainda não havia presenciado do mesmo — na verdade, ela sempre brincava sozinha e só eu poderia sair para brincar com moleques na rua, por que nosso bairro não tinha nenhuma menina além dela, as que tinham eram mais velhas. Então quando era dia de chuva e nada tinha para fazemos eu brincava com ela. Claro do meu jeito de homem o que fazia ela pirar — falava com uma certa tristeza na voz — não me diga que sente muito, por favor eu odeio esses negócios — suspira e me olha nos olhos, que Carl era esse? Brincalhão e sorridente? Quero-o mais vezes.
   — Mas eu não brinco — não faço contato algum com os olhos dele, mas sinto o colchão se abaixar rapidamente com seu peso. Pego meu caderno e deixo-o ver algumas das minhas 'obras' o mesmo folheia as páginas do caderno sério, mas um sorriso plantou em seus lábios finos e rosados o mesmo vira para mim e vejo um vestido com detalhes e mais experientes que os meus.
   — Esse aqui não foi você, foi? — sorrio ao ver o vestido que minha mãe tinha desenhado para mim.
   — Minha mãe que fez para mim quando eu tinha seis anos — eu senti meus olhos marejados, mas não deixei se quer uma lágrima cair.
   — Ela trabalhava com roupas? — balancei a cabeça em negação.
   — Sua vida era a pintura Carl — o olho nos olhos e um seu pequeno sorriso se torna um traço que vai se esvaindo — trabalhava dez horas da sua vida, eu via ela sair de casa às sete da manhã e sempre me deixava cookies, só voltava as 19h e mesmo exausta ela brincava comigo até a hora de dormir, tinha seu caderno de desenhos e me ensinou a desenhar também — meu sorriso desapareceu agora — no dia do acidente ela disse que tinha uma pintura para me mostrar, ela me levava as vezes para o trabalho dela e a ver pintando aquelas telas era um grande hobbie para mim. Mas eu nunca vi a tal pintura que ela falou.

   — Por que? — o olhei e o vi sério. Deixo uma lágrima cair, logo a enxugo, pois não quero ser fraca na frente do mesmo
    — Talvez porque meu pai não tenha coragem de ir me levar, quando mamãe morreu o lugar foi fechado e só meu pai tem acesso a ele, até hoje eu nunca mais fui, talvez porque meu pai tem uma alto proteção em mim, sempre que saía do nosso apartamento ele me ligava a cada quinze minutos.
   — Nosso jantar está pronto — seu tom é sempre frio, mas suas atitudes eram quentes e com emoções. O mesmo se levanta saindo da minha visão, odiei ter chorado ao seu lado, mas ao mesmo tempo conheci um Carl diferente, agora ele demonstrou um... sentimento? Não sei, mas desde que o vi pela primeira vez naquela foto com Loren eu sabia que o mesmo tinha esse lado gentil, no entanto sei que do mesmo jeito rápido que a gentileza apareceu poderia desaparecer, porque a tristeza reinava mais alto em Carl e eu reconheço isso, sei o quanto é difícil lutar e talvez no caso dele isso iria permanecer ganhando do seu lado doce. Enxugo as lágrimas e ajeito meu vestido ao meu corpo, eu mal tinha percebido mais tinha anoitecido mais rápido, desci as escadas sentindo um calor na parte de baixo do andar, caminho até a cozinha para ver o rapaz a fitar algo na janela com uma cerveja na mão. O mesmo ao notar a minha presença atirou tão rápido a latinha da mão quanto me olhou, nossos olhares se cruzaram por cerca de minutos. Carl caminha até a mesa se sentando na cadeira. Me sirvo da lasanha a minha frente e levo a boca um generoso pedaço enquanto não falamos nada. O sabor está ótimo e não pude evitar sorrir, nunca tinha comido uma lasanha sem ser feita por mãos do meu pai. Percebi que Carl me olha e quando o olho não fez questão de desviar o olhar de mim, ele é seguro ao contrário da minha pessoa.
   — Está uma delícia — surge um sorriso pequeno que nunca pensei que veria tão rápido no seu rosto. Depois de jantamos eu lavei a louça enquanto Carl secou e guardou, sai da casa observando as águas cristalinas no grande lago que refletia o céu, as estrelas são bem visíveis daqui melhor do que em Doncaster ou Manchester. Respiro fundo me sentando na varanda observando tudo aquilo ao nosso redor, apenas nós no meio do nada a não ser a natureza, um lago, uma floresta e os passarinhos. A noite é bem diferente do dia, estava frio aqui fora assim como Carl disse. Fico mais alguns minutos me permitindo apenas ouvir o barulho da natureza, um grilo e a água no movimento dos peixes, quando entro o choque térmico bate no meu rosto e na poltrona a minha frente está ele, sentado numa cena linda e que podia ser apreciada sem nenhuma dúvida, de óculos sentado na poltrona com um livro na sua mão, ao lado uma taça generosa de vinho, a lareira estava ligada e a luz laranja fazia uma ótima combinação com a madeira marrom do lugar, deixando o ambiente como cenas imaginadas de livros que eu já lera. Reparo que Carl me observa e que eu já o tinha encarado por um bom tempo. Coro com seus olhos sobre mim e resolvo subir as escadas quando seus olhos voltam a atenção ao livro, e entrando no meu quarto vou direto a cômoda pegar um pijama.

Destinados - Um Começo Para O Fim - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora