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Carl

  Ali mesmo em meus braços, Angel adormeceu. Ainda me arrependo de não ter conseguido mexer um só dedo, e se ela estivesse morrido? Nem mesmo sei se seria possível, estou prestes a sair quando vejo a carta, não leio, não preciso ler para saber nada, nem mesmo quero, fecho e coloco no envelope, jogaria fora, mas isso não é escolha minha, isso é a única coisa que ela tem dele agora, assim como eu tenho de Loren. Deixo-a debaixo do livro sobre o notebook e saio do seu quarto.

Enquanto me arrumo para dormir, se eu conseguir, minha mente me leva de  volta ao dia que Angel estava se afogando e só de pensar que se eu não tivesse acordado, me causa arrepios e borboletas no estômago. Então resolvo mudar o meu pensamento, e cair em outro ainda dolorido. A viagem.

  Sei que estou errado e minha mãe está certa, mas ainda é difícil, vivi com Loren minha vida toda. Sempre dando bons conselhos e brigando, era difícil não a ter aqui agora e o pior, é que tento esquecer, evitando tudo que tem ela. Mas olhando as paredes dessa casa, vejo que mesmo tentando, sempre haverá coisas que ligam a ela. Não posso sair de casa porque as paredes estão cheias de porta retratos, ou não termina o último ano porque terá mural de recordações e pessoas me dizendo que sente muito, mesmo depois de um ano. Não gosto dessas coisas, mas não posso fugir da realidade. Loren não esta mais aqui, e o que resta é às memórias que com o tempo somem e depois as vozes desaparecem, só sobram às fotos.

Vamos ao parque? Pequeno e saltitante corro no quintal enquanto mamãe pega Loren no quarto, cumprimento com um aceno rápido o senhor Well que passa com seu carrinho de sorvete. Vamos querido sorrio largo segurando a mão da mamãe e  começamos um caminho para o parque onde está o papai?  Estou na frente saltitando enquanto mamãe e Loren estão mais atrás, por causa do pulmão dela, uma borboleta amarelinha com branco está na minha frente e sorrio tentando pega-la mamãe, e o papai? A borboleta se vai e junto a ela eu paro de andar. Estou ofegante de repente e viro para trás me assustando, o céu se tornou escuro e cinzento, a rua parece que é fantasma, que ninguém vive aqui há anos. Olhos minhas mãos e tem sangue nelas, agora, também não são mãos de uma criança, ouço um grito virando para trás e saltando logo em seguida com a visão de Loren sem suas órbitas e vermes saindo do seu rosto.
  — AAAH!

  — AAAH! — Acordo me sentando rápido na cama, meus olhos se arregalam e ouço a porta ao lado ser aberta, me levanto e saio em disparada vendo todos ao quarto de Angel.
   — Angel, filha — Daniel segura seus pulsos enquanto se debate e chora, seu semblante esta amedrontado e vermelho. Sua visão parece está escura, não enxerga o próprio pai, está tendo as mesmas crises de pânico que teve antes. — Angel! — Daniel parece não saber o que Angel tem, não sabe o que faz e gritar é o modo de traze-la a realidade do que quer que seja que ela esteja vendo — ANGEL — desde que conheço o homem que está prestes a casar com minha mãe, nunca o vi gritar ou dizer palavras altas, sempre o homem formal e cavalheiro. Angel para de se espernear e observa seu pai que a olha bem atento, lágrimas molham suas bochechas rosadas e cheias de sardas e o som tremido que sai da sua boca mostra o quão assustada e estressada está — você tem que parar, não a motivos para sentir medo, não tem que ter pesadelos, sua mãe não está mais entre nós, não há mais carros.
Eu consegui decifrar o olhar de Angel e isso me fez dá um passo para trás, quando puxou as mãos das do seu pai eu entendi completamente, queria que ele a abraçasse e não dissesse que ela teria que parar de ter ataques, como faz isso? Eu queria aprender como você para o inevitável, o que vem de repente, como você expulsa o pânico? Angel abaixa seu olhar, nos olha rapidamente e diz:
  — Me deixem sozinha, por favor — as palavras saem baixas
  — Ang...
  — Quero ficar sozinha — seguro no ombro de minha mãe que me olha aceno um 'sim' para ela e vem comigo, Daniel é o último a sair do quarto da filha. Nos olha e suspira pesado, parece que também percebeu o que fez, pois segura o choro.

  — O que a levou ter esses ataques de repente? — Elina começa quando todos já estamos na sala, vamos em direção a cozinha e começa a preparar alguma coisa para todos beber.
  — A psicóloga disse que eles voltam dependendo do momento de vida de Angel, das emoções, das notícias, mudanças repentinas. — Enquanto conversam ou ficam em silêncio esperando o leite esquentar minha mente me leva a mais ou menos cinco anos atrás, quando eu tinha quatorze e Loren dezessete.

  "Acordo com um barulho estranho na casa, vejo por baixo da porta que alguém corre de um lado e depois para ao outro, tão sorrateira. Levanto, pois sei que alguma coisa está acontecendo. Saio do quarto e minha mãe sobe as escadas correndo com um cilindro a mão. Filho é o que diz, mas não é o que quer dizer, olhos marejados e cansados, entro no quarto e encontro meu pai, o que ele está fazendo aqui? Loren está tendo uma crise, não consegue respirar bem, ajudo-o a levanta-la enquanto tentar respirar em barulhos horrendos, minha mãe conecta o cilindro a ela e em minutos volta a respirar normal, seus olhos vermelhos pelo choro, nos olha e fecha os olhos, meu pai ao meu lado abraça minha mãe que está chorosa. Essa noite eu durmo com Loren, isso os deixa tranquilos e me deito com minha irmã.

  Volto a realidade já com o copo na minha frente fumaçando o leite com Elina e Daniel a conversar sobre o sofá, estava tão entretido nos pensamentos que nem mesmo vi quando nos deslocamos da cozinha para a sala.
  — Então depois que Luce morreu, dois anos depois ela começou a ter pesadelos e os sintomas dos pesadelos fez o ataque de pânico aparecer, muitas vezes não entra nem no carro, não saia do quarto nem para comer, percebi também que muitas vezes não come, por mais que faz dez anos Angel nunca superou. Eu entendo que é difícil, mas a vida segue, não pode ficar presa aos mesmos pesadelos toda noite. Quantas vezes isso vai se repetir? Isso será só o começo.

Destinados - Um Começo Para O Fim - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora