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   — Eu sei — faz carinho nas minhas costas e eu me deito sobre seus ombros. Não quero o questionar sobre "saber o que é isso". Apenas quero sua companhia por uns minutos. — Quando mais novo, via minha mãe como uma heroína, sempre cuidou de mim e trabalhou para sustentar a nós. Sou filho único, e a minha grande decepção foi ouvir da boca da pessoa que daria a vida que fui o motivo da vida dela ter desmoronado, por minha culpa os sonhos dela foram por água abaixo. Depois disso, enxerguei quem era ela. Mas nunca a deixei de amá-la até sua morte. Ela se entregou a tal ponto as drogas que as drogas a levou, ainda a amo, apesar de tudo, mas a mágoa que sinto por lembrar-se das palavras dela é inexplicável — não vejo sua expressão, até porque me agarrava a si, mas o abraço com força.
 

— Meu pai e eu sempre fomos unidos. Perdi minha mãe muito cedo, tinhas base dos seis ou sete anos, vi meu pai passar por coisas boas e ruins, vim morar aqui com minha avó enquanto ele tentava procurar algo para nos sustentar e nesse meio tempo aprendi a cuidar dele e de mim, perdi minha avó e foi mais um choque a ele, mas agora. É como se ele não aceitasse que cresci, é como se não aceita que tenho amigos com quem contar, me magoa com palavras, parece não entender o tipo da doença que tenho e o pior é que ele lida com esse tipo de doença todo dia. Ele passou a ser alguém frio comigo, pois, não aceita que eu possa está me tornando uma mulher.
  — Seu pai vai entender. Ele apenas não quer aceitar que cresceu, mas ele com o tempo vai aceitar — sorri para ele, e antes que voltássemos a estudar, a biblioteca iria fechar. Só então eu dei por mim que era tarde demais, e eu queria evitar briga com Daniel.

  No carro com Cole, olho meu celular para verificar duas mensagens de Daniel, não as abri e suspirei, é tarde. Amanhã teríamos a última prova e iríamos estudar as próximas três semanas, finalmente férias e tratamento, me sinto tão diferente.
  — Obrigada — agradeço pela carona e na porta suspiro girando a maçaneta. Elina, Carl e Daniel estão na sala. Fecho a porta e com o olhar dos três, só estou a rezar para que não comece uma briga com meu pai.
  — Onde esteve querida? — Elina sorri e retiro minha blusa de frio.
  — Estudando. Desculpe não avisar — subo os degraus, com a imagem de Carl junto a eles depois de dias tão afastado. Nem sei como ele está, não o olhei, evitei qualquer contato, mas claro, não quero ter que ficar assim, não vou ficar de braços cruzados vendo ele se afogar nessa mágoa. Coloco meu material sobre a mesa de estudos, olho meu notebook, mexendo em algumas páginas, acho algumas fotos de Lucas, ainda não posso acreditar que morreu, e o pior, é que poderia estar a me observar, como minha vida virou de cabeça para baixo esse tempo. Bebo um pouco de água da garrafa e suspiro alto. Escuto passos pelo corredor, fico quieta para adivinhar quem é claro que Carl, seria bom ir, ou não seria? Havia mil possibilidades de me expulsar e nem ouvir o que tenho a dizer, mas não posso arriscar, tenho que o fazer, espero que se sinta do mesmo modo que eu me senti com os conselhos de Cole, adorei uma companhia enquanto estava ruim, Carl também gostaria. Me levanto e tomo um par de coragem e inspirações para poder ir até o outro lado do corredor.
  — Carl — me apoio na beirada de sua porta, vejo que escreve e está de costa a mim.
  — Vai embora — encaro o chão, mas não me sinto abalada pela resposta que sabia que teria.
  — Qu...
  — Vai, embora! — sua voz fica ainda mais intensa, penso em ir, mas, ao invés disso entro para seu quarto — sai daqui — agora me olha de soslaio e por certo momento sinto minha fúria, porém, procuro respirar fundo.
  — Não vou — me olha nos olhos — mesmo que não queira que fique.
  — Vai embora Angel! — seu corpo virou totalmente para mim, os olhos vermelhos e as pálpebras. Me olhou nos olhos e mesmo que sua boca dissesse para ir, seus olhos desejavam que ficasse.
  — Não! Eu vou ficar, mesmo que não fale comigo, mas adoraria que ficasse, que conversasse comigo, se fosse eu. Não vou te ver assim, não vou deixar se entregar, a melhor semana das nossas vidas, está chegando e, não quero te ver triste.
  — Eu só estou cansado. — O olho nos olhos, o mesmo também não tem nenhuma necessidade de desviar de mim. O vejo respirar fundo e se dar por vencido em me ouvir, acontece que depois daqui, não sei o que dizer. Mas suspiro e imagino o que teria montado na minha cabeça por dias.
  — Não sei o que você está sentindo, não sei o que fez você ficar assim. Mas não estou aqui para te julgar, nem apontar um dedo na sua cara dizendo que você está errado. Eu só estou aqui, por você. Porque não te quero triste, porque se fosse eu no seu lugar, adoraria que me ajudasse, porque sei o quanto dói. Temos histórias e vidas diferentes, mas participamos da vida de cada um — parecia tão tortuoso, estava tão transparente — e prometi que ia estar aqui e não vou embora, não vou Carl. Mesmo que isso seja apenas uma recaída vamos passar juntos. — Seu olhar me tortura, é horrível ver aquela dor me faz sentir a angústia que sente.

Destinados - Um Começo Para O Fim - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora