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Angel

   Desço as escadas e vou direto a cozinha, vejo que não tem leite, então pego na minha bolsa algum dinheiro e saio de casa, na rua vejo que crianças brincam, na pequena praça há idosos e mais crianças, como disse o dia está ótimo, tento ignorar os pensamentos de todos estarem me olhando, sou uma pessoa normal e pessoas encaram, não vai acontecer nada de errado, por favor, não estrague esse dia tendo um ataque de pânico na frente de todos, já basta os olhares e as fofocas de como sou estranha.

   Entro na padaria e seguro em duas garrafinhas de leite, peço também alguns pães que por sorte estão quentinhos, faço meu caminho de volta para a casa. Deixo tudo à mesa e coloco a água do café no fogão, frito alguns ovos e bacons, olho para o relógio e ainda tenho algum tempo para fazer umas panquecas. Quando tudo está pronto me sento na sala com um livro as mãos, hoje começarei a leitura de mais um dos livros que tenho na gaveta e nunca ousei ler. Por um momento me imagino ali, vivendo um romance, mas não era como o dos livros, não me importa. Alegre ouço o motor do carro de Carl e logo as vozes e risadas adentraram aquela casa, Elina me abraça forte assim como Daniel. O café foi calmo cheio de alegria e de conversa da viagem turística que fizeram na Itália, soube que Carl não contou da ligação, não me atreveria, mas Elina deveria saber, é seu ex-marido e seu filho. Eu e ele cuidamos de limpar tudo e estou inquieta para lhe questionar sobre a ligação, mas que diabos, por que eu não poderia pelo menos deixar isso quieto e ter um dia bom? Acontece que tudo isso me perturba muito e quase penso que sem motivo, Carl que recebeu a notícia parecia menos tenso que eu. Respira Angel.

   Sem dizer uma só palavra ao rapaz, subo as escadas para meu quarto, amanhã tenho uma última prova de física antes dos últimos dias de aula e acho conveniente estudar um pouco, talvez me faça esquecer a tal ligação que está me dando nos nervos e aumentando a minha ansiedade, respiro fundo antes de deixar os livros sobre a cama e pegar o notebook. Ouço a voz de Carl a chamar sua mãe, será que falaria agora? Bato-me mentalmente por não saber ignorar nada. Ouço a escada e sei que vão para a sala, devagar abro a porta e fico sentada entre o corredor e meu quarto, para que não me vejam.
   — Tenho que fazer uma pequena viagem para Kensington — ouço a voz rouca.
   — Mas por que filho? — me aproximo e vejo que Carl faz uma cara não muito boa.
   — Papai descobriu que está doente, talvez queira que assuma o seu pequeno negócio, ou que fique com ele, sabe mãe — faz uma pausa enquanto olha seus pés, Elina segura à mão de seu filho o consolando. — Acho que teremos mais uma perda — abraça Carl e resolvo ir para meu quarto, não ficarei vendo a intimidade dos dois, já foi feio da minha parte está a bisbilhotar a conversa, mas quando será que vai?

   Depois dos meus estudos não ousei descer para o café da noite, não tenho apetite e acho que pensar demais mexeu comigo, não fomos ao parque e passei o dia a pensar e estudar, estou apenas deitada no telhado a olhar para o céu, ouço a janela ao meu lado abrir e vejo os olhos verdes na escuridão tão vivos como nunca, Carl sorri pequeno e se senta ao meu lado.
  — Hoje o céu está lindo! — olho para ele, enquanto o mesmo olha para as estrelas.
   — Terá que ir mesmo? — olho para ele, o mesmo suspira enquanto deixa sua cabeça entre suas pernas.
   — Angel estou indo — meus olhos se dilatam e levanto quase de imediato me sentando o olhando enquanto me olha, não, não podia ir agora, hoje? Por quê?
   — Mas... Já! — o mesmo suspira.
   — Quanto antes melhor — olha para o céu — quero saber logo o que quer comigo e quero voltar logo.
   — Você não vai voltar — olho para meus dedos.
   — Mas é claro que vou! — segura meu rosto — vou voltar sim — sorriu. Demos um beijo demorado e quando entramos descemos as escadas achando Elina e Daniel, sua pequena mala está ali, abraçou sua mãe e me deu uma última olhada.
   — Vamos Carl — Daniel deu tapas em seus ombros e quando saiu pela porta, Elina me abraçou não aguento e choro, pois a sensação de perda nunca me deixou. A mesma sensação que senti antes.

*

   Há minha semana havia sido horrível, além de ter feito todas as provas, esperei por ele desde a escola até a hora de dormir, olhando para a janela para ver se chagava perto, vi dia chuvoso, dia ensolarado, dia nublado e nada dele. Havia perdido as esperanças e a ansiedade do baile já tinha ido, junto com sua mala, o vestido está ali, próximo num cabide, não sei se quero realmente entrar nele, mas não irei decepcionar Elina nem Daniel que já haviam comentado alegres que queriam participar da minha formatura, hoje também, faz dois anos que Loren havia se ido. Olhando pela milésima vez o celular nenhuma mensagem, nada, nada de Carl. Saio da beira da janela, vendo que já anoitece, tomo um banho demorado e morno aproveito para lavar meus longos cabelos, à frente do espelho visto uma lingerie simples e rosa, seco as madeixas com um tempo longo nesse processo e lavo meus dentes, ponho uma loção corporal e saio do banheiro, olho muitos minutos para o vestido, mamãe adoraria me ver com ele, foi para isso que o guardou tanto tempo. Era simples, mas muito lindo, com um lindo detalhe de um corte na perna. Sinto borboletas no estômago, e imagino a minha mãe vestida nele, um simples pensamento me faz sorrir largo. Visto a peça e procuro o salto que já havia separado deixando perto da minha cama, indo para a penteadeira olhando para o espelho eu não sei o que fazer com meu cabelo, de jeito algum nunca tinha testado algo antes.

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Destinados - Um Começo Para O Fim - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora