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Angel

  Quando estava prestes a dormir ouço dois toques na porta, logo ela se abre e revela Carl com roupas aconchegantes.
  — Eu posso dormir aqui? — não acredito no que sai da sua boca — eu não consigo dormir — se ele teve que passar por cima dele mesmo para fazer essa pergunta eu não sei, mas não digo não.
  — P-Pode — minha voz sai baixa e cortada já pelo tempo sem falar, é rápido em fechar a porta e se deitar ao meu lado, me dando as costas.

  Acordo com alguns sussurros e ainda sonolenta sinto um peso entre minha cintura e uma quentura nas minhas costas, o aperto da minha barriga se intensifica e meu corpo é apertado contra o de alguém. Já acordada lembro-me de te compartilhado à cama com Carl, me viro devagar e novamente me puxa para perto com firmeza colando nossos corpos e quase nosso rosto, observo o garoto à minha frente com semblante conturbado ele sussurra varias coisas, seus olhos fechados com força e algumas gotas de suor descendo de sua testa.
  — Por favor — sua súplica vem acompanhada de choro, está tendo pesadelos — Loren — uma lágrima cai de seus olhos ainda fechados, com um pouco de dificuldade consigo me levantar e sentar.
  — Carl — o balanço um pouco e nada, seus olhos fecham com mais força — Carl! — devagar desperta e olha fixo para frente, agora sua respiração está acelerada e mais algumas lágrimas descem não se importa se eu estou aqui — você está bem? — me deito e me olha, olhos marejados e vermelhos, seus lábios numa linha reta.
  — Foi culpa m-minha — sua voz falha em sua garganta deixando apenas um ar sair, mas não foi dirigida a mim a palavra, foi para si próprio — minha culpa — deixou as lágrimas saírem e olhou nos meus olhos o seus brilhantes e transmitindo dor.
  — Não foi sua culpa C...
  — Sim — eu não sabia, foi sua culpa, Carl? Eu não sei como o confortar não sei nada sobre ele, apenas penso que sei, mas não, Carl é um diário, fechado com sete chaves, cheio de segredos e calado como túmulo, não diz nada e nem demonstra, porém, agora ele demonstrou e está no seu momento mais vulnerável, olhar isso me deixou tão machucada mesmo não sentindo sua dor, sei como é perder alguém. E eu estou aqui o olhando chorar à minha frente, feito tola e sem hesitar mesmo sabendo — ou pensando que sabia — que ele não gosta o abraço, o puxo para perto de mim, tirando o pouco de distância que tínhamos, como esperado Carl não respondeu de imediato, mas deixou seu orgulho de lado envolvendo seus braços pela minha cintura me puxando para perto colocando seu rosto entre a curva de meu pescoço, seus cabelos que estão crescendo fazem cócegas no meu queixo, eu não me importo apenas o abraço com força. Aos poucos seu corpo está relaxando, meu pescoço se encontra molhado, mas um alívio toma conta de mim depois que suas lágrimas cessam. Separei-me do seu corpo e vi que o mesmo dorme pleno, sem pesadelos, sem fantasmas.

*

   Abro meus olhos e o fecho rápido por conta da luz do dia, aos poucos piscando fui me acostumando com a claridade, uma leve brisa entra pelas janelas junto com um cheiro de tabaco, me sento à cama me espreguiçando vendo a silhueta masculina atrás das cortinas. Levanto e caminho até a varanda do meu quarto vendo Carl escorado sobre a madeira, visto uma blusa de frio qualquer que acho sobre a cadeira e caminho a seu encontro, me jogo sobre a madeira aproveitando o silêncio vendo a visão linda do lago que tentei suicídio no dia anterior, o que me fez refletir muito sobre o que eu havia feito e se não fosse Carl, não quero nem pensar. Então o olho e a visão é perfeita, veste uma blusa do "Kiss" calças pretas e está descalços, a substância tóxica entre seus lábios enquanto solta a fumaça para longe, seus olhos estão cinzentos, sua boca inchada e vermelha e pelo incrível que pareça suas bochechas estão coradas.

  — Bom dia — a voz rouca grave e fria é ouvida com um eco sobre sua garganta, tiro meus olhos do rapaz para o lugar verde e cheio de água ao redor, solto o ar que não sabia que prendia e olho meus dedos compridos, pálidos e gélidos.
  — Bom dia Carl — minha voz sai trêmula, hoje o dia está muito gelado comparado com os outros, seu cigarro acaba e o mesmo pega outro, num ato rápido segurei-o a coragem foi num ápice embora depois que ele me olhou — deveria parar, lhe faz mal — o mesmo não tirou seu olhar de mim, apenas continuou com outro cigarro a mão e com a minha em cima da sua.
  — Não me importo Angel — onde estava aquele Carl sensível que vi há horas? Carl era o tipo que "aquilo aconteceu na hora, foi um momento de fraqueza e não vai voltar a acontecer Angel". Carl não gosta de demonstrar os sentimentos, não mostra emoção alguma e finge não se importar, talvez não se importe! Às vezes seu orgulho falha e não se importa de mostrar sua fraqueza, apenas quer chorar e curtir a tristeza o entendo de todas as formas, mas diferente dele, não tenho o orgulho tão forte a ponto de não falar que não tenho sentimentos para não parecer fraco ou de não aceitar a ajuda de alguém.
  — Vem, vamos comer — percebo que seu segundo cigarro já havia acabado que eu estava o olhando a bons minutos, que ele não havia percebido ou fingiu não perceber, eu parecia uma criança vendo algo pela primeira vez ou abismada por alguém esta a fazer coisas erradas.

Destinados - Um Começo Para O Fim - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora