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  Depois de muitos minutos já se via a rua pacata e aconchegante apenas no olhar e quando viramos à encruzilhada a casa amarelinha foi vista. Sinto o ar diferente de Londres, o sol acima da minha cabeça me queima os miolos e me faz soar igual uma porca, olhando no relógio são sete da noite. Respiro fundo e seguro na minha mala girando a maçaneta da porta, logo ela foi fechada, olho o rapaz alto atrás de mim e caminho até o sofá me sentando apoiando meus cotovelos nos joelhos, o barulho das chaves sendo jogadas na mesa de centro foi como um show, barulhento ao extremo fazendo meus tímpanos doer, essa dor de cabeça ainda me mata. Então me lembro de Daniel.
   — Mãe? — da cozinha Carl chamava por Elina. Essa é a primeira vez que o vejo a chamar de mãe. Não me lembro de se já o vi a chamar assim. — Faltam algumas semanas para começar as aulas, tem que fazer a sua matrícula para o próximo ano, pegar seus materiais e esperar para ir ao inferno.

   Nossa, suas palavras são as mais motivacionais e tranquilizantes possíveis. Deixou-me ainda mais assustada e nervosa, não quero ir à escola e encontrar babacas e o vendo falar desse jeito, melhora toda a minha alto estima.
   — Obrigado pela motivação! — Carl sorri e acena.
   — Tão tem de que — pisca antes de gritar pela mãe novamente. O que será que Carl faz na escola além de estudar? Será que depois das aulas continua em algum grupo? Sei lá, ele tem cara de ser um dos caras do time de futebol.

   Observo a janela a ver o céu azul sem nuvens e o sol radiante ainda, agora a rua não é tão silenciosa ou tão vazia. Carros de sorvetes estão nas calçadas, crianças correm e andam de triciclos junto aos pais, e outros brincam no pequeno parque que tem na frente da casa. Pego na minha pesada mala e subo as escadas em direção ao quarto que para mim, nunca será meu sempre estarei tentando tomar o lugar de Loren.

   Nunca irá sumir isso de mim, essa culpa por parecer que sempre que me olham sair desse quarto, lembram-se dela. Ao entrar e ver que está perfeitamente do jeito que deixei, suspiro fechando a porta atrás de mim. Deixo as malas de lado e me jogo na cama Daniel não está. Dispo minhas roupas sujas jogando no cesto de roupas e entro na casa de banho ligando o registro deixando que a água mais fria do que morna levasse as impurezas de meu corpo e a dor de cabeça junto, como Carl disse, faltava algumas semanas para as aulas e eu não estava nem um pouco preparada, nem fisicamente, nem psicologicamente. Às vezes eu sempre penso que seria como as garotas dos filmes de tevê, a popular. Mas eu era só a estranha. Desligo a água e me enrolo na toalha prendendo também meu cabelo numa menor. Ao sair do quarto já sinto o maravilhoso cheiro da comida de Carl e minha barriga protesta, ele está me ajudando, isso me incentiva a tentar contornar a minha mais nova inimiga talvez, a doença. Coloco uns calções pretos, umas t-shirt rosinha e seco meus cabelos jogando-os encima dos ombros. Caminho até a cama para desfazer uma metade da minha mala e quando me sento sobre o macio colchão vejo que ao meu lado tem dois livros. A culpa é das estrelas, um dos meus filmes preferidos e o Hobbit. Amava quando meu pai sempre trazia livros das viagens. Lembrando em livros. Pulei da cama e corri até o guarda fatos. Procurando o pequeno e tão amado por mim caderno azul. Volto à cama me jogando nem ligando para a minha tarefa anterior, só quis saber da caneta da minha mão e dos desabafos que preciso jogar para fora.

 "Querido diário, essas ferias tem sido um verdadeiro descontrole de sentimentos e emoções. Meus ataques de pânico voltaram e os pesadelos com minha mãe estão frequentes, tem sido bom e ruim. Um verdadeiro reboliço sinto que meus sentimentos estão atrapalhados. Quanto pela dor, pela minha doença, por meus sentimentos em geral contra mim. E por Carl, Carl, Carl, Carl. Eu sei que o sentimento que tenho por ele é forte. E não é aquele sentimento de amizade, quanto pelos olhares, quanto pela ajuda que é na verdade para está cada vez mais perto um do outro, mesmo às vezes não estando. Consegui criar certa confiança no Carl, me sinto segura ao seu lado de certa forma. Sei pelo pouco de maturidade que tenho que os beijos não foram de amizade e sei também que sente algo por mim. Mas por ser tão misterioso e discretos é difícil saber ao certo seus sentimentos. Conheci um Carl diferente nessas férias. Um lado gentil e doce. Aquele que se importou e ajudou aquele que chorou à noite porque não superou suas perdas. Permitiu-me e o permiti ver o nosso lado mais vulnerável e sempre que olhava naqueles olhos, via a batalha que trava contra seus sentimentos. Aqueles na qual sei que é a gentileza, a gentileza que vi no sorriso da foto com Loren. Nas palavras trocadas sobre o futuro de ambos, e as ações. Assim como sei que esse sentimento não é amizade. Sei que também não é bom e que a soma disso tudo é igual a um romance proibido, na qual estou apaixonada pelo filho da mulher que roubou o coração de meu pai e sei que devo pensar em Carl como o meu "irmão".

Estava sol às sete da noite, pelo simples fato dos dias em Londres no verão serem mais longos. Vão até às dez da noite. Vote e comente

Destinados - Um Começo Para O Fim - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora