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  Acordo com um barulho de algo quebrando, logo me levanto assustada, me sentindo tonta pelo ato rápido espero a sensação ruim passar, olho para a televisão ligada e vejo que já são mais das três da manhã, ao chegar à porta do meu quarto, ouço passos, seguro na maçaneta e mais um barulho me faz assustar, paro no começo da escada, se for um estranho? Minha dúvida é tirada quando ouço um barulho maior e as maldições soltas da boca se Carl me desperta.
  — Carl, meu Deus! — o chão está cheio de cacos ao redor dele, cortes estão pelos seus braços e está com uma aparecia horrível. Tento driblar os cacos e segura-lo pelo braço, não reclama da minha ajuda o que eu agradeço já que seria mais difícil, acredito eu, se ele estivesse relutante. Na minha tentativa de salvar sua vida, acabo cortando o pé, paro os passos, mas resisto à dor e continuo o levanto para longe do desastre, boa parte do seu peso está sobre mim, é muito pesado. Diz coisas que não entendo e está completamente rendido, paro um pouco e analiso o meu pé, atrás de mim, tem um rastro de sangue, quanto meu quanto dele. O ajudo a se levantar e subimos juntos os degraus, no seu quarto o jogo na cama e procuro por todo lado um kit de primeiro socorros, mas paro quando percebo que precisa de um banho primeiro. Eu não sei o que faço! Estou em choque ainda. Acendo as luzes do quarto e o sento na cama.
  — Angel — sua voz surge arrastada e olho em seu rosto, pálpebras vermelhas e olhos igualmente, o vermelhidão some com o seus olhos verdes, que estão cinzas e opacos. — Foi tudo minha culpa — chora, olhando seu estado começo a me apavorar, tiro sua blusa enquanto chora, soluços saindo da sua garganta e tosse logo em seguida — eu sou um idiota — agora tiro sua calça e observo que o sangue só vem de pequenas partes do seu corpo, o coturno protegeu seus pés, jogo para lá a roupa e o levanto com esforço. Ligo o chuveiro na água gelada e o olho. Agora seus olhos estão mais abertos, mas ainda inchados pelo choro, o cheiro da bebida está saindo dele aos poucos e ainda olhando em seus olhos sinto necessidade de me afastar. Fecho a porta atrás de mim e respiro fundo, me sento a sua cama abrindo a caixa de primeiro socorros e segurando uma pinça, do meu pé arranco um mínimo caco de vidro que brilha na luz avermelhado pelo meu sangue, coloco sobre o cinzeiro que achei, não sabia que fumava, enquanto está no banho decido descer e limpar toda aquela bagunça.

  Jogo os cacos fora e fecho o saco de lixo suspirando, a casa está num silêncio só, fecho a porta da frente e subo as escadas com um copo de leite morno e mel. Ao chegar, está colocando sua calça, pelo espelho percebo que nasce uma barba e que seus cabelos estão maiores que quando cheguei, está se formando uma outra fisionomia. Quando seus olhos se encontram com os meus abaixo meu olhar e entro no quarto deixando o copo sobre a cadeira, se senta, ou melhor, se joga a cama e suspira alto. Pego a caixa de primeiro socorros e começo a passar pomadas pelos seus pequenos cortes distribuídos. Entrego o copo de leite e toma tudo obediente, não se opõe a nada nem quando o deito e o cubro.
  — Angel — segura meu braço me impedindo de ir — você é muito bonita — meus olhos desviam para sua mão, um corte está ali vermelho e inchado. Um breve sorriso aparece e se vai e tiro sua mão do meu braço passando mais pomada.
  — Boa noite, Carl. — Se vira para o canto agarrando seu travesseiro, tiro os cacos de vidro da sua bota colocando sobre o cinzeiro, arrumo suas roupas e jogo-as no cesto, uma última olhada para ele e saio do seu quarto apagando a luz, fecho a porta e suspiro no meio da escuridão, caminho até meu quarto e me sento à cama, já sinto meu pé dolorido, respiro fundo e tenho tempo de refletir sobre o que acabou de acontecer. Foi culpa minha ou foi culpa dele? Qual foi o motivo da bebedeira? Por que chorou? Afasto todas as perguntas que não me cabem e deito na cama fria, puxo o lençol e espero que a quentura acalme meu corpo para um sono leve.

  Já faço o café quando ouço pegadas próximas, hoje o dia está frio e Carl veste um conjunto de moletom azul-marinho, assim que nossos olhos se cruzam sorrio para ele e por incrível que pareça ele retribui.
  — Bom dia — saúdo o mesmo que se se senta à mesa junto a mim.
  — Obrigado — o olho enquanto ponho café na sua xícara. — Por cuidar de mim ontem.
  — Me surpreende lembrar-se de alguma coisa.
  — Poucas — olho em seus olhos enquanto mordo a torrada — lembro-me do banho, dos curativos e... do boa noite — não lembra do elogio, apenas abano a cabeça e olho para o dia, sinto uma diferença aqui, mínima, mas sinto.

Destinados - Um Começo Para O Fim - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora