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   Olho para trás e me olha enquanto roda o dedo na sua latinha de cerveja, não desviou o olhar de mim em nenhum minuto, seu semblante sério e seu olhar fixado em mim me traz arrepios na pele e calafrios no estômago, o porquê de ele me olhar tanto eu não sei, mas chegou um ponto que seu olhar me assustou. Volto à atenção no que eu estava a fazer.
   — Carl — por que dirigir a palavra a ele é tão intimidante quanto o olhar? — pode pegar os pratos para mim, por favor? — ouço a cadeira atrás de mim se arrastar e na minha mente as palavras de Jeremian vieram:

"Animal de pequeno porte".

   Essas palavras não saiam da minha cabeça se repetia cada momento, Carl veio para perto de mim e esticou seus braços tirando dois pratos do armário, me entregando. O mesmo me olha nos olhos e toma a sua cerveja. Engulo em seco e tento manter a calma.
   — Obrigada — eu sei que estou corada pela nossa proximidade, mas é algo que eu não consigo evitar. O mesmo foi se aproximando e eu me sinto nervosa.
   — Por nada — sua voz rouca fez-me estremecer e me viro para o fogão desligando o mesmo, coloco tudo a mesa pronto e começamos a comer em silêncio, só o barulho dos talheres e a louça são ouvidos em toda a casa, fora dela tem um conjuntos de sons entre folhas de árvores, passarinhos, água e o vento.
   — Está gostoso — diz me tirando do transe e o olho a revirar seu grande prato de comida diferente do meu que contém salada — não vai comer? — seus olhos intercalam entre o prato de folhas e meus olhos.
   — Estou satisfeita com a salada — tem suas sobrancelhas franzidas, todavia ignorou totalmente colocando uma colher generosa a boca.

   Enquanto Carl estava em algum lugar na casa eu corria pelos corredores em direção ao meu quarto, assim que adentro o mesmo vou direto para a casa de banho e me encontro ajoelhada a colocar toda alface para o sanitário, as lágrimas escorrem dos meus olhos e minha garganta arde. Ouço dois toques na porta e então me recomponho lavando minha boca e dando descarga
   — Angel você está bem? — a voz rouca do outro lado da porta avisava preocupação.
   — Eu estou bem — digo e mais nada é ouvido. Abro a porta e o mesmo não está mais ali, tranco a do quarto e me jogo na cama. Me olho no espelho e engulo em seco afastando a visão de mim própria.

   Acordo e percebo que em meio aos meus pensamentos eu havia dormido, uma música calma é ouvida de algum lugar da casa, já está de noite e eu sinto minha barriga roncar. Suspiro e levanto da minha cama tentando ignorar o pedido constante da minha barriga por alimento, me aproximo do fundo do corredor vendo que a porta de Carl está aberta fico do lado da parede apenas ouvindo seus versos.

"Take me Home
Leave me alone in a far corner
Sing for me, take my hangover
But don't forget that as a dose I drank
Are of the drink of love
And only you can save me
Then kill me.
Get rid of your weight, if I die today
I die with love in my chest ".

   A voz de Carl é perfeita, parece se encaixar perfeitamente no tom calmo dos acordes do violão, mas uma coisa aconteceu no final, sua voz quebrou e eu ouvi um fungo, ele está a chorar? Para quem será a música? Ouço o barulho da cama a ranger e ando apressada para o segundo andar. Ando para a cozinha e logo ouço passos atrás de mim pego um copo de água reparando que em cima do balcão há quatro latinas de cerveja vazia, Carl adentra a cozinha e pega outra latinha na geladeira, desse modo ficará bêbado. O mesmo ignora totalmente a minha presença ali e sobe de novo para seu quarto, suspiro andando para o sofá aconchegante, espero que tenha algo bom passando na televisão.

  Já são mais de uma da manhã Carl já desceu e subiu umas vinte e cinco vezes essas escadas, me pergunto se ele não cansa. O mesmo desce e parecia devastado, seus olhos estão num tom vermelho como se andou a chorar, está sem blusa e descalços. Entra e sai da cozinha com mais uma cerveja e decido que não veria mais aquilo por mais que já seja tarde de mais para impedi-lo de ficar embriagado, pois o mesmo já o está.
   — Carl me dá essa latinha — cambaleia para trás a por a mão na cabeça.
   — Não grita — diz.
   — Não estou a gritar, agora me devolve essa latinha.
   — Não, não mandas em mim — as palavras saem arrastadas e quando tento tirar a latinha de sua mão recebo um empurrão me fazendo tropeçar em meus pés e cair de bunda no chão — cuida da sua vida — altera a voz logo seguida de duas mãos nos ouvidos e uma cara feia tentando subir as escadas enquanto segura nas paredes.

Destinados - Um Começo Para O Fim - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora