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  Olhando a comida não sei se como, sinto um nó na garganta, a comida da minha boca não desce, tento engolir e acabo me engasgando. Tomo um pouco de água e resolvo guardar a comida para não desperdiçar, subo para meu quarto evitando olhar para o de Carl, não sei se Elina ouviu nossa conversa a minutos atrás, se ouviu está trancada no quarto, faço o mesmo me tranco no meu e sento na cama, péssima ideia. O espelho não me ajuda, meus ombros parecem largos demais e minhas coxas estão vazando gordura pelos calções, viro para a parede ignorando a minha culpa por ter comido, quase nem comi a comida nem desceu! Respiro fundo engolindo a saliva que se ajunta na minha boca, corro para o banheiro e jogo para fora o que quer que seja que tinha dentro de mim. Ao terminar me sento no chão me encostando na parede, choro, pois fazia dias que eu não vomitava depois de uma refeição.

   Depois de um tempo no quarto sem nada para fazer e não querendo encontrar com Carl eu decidi sair, da uma volta, ir na escola ou pegar a matéria que havia perdido esses dois dias. Liguei para Fernanda e combinamos de nos encontrar na escola para ela me passar o que eu havia perdido, então ao sair do quarto vi o de Carl aberto, cheiro de perfume por todos os lados, ele também havia saído, não quis perturbar Elina então sai sem dizer nada.

   A tarde com Fernanda foi incrivelmente necessária, tudo o que era de negativo em mim saiu em risadas e fofocas sobre filmes e famosos.
  — Você vai amanhã? — paramos em frente a sua casa.
   — Sim, não posso me dá o luxo de faltar mais de dois dias — rimos juntas.
   — Então até amanhã Ang — sorri para ela e se foi, seguro os livros para mim e observo o relógio de pulso, são quase seis da noite.

     Quando chego em casa, sinto o forte cheiro de tempero e já sabia que Daniel se encontra, não faço questão de ir até eles, não quero olha-lo ainda. Ouço a voz de Elina aos cochichos na cozinha, mas não me importo de os avisar que havia chegado. Dentro do quarto me jogo a cama e tento ignorar o desconforto que sinto no estômago, não há apetite, apenas tiro meus sapatos e viro para o canto da cama. Durante o começo da noite passei em meu quarto, ouvi a voz de Daniel me chamar para jantar, mas não havia nenhum apetite, Carl não apareceu desde a nossa briga e agora estou no banheiro a tomar um banho para tentar relaxar meus pensamentos. Seguro em meus cabelos e quando tiro minha mãos das madeixas castanhas quase negras, percebo o tufo de fios que há entre os magros membros. Balanço automaticamente minha cabeça negativamente jogando os cabelos ao chão, por algum motivo que não seja sentimental ou psicológico, deixo cair uma lágrima. Não sei porque choro, mas sabia que precisa sair tudo o que tem dentro de mim. Saio e são exatamente nove horas, no meu celular tem uma mensagem, é Miguel! Me chama para ir ao Coffee, sorri, penso em recusar, inventar uma mentira, dizer estar com dor, mas não o faço, marco com ele para daqui meia hora e então começo a me arrumar.

   Ao sair do quarto já chega a hora de sair com o garoto dos cabelos negros, visto uma calça marrom claro, com uma t-shirt comum branca, umas botas aos pés e acompanhado a minha blusa branca, havia uma jaqueta preta. Desço as escadas para ver Elina e Daniel jogar damas na sala, tento passar despercebida, porém lembro que quem me criou é alguém perceptível.
   — Onde pensa que vai as escondidas? — ouvindo sua voz, viro entre meus calcanhares e o encaro com minhas mãos no bolso, está pronto para arruinar minha noite.
   — Irei sair com Miguel — os dois pareciam pensativos, na verdade, Elina tinha um ar brincalhão no olhar, meu pai, já era algo como:
   — Seu namoradinho? — solto uma pequena risada.
   — Um amigo da escola — digo — iremos sair e volto cedo. Notícias de Carl? — Olho para a mulher.
   — Não ligou, não veio para casa hora alguma — torceu os lábios.
   — Ok — suspiro — eu tenho que ir.
   — Às onze te quero aqui — Daniel se pronuncia.
   — Com certeza antes das onze estarei aqui — sorri segurando a maçaneta da porta a minha frente, deixando meu corpo sair do ambiente quente para um ambiente gelado e escuro agora. Encaro o céu estrelado e antes que eu possa dar mais um passo, ouço um assovio e observo a rua para achar o dono do som.
   — Vamos? — me assusto com a presença repentina de Miguel ao meu lado e suspiro o ar dos meus pulmões.
   — Sim — sorri para ele que me mostrou seu braço para eu o rodear com os meus. Seguro no garoto ao meu lado e iniciamos uma conversa até o Coffee...

Destinados - Um Começo Para O Fim - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora