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   Sabendo que não voltaria a dormir me levanto tirando o pouco da preguiça que ainda tem no corpo, vou direto ao banheiro jogar uma água fria em mim e me preparar para o café, não sei se tenho a coragem de olhar em seus olhos, não sou tão segura quanto ele, aliás, isso tudo é novo para mim, desde que pisei na sua casa e o encontrei está com ele é novo. Descendo as escadas vou direto a cozinha preparar chá e torradas, abro a porta e recebo a brisa da floresta no meu rosto fazendo meus cabelos voarem, inspiro o ar puro e logo o solto, olhando esse cenário eu sinto vontade de chorar, não sei porque, talvez meu psicológico soubesse! Talvez eu precisasse desabafar e como eu não sei e nem tenho Lucas para isso mais, meu corpo está jogando as mágoas para fora através das lágrimas. Tomo uma respiração profunda e saio de frente da porta assim que ouço a água borbulhar. Na cozinha me dou de frente com Carl que não tem a cara boa, parece que não dormiu bem à noite, seria certo dá bom dia? Sento-me a frente do rapaz saboreando a única coisa que eu conseguia comer, o olho vendo que seus olhos queimando em mim e desvio o olhar, é intimidante e misterioso, observador e desconfiado de algo, vejo que balançou a cabeça de um lado para o outro em negação e se serviu do café, não gosta de chá e gravei isso muito bem na minha cabeça — da próxima vez eu faço café — o corpo se levanta e vai à sala, não temos nada a fazer e estamos há apenas alguns dias aqui, seria um mês completo de tédio até quando? O pior é que eu nunca me socializei, não sei o que amigos fazem para se distrair, somos amigos? Não! É triste, mas não posso enganar a mim mesma. Carl revira a Netflix a procura de algo que não encontra, ouço um suspiro derrotado do mesmo e percebo que me encara.
   — O que você gosta de assistir? — seus olhos verdes se direciona ao meu onde eu me perdi por alguns minutos.
   — Friends — o mesmo logo se virou para a televisão, eu não sabia se era o que gostava, mas não reclamou apenas assistiu comigo. Passamos o dia assim, choveu, fez sol e agora é noite, Carl já havia sumido da sala, e eu agora estava a subir para o meu quarto, me sento à cama pegando meu diário, sabia que não tinha nada a escrever, não tinha livros para ler então, por que não ler meu diário e ver se meus relatos mudou em alguma coisa ou se estou mais deprimida que antes.

   No dia seguinte eu e Carl preparávamos juntos o almoço, nenhuma palavra dita apenas o cantar dos passarinhos, é mais intimidante está no silêncio do que falar com ele, me sentia tensa quando me pegava a ser observada pelo mesmo, quando o que eu mais odiava era atenção e com ele, é algo totalmente diferente, me dava uma vibração diferente — intimidação total — fazia por que queria?
   — Angel — o encaro, sobrancelhas franzidas e olhos cerrados — por que você não come? — tão natural, enquanto eu me sinto nervosa no mesmo momento, o coração na garganta procurava uma resposta rápida. — Isso não é dieta — por que se importa?
   — É sim, e-e eu como sim — me viro de costas ouvindo seu suspiro. Bato-me por gaguejar cada palavra, inútil não sabe nem disfarçar!
   — Você sempre está na minha presença e nunca come — segura meu braço, o olho e sinto raiva e sem pensar puxo meu braço e me afasto.
   — Cuida da sua vida! — subo as escadas o deixando.

  Entro no quarto fechando a porta e me jogando na cama, prendo o travesseiro no meu rosto e grito com todas as minhas forças, choro, choro e choro por um tempo até me recompor. Olho para mim mesma no espelho e logo afasto meu olhar, não quero me ver, não quero ver o que tem no espelho. Encaro minha bolsa, corro até ela segundo uma foto velha em meio o diário, mamãe, a única coisa que mantém minha memória viva, nem mesmo lembro da sua voz e tenho medo dessa foto desbotar por completo e eu não me lembrar mais. Jogo-a para o meu lado e me olho novamente no espelho. Minhas bochechas estão enormes, vermelhas e molhadas e sinto meu estômago protestar, num ato de ódio me levanto e o primeiro golpe vem, bem abaixo da costela.
  — Você é ridícula — um, dois e três golpes e puxo o ar com força puxando meus cabelos — você a matou! — jogo os cabelos presos nos meus dedos ao chão — assassina!

Destinados - Um Começo Para O Fim - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora