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   Enquanto retorno da volta que dei no lugar deserto, passo pelo quarto de Carl e ouço uma simples frase que me faz pensar muito "Angel não conhece nada daqui e você sabe, eu não gosto de sair em companhia". Então ele só está fingindo ser legal comigo? Carl não gosta da minha companhia? Mas a quem quero mentir? Está na cara que Carl não gosta de mim, até porque ele sempre demonstrou isso, eu que fui ingênua, em pensar que havia um Carl que eu não conheci ali dentro, talvez, mas só talvez ele foi legal por pena ou porque estava vulnerável.

   Fui boba, boba, em pedir sua ajuda, eu sou uma tola, não consigo fazer nada só, fui tão burra em mostrar minha fraqueza a ele. Carl nunca quis me ajudar, foi apenas pena, pena de mim. Entro no meu quarto e deito a cama, encaro o teto e deixo com que os pensamentos tomem conta de mim. Penso porque todos são assim comigo, cheio de pensamentos de ajuda, mas no final das contas não ajudam ninguém, só ajudam a magoar mais, Carl mentiu sobre falar como eu sabia que ele se sentia porque na verdade eu nem o conheço assim como ele não me conhece.

   No fundo dos meus pensamentos veio uma música, uma música muito conhecida por mim e não passa na minha cabeça, está a passar na casa, é a mesma música que minha mãe colocava para eu ouvir com ela, vários pensamentos alguns vagos vieram a minha mente. Ao som de Bohemian Rhapsody do Queen, os meus pensamentos automaticamente receberam uma trilha sonora, meus olhos encheram d'água e cravo minhas unhas na carne das palmas das minhas mãos, com a atitude tento afastar os pensamentos que estão me fazendo a ter talvez uma crise de pânico.

   As más lembranças da noite do acidente são as únicas que estão frescas na minha memória, o rosto de minha mãe eu não via mais, apenas era memorável pelas fotos, porém, sua voz não era mais ouvida nos meus pensamentos, seria tão fácil se eu estivesse no lugar dela, não traria esse peso para meu pai e nem tinha que aturar os olhares de desprezo ou até de dó. Não quero que sintam dó de mim nem que me ajudem porque é obrigação. Percebo que agora não é a tristeza que me domina, é a raiva talvez o ódio. Toques na minha porta foram ouvidos, mas eu não atendi, espero não descer daqui nem tão cedo. O material de madeira foi aberto, e eu me bato mentalmente por não o ter trancado, enxugo as lágrimas com rapidez e a luz é acesa.
   — Voltaremos a Londres daqui a três dias — três dias? Por que não agora? Por que não hoje? Estou cansada de ficar aqui sem fazer nada, mas só se passaram duas semanas! — Tudo bem? — não Carl, não há nada bem, quero muito, muito te bater.
   — Sim — porém, esqueci que sou inútil, me perdoa? O que estou falando? Angústia é o que estou sentindo, um vazio enorme no meu peito, meu coração está acelerado, Carl fala algo. Por que ele está gritando? Não briga comigo — Por que está brigando comigo? — tudo se fecha ao meu redor e o ar falta, fico agoniada e começo a me espernear, Carl tenta me segurar mais eu impeço, o afasto de mim, se afaste de mim, e quando me toca começo a me espernear, não me toque. Então ele segura meus pulsos e grita comigo. Medo, eu estou com medo.

Carl

   Seguro seus pulsos para que fique perto de mim, mas não entendo porque chora, seu rosto está vermelho, me olha assustada, suas unhas gravadas sobre as palmas de suas mãos e quando pergunto se está bem, chora.
   — Não grita comigo — num fio de voz começa a se espernear e eu não sei o que faço, olha para um lado e para o outro e de repente solta um grito, a olho, pois não sei o que eu posso a fazer, ela não deixa que eu chegue perto, então parou. Encarou-me e estamos numa distância de dez centímetros, seu olhar está tortuoso me encara com medo, chora, olhos vermelhos e bochechas molhadas.
Ficamos assim por trinta segundos seguidos antes de deitar e se encolher. Levanto, mas antes que pudesse pensar em sair, mãos quentes me seguraram.
   — F-Fica aqui — queria mesmo minha companhia? Há minutos rejeitou a mim. Chora encolhida sobre a cama, acabou de ter uma crise de ansiedade? Um ataque de pânico? O que a fez ter isso? A machucaram tanto para ter tantos problemas psicológicos, é uma menina tão quebrada, talvez tão quebrada quanto eu.

Destinados - Um Começo Para O Fim - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora