~75~

319 28 0
                                    

  Angel

  Ando rápido para conseguir chegar logo no apartamento, vai chover e quero estar em casa. Com algumas sacolas na mão para me manter durante os dois dias, entro para o hall em um pulo ouvindo a voz de Júlio.
  — Menina está bem? — acredito que a pequena risada que sai de mim, é de nervoso.
  — Está com uma cara de chuva, e vai chover com certeza — caminho até ele.
  — Tem um rapaz a sua espera no seu apartamento — meu coração subiu a garganta, como ele deixou?
  — Deixou subir? — parecia confuso e culpado.
  — E-Eu o conhecia, o vi com seu pai, por isso deixei — Carl? Não é possível.
  — Ah! Sei quem é, obrigada — aperto o botão três vezes para meu andar, se não for Carl, também não sei quem poderá ser. Caminho entre corredores o máximo que consigo com essas botas, na frente da porta respiro fundo, quando giro a maçaneta sinto seu cheiro, então meus ombros relaxam. O vejo sentado no sofá, com um rolinho de papel nas mãos, a cheirar uma carreira de droga, agora estou vendo com meus próprios olhos, não é mais uma superstição.
  — Carl? — finjo não o ver, por mais que na minha esteja formulada várias perguntas, eu não vou trazer esse assunto agora, talvez não tenha coragem para tal. Ouço o fungar do seu nariz, e ainda de costas observo pelo espelho que limpa a roupa e o rosto, me viro notando os olhos vermelhos e o nariz. Está ingerindo novamente a causadora da sua overdose, prometeu a Elina nunca mais tocar nessa substância, até então para nós, não era um vício, pois, segundo ele, foi à primeira vez, mas parece que não, e parece que o médico também escondeu isso de nós ou foi realmente sua primeira vez e está se viciando.
  — Eu não aguentava mais ficar longe de você — me beija, tem um gosto esquisito na sua boca, não se descrever, não é droga, não sinto nada.
  — Como chegou aqui? E nossos pais? — sorriu para mim, seus olhos estão lagrimejados, não sei se é o efeito da droga, sei que seu estado não é nada bom.
  — Dei um jeito com Conan — eu não conseguia ficar feliz e o aproveitar, não depois do que eu vi, e de começar a pensar o que vai acontecer daqui pra frente.
  — Você sempre dá um jeito — o abraço, eu não quero que veja a tristeza em mim, queria ele aqui, mas agora, nem sei mais o que eu estou sentindo.
  — Está tudo bem? — não me desprendo do abraço, não até eu segurar bem as lagrimas e não parecer chorosa. Ouço um trovão, as luzes piscam, então me solto dele e viro de costas segurando as sacolas.
  — Por que não estaria? Vou preparar um lanche para irmos dormir, está tarde — deixo tudo à mesa.
  — O que fez hoje pelo dia? — me viro para ele, está observando os quadros.
  — Fui conversar com um advogado — me olha franzindo as sobrancelhas — perguntar se como filha do dono da galeria, eu poderia abrir ou ter um acesso. Ele disse que não, as ordens do meu pai foram claras, sem aluguel, sem interessados, nem mesmo a filha dele poderia entrar.
  — O que pensa em fazer então? — senta ao meu lado enquanto tiro os hambúrgueres das embalagens.
  — Não posso fazer nada, só esperar a formatura daqui a sete meses — dou de ombros — e depois uma consulta com o médico especialista, para saber minhas condições.
  — Irá mesmo? — olho em seus olhos por alguns minutos.
  — Se quero ter uma faculdade certa, para assumir aquela galeria de um jeito, preciso estar curada — me levanto para por no micro-ondas nosso lanche.
  — Fico feliz por isso — o olho e sorri, mas não me olha, brinca com a embalagem do hambúrguer.

  Depois da nossa refeição, organizei o quarto para dormimos, a chuva estava intensa na janela, estava um clima bom para dormir e um friozinho ótimo. Dormimos e quando acordei no dia seguinte, ele ainda dormia, o sol batendo nos nossos pés, um ar fresco e cheiro de terra molhada, tomei um banho relaxante e agora faço o nosso pequeno-almoço.
  — Quero que me ajude em uma coisa — sua voz ecoa pela cozinha fazendo arrepiar os cabelos da minha nuca, o olho e desce as escadas, todo bagunçado, se tivesse um cabelo a mais ali, estaria todo desgrenhado.
  — Me diga — volto à atenção para os ovos e sinto seus braços pelo meu tronco, escorregando suas unhas pelo meu abdômen.
  — Depois do nosso café eu te digo o que preciso — viro para ele o abraçando.
  — Tudo bem — coloco a mesa nosso café e ele se senta junto a mim.
  — Vamos sair hoje? — Carl está animado e isso é muito bom.
  — Aonde quer ir? — faz biquinho e da de ombros.

  Subo as escadas depois de deixar tudo organizado no andar de baixo. Carl já está ao meu quarto provavelmente tomando um banho, entro separando um vestido para saímos. Acabo por optar por um vestido preto que combina com minha sapatilha igualmente preta. Entro no banheiro me olhando no espelho, não me vê, canta dentro do box todo embaçado pela fumaça, sorrio ouvindo a música e volto a me olhar, ontem foi uma das melhores noites que já tive, dormi rápido de tão cansada. Olhando meu semblante, percebo o quão bem farei a mim mesma se começar o tratamento, ponho na minha cabeça que não irei passar tanto tempo internada, quero muito iniciar a faculdade quanto antes. Desço para buscar meu celular e ao voltar para o quarto o encontro sentado na cama.
  — Carl? — não olha para mim, continua a passar seu dedo indicador sobre as suas supostas cicatrizes cobertas belas tatuagens — esta tudo bem? — vou para perto dele e passo minhas mãos nos seus cabelos a crescer.
  — Sim — me olha — é só que... mesmo tendo passado esse tempo, nunca mais voltarei aquele Carl que eu era.
  — Carl, quando amassamos um papel, ele nunca volta a ser como antes, não irá mudar o fato de ser um papel, mas ficara amassado com marcas — seguro seus braços — não irá voltar aquele Carl. Porque aquele Carl tinha aquilo que o fazia ser daquele jeito. Hoje ele não tem, é o que o faz ser assim e não ser o Carl antigo, a cada minuto mudamos, você não é mais o mesmo de ontem, e amanhã não será o mesmo de hoje. — Um pequeno sorriso desenhou seu rosto e suas mãos foram para dentro dos meus cabelos, os soltando para minhas costas, nos envolvemos em um beijo calmo cheio de sentimento.
  — O que eu faria sem você? — olho seu rosto inteiro.
  — Não posso responder sua pergunta por que não sei os benefícios que te trago — sorri e ouço sua gargalhada.
  — Eu te trouxe um presente — meu cenho franze e o encaro.
  — Não é dia especial — Carl se levanta e caminha até sua bolsa na poltrona do quarto e tira uma sacolinha rosa de lá.
  — Não precisa ser — sorri e volta até mim me entregando, disfarço da bolsa pegando o pacote de presente o abrindo para que visse do que se trata — nunca te vejo de vestidos então — tiro o lindo vestido branco com girassóis de dentro do pacote rosa e o olho.
  — É lindo! — observo os traços do tecido — obrigada — Carl caminha até a porta.
  — Vista, quero te levar a um lugar que tem muita coisa colorida — sorriu e saiu do quarto.
  — Não seria eu a levar você? — grito de volta não obtendo resposta alguma. Guardo o vestido preto que havia separado. Seguro no vestido delicado que me deu e me olho no espelho, acho que foi uma ótima escolha.

Destinados - Um Começo Para O Fim - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora