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  Sinto o cheiro da comida subir para o quarto, desde que saí da presença de Carl de manhã eu não saí da cama, chorei por horas seguidas. Meus olhos estão inchados não há mais lágrimas é apenas eu olhando para a pequena brecha que na porta havia, vendo a luz adentrar a mesma. Meus cabelos estão jogados pela cama, meu corpo encolhido e minha barriga doí, levanto devagar sentando na substância macia e levanto saindo o quarto. Ando pelos corredores a ver a luz do quarto de Carl acesa, vou até lá e ouço o barulho da água no banheiro e o cheiro masculino toma conta do lugar.

  Desço as escadas sentindo o cheiro delicioso mais forte, logo me sinto tonta, paro por alguns minutos, sentada nos degraus até recuperar a visão turva, eu só quero ter que acabar com tudo isso — eu só queria poder comer. Entro na cozinha vendo que tem dois pratos a mesa, sinto meus olhos marejarem ao ver as panelas no fogo, meus joelhos fraquejam e me arrasto até a mesa. Ouço a porta do andar de cima ser aberta e alguns passos na escada são ouvidos, eu não conseguia me mexer, não conseguia não olhar para minha frente à comida. Pelos cantos dos meus olhos vejo sua pessoa parada na beira da porta, Carl está apenas com umas calças cinza moletom de camisa branca e descalço.
  — Acordou — diz enquanto passa por mim, calmo, baixo e rouco. Minha barriga ronca e eu derrubo mais uma lágrima, me escondendo para não ver que choro à beira da mesa, por medo, medo de comer. Sirvo-me de batatas, cenouras e carne, há panquecas e eu gosto. Carl me olha sério, tem suas mãos na mesa e seu olhar está assustadoramente sério. Maxilar tenso e seus dedos estavam em nós brancos, balançou a cabeça negativamente.
   — Eu não entendo — diz, eu como calma desejando não ter que vomitar tudo, pois, estava muito bom. Engoli a comida limpando meus lábios e logo o olhando nos olhos.
  — N-não entende o que? — me olha imediatamente tirando os olhos da madeira da mesa, fez uma espécie de careta e respirou fundo.
  — Você não come — num fio de voz rouca e lá vamos nós de novo:
  — E eu não te entendo — disse e me surpreende o meu tom firme. Encaro bem seus olhos e sem prévia de desviar o contato, não fez perguntas, apenas manteve o olhar, sério e irritado. — Por que se importa? Há uma semana não falava comigo, me evitava e trocava palavras mínimas, de repente me ajuda, pergunta da minha vida e está preocupado se como ou não? — por que eu estava irritada? Eu deveria estar feliz, Carl está um pouco diferente comigo, está socializando, era isso que eu queria desde o início, uma relação estável com ele.
  — Não me preocupo, é apenas curiosidade, não troco palavras com você, porque não quero uma relação contigo, continuo o Carl de antes, palavras mínimas — diz a me olhar — é talvez eu esteja me preocupando, mas é comigo se você tiver um "troço" não quero que seu pai venha me culpar. — Doeram! Suas palavras doeram! Mas foram consequências das minhas palavras. O jantar seguiu em silêncio, Carl acabou rápido e logo sumiu da cozinha com duas latinhas de cerveja, por que simplesmente eu não poderia calar a boca e ficar quieta? Por que simplesmente ele descontava a raiva na bebida? Agora entendo por que nunca tive amigos, nunca os mereço, uma pessoa como eu não merece nada, sou uma assassina, eu só merecia isso em troca, a morte.

  Termino de lavar os pratos e caminho para meu quarto depois de trancar a porta e apagar as luzes, subo e me tranco ali, ouço passos e logo a porta da frente é batida, caminho até a janela e vejo Carl a andar a caminho da pequena escada de pedra, iria sair, iria sair às onze da noite teria coragem de me deixar sozinha no meio do nada! Olho tudo em volta num breu, ficarei aqui a só e se realmente acontecesse algo comigo? E se eu tivesse um ataque de pânico ou se aparecesse alguém? Respiro fundo, pois já sentia o ar faltar só de pensar de alguém invadir isso, por que Carl me deixou aqui sozinha? Droga! Sento-me a cama e tento controlar a respiração, mas o ar do quarto se torna abafado, abro as janelas e ponho a minha cabeça para fora atrás do ar, é só ficar quieta e fingir que não estou só, é impossível, fecho as cortinas e me deito à cama assistindo qualquer programação na tevê que me faça esquecer tudo.

Destinados - Um Começo Para O Fim - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora