Angel
Nunca deixou de ser desconfortável, ainda doía e Carl respeitava isso com leves movimentos, aos poucos algo se misturava com a dor enquanto os movimentos iam aumentando, mas nunca deixou de ser desconfortável. A mistura entre o prazer e dor, tentei me concentrar nos movimentos, no que entrava e saia de mim, na sua mão a vagar pelo meu corpo, me concentrar nos seus olhos me olhando e pensar no perigo. Mas ao pensar na palavra 'perigo' eu fechei os olhos e o beijei, eu queria só esquecer tudo e sentir, pois, eu já sabia que depois viria uma chuva de pensamentos e de coisas que me faria provavelmente chorar. Então eu aproveitei cada momento, cada carícia, cada beijo, cada gemido. Aproveitei tudo...
Deitados, Carl olha para o teto, corríamos perigo de Elina e Daniel chegarem, mas, mesmo assim estávamos a curtir um ao outro, acabei de fazer uma coisa que não sei se me sinto bem ou mal.
— Quando irá para Manchester? — seus dedos vagam pelas minhas costas e enrolam meu cabelo às vezes.
— Amanhã, depois da escola. Passarei o fim de semana por lá.
— Ficarei dois dias sem te ver? — encaro o menino que me olha de sobrancelhas erguidas.
— É muito para você? — Carl respira fundo e olha para o teto. Alguma coisa pensa, pois, seu semblante muda rapidamente.
— Sim — sua voz sai grave, e seus olhos parecem vazios.
— Carl? — tento mudar de assunto — eu tenho medo de não conseguir a cura para minha doença.
— Bulimia é um tipo de doença difícil de alcançar a cura e anorexia leva alguns anos, dois dependendo do grau. — Suspiro massageando sua mão.
— Se eu não estiver com Bulimia?
— Só um especialista sabe dizer se você tem ou não.
— Mas tenho medo das terapias.
— Tem medo da sua cura? — não pude evitar soltar uma pequena risada de nervoso — se quer tanto uma vida normal, deve tentar, vai haver recaídas, mas você vai conseguir. Angel você é uma mulher forte, e eu. Vou sempre estar aqui — olho em seus olhos e sorri, retribuo.
— Obrigada.
— Quero lhe fazer um pedido — me sento na cama e o olho. — Você precisa de ajuda profissional, promete que irá tentar?
— Para eu ter ajuda profissional, preciso primeiro me ajudar. Não foi isso que você me disse? Que para eu ser ajudada, preciso querer a ajuda? — deixo meus dedos para olhar seus olhos.
— Me diga apenas se promete!
— Sim Carl. Prometo procurar ajuda profissional.Depois do meu banho Carl havia ido para seu quarto. Me arrumei e atravessei o corredor. Ouço a porta da frente bater e a risada de Elina enche a casa — se soubessem que eram os nossos gemidos que preenchiam antes — bato a porta de Carl e a mesma se abre, está sobre a cama com remédios a mãos.
— Está com dor? — entro e não me olha.
— A dor é na alma — me encara finalmente. Carl bate na cama e deixo a porta aberta por conta de nossos pais. — Fui diagnosticado com bipolaridade há seis anos. O médico disse que isso ainda não tem uma causa específica. Através da minha bipolaridade veio a depressão e hipomania.
— Me explica o que significa — passo minha língua entre meus lábios o deixando úmido e me sento melhor enquanto seus olhos ainda estão no remédio.
— Hipomania vamos se dizer que é o meu momento de glória. É o que passo com você — me olha — estou alegre, sorrindo, motivado para tudo e inspirado. Alguns dias ou meses depois estou na depressão, querendo tudo que me faça bem, como sexo. Caído, tendo recaídas, não estou animado para saímos nem nada, não pinto e nem fotografo. Apenas quero estar no meu lugar.
— O que isso tem a ver com sexo?
— Fui diagnosticado com o tipo dois. Minhas mudanças de humor são mais sutis. Eu não atinjo meu nível máximo de mania, tenho mais disposição para tudo, mas não quer dizer que eu não tenha depressão. Entende? Por conta do transtorno não durmo direito, não tenho controle do meu temperamento. O sexo vem com a necessidade de me sentir melhor, de relaxar. De deixar toda tensão de lado, por isso muitas vezes pessoas com bipolaridade procuram sempre ter sexo. Comer muito, abusar da bebida ou drogas. Isso é a tão conhecida. Recaída — Carl tira um dos remédios do resíduo. — Não tem cura — joga a sua boca e bebe a água do copo, enquanto vejo que despeja o líquido pela sua garganta começo a pensar em como isso é desgastante, imagino como ele deve se sentir, mas não sinto o que ele deve sentir.
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Destinados - Um Começo Para O Fim - Livro 1
RomanceUma menina apaixonada pela arte, ama ler e adora se perder em universos de personagens fictícios. Espalha gentileza por onde passa, mas o que as pessoas não sabem é que por trás de cada sorriso existe um lágrima pesada, de culpa e de medo. Angel per...